A superação da mais forte crise econômica da história deve encontrar o Estado de Goiás pronto para deslanchar

Manutenção de rodovias em boas condições é uma das estratégais do governo estadual para alavancar José Eliton | Divulgação

Afonso Lopes

A travessia administrativa dos piores momentos da mais forte crise na economia brasileira em todos os tempos não foi fácil. De imediato, ainda às vésperas de 2015, o governo implantou uma série de medidas visando a restrição de despesas. No início de 2016, um novo pacote aperfeiçoou o modelo de contenção de gastos. O resultado desse esforço, que de certa forma atingiu a popularidade do governador Marconi Perillo, pode começar a dar bons frutos agora. A recessão ainda dá sinais, mas parece estar no final. Se não acontecer nenhum tranco negativo generalizado, é considerado pelos economistas que 2017 vai representar historicamente o início da retomada do crescimento da economia.

No início da semana passada, o governador Marconi Perillo destilou seu otimismo. Ele anunciou um pacote de investimentos que alcança a casa dos R$ 3 bilhões. É o bastante para mudar completamente a fisionomia da administração, e fomentar ainda mais a recuperação estadual.

Diferença
Olhando para o quadro estadual é impressionante a diferença. Enquanto o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais sobrevivem sabe-se lá de que jeito, em Goiás os indicativos são de investimentos. Mas por que isso está acontecendo? Exatamente por causa das medidas impopulares, porém imprescindíveis que foram adotadas na primeira metade do atual mandato. Marconi usou toda a sua experiência para suportar a crise com paciência, e agora deve começar a respirar muito mais aliviado.

Parte dos recursos a serem investidos vem da privatização da Celg. Outro montante será resultado da reestruturação do pagamento das dívidas de todos os Estados com a União.
O governo quer investir na capacidade estadual de competitividade e manutenção de rodovias estaduais, o que favorece o escoamento das safras agrícolas, um dos setores mais importantes da economia goiana. Além desse conjunto, vai finalizar obras que precisaram ser paralisadas no auge da crise.

Politicamente, essa notícia não deve ter agradado os principais opositores do governo. Se na crise era fácil entoar discursos para o eleitorado, agora será necessário elaborar propostas. Essa é sempre uma grande dificuldade dentro da oposição. Normalmente, as críticas contra o grupo que governa o Estado é fulanizada demais para surtir efeito prático nas eleições com o retorno da atividade econômica plena. Mais além, o governador Marconi Perillo não será candidato ao governo. Ou seja, a carga oposicionista geralmente endereçada a ele durante todos esses anos será inútil na disputa pelo comando do Palácio das Esmeraldas.

Divisão
A oposição se anima com a possibilidade de a ausência de Marconi favorecer a divisão da base aliada governista. É claro que isso é uma possibilidade, mas neste momento seria muito mais prudente acreditar em divisão nas oposições. Por sinal, essa divisão existe dentro do PMDB de forma bastante nítida. A anunciada candidatura do deputado federal Daniel Vilela ao governo do Estado tem mais inimigos internos do que externos. E não é uma situação cômoda, uma dissidência qualquer. Trata-se de ninguém menos que Iris Rezende, prefeito da capital e líder do grupamento peemedebista rival dos maguitistas. Iris prefere ver o PMDB como caudatário da candidatura do democrata Ronaldo Caiado do que aceitar e se engajar em torno de Daniel Vilela.

Por enquanto, a base aliada permanece unida. A única voz importante que ensaia cantar em outra freguesia é o PSD de Vilmar Rocha. Ele, por exemplo, admite até conversar com o PMDB. Ainda assim, não é uma unanimidade dentro do partido. Mais do que isso, com qual PMDB ele topa bater papo: com o PMDB maguitista ou com o PMDB pró-Caiado? Ou seja, as coisas não são assim tão simples.

O nome previamente colocado para a sucessão de Marconi dentro da base é o de José Eliton, vice-governador hoje, mas que será governador no ano que vem. Essa condição o torna completamente dependente do desempenho do governo. Se as coisas deslancharem pra valer, suas chances de vencer as eleições se multiplicam. Se, ao contrário, os planos atuais de investimento e retomada do crescimento da economia se frustrarem, é claro que o preço recairá sobre a candidatura dele. Nessa situação, até o discurso vazio da fulanização entoado pelos opositores vai surtir algum efeito. Isso, porém, só vai ser visto de perto dentro de pelo menos um ano. Até lá, cada um trabalha politicamente para consolidar espaços. l