Goiás completa três anos livre do novo cangaço
05 junho 2022 às 00h00
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Estado teve 75% menos crimes contra o patrimônio em 2021 do que em 2018 – a melhora da taxa é quatro vezes maior do que a da média nacional
Em Goiás, o número de crimes contra o patrimônio (roubos a transeuntes, veículos, transportes públicos, comércios, residência e furto de veículos) caiu em quase 75% no período de 2018 a 2021. No estado, a redução da taxa foi quatro vezes maior do que a média nacional. No total, foram 81,9 mil crimes dessa categoria registrados em 2018 e 21,7 mil em 2021. O número de crimes violentos também caiu expressivamente no período de 2018 a 2021: a redução média na taxa de homicídios no Brasil foi de 22,1%; em Goiás, a variação foi de -16,9%.
Segundo especialistas, a principal razão para a melhora dos índices foi a pandemia. O período de isolamento reduziu os valores em circulação e as oportunidades para crimes violentos. Com a flexibilização das medidas de combate à Covid-19, as taxas já começam a subir novamente. Até este momento de 2022, em comparação com o mesmo período em 2021, já se percebe aumento de 5% nas mortes violentas.
Fontes dos dados
O Atlas da Violência é um relatório produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) que retrata anualmente os índices de violência no Brasil a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. As estatísticas para crimes contra o patrimônio vêm do Ministério da Justiça e Segurança Pública (SENASP/MJSP), a partir do sistema RAI, e do FBSP.
O Coronel Renato Brum, secretário de segurança pública do Estado de Goiás, afirma que, além da pandemia, ações da Secretaria de Segurança Pública (SSP) contribuíram para a redução acima da média dos crimes no território. Ele destaca a integração dos setores de inteligência das polícias, a autonomia das corporações e o investimento nos batalhões e delegacias de combate aos crimes rurais.
“Antes de 2019, a preocupação era apenas com a zona urbana. Então, foram criados o Comando de Operações de Divisas (Cod), o Batalhão Rural e foi fortalecido o Batalhão Ambiental”, enumera o secretário. “Como resultado, estamos batendo recordes de recuperação de defensivo agrícolas e gado roubado, além de inibir crimes violentos fora das cidades”.
O planejamento estratégico, modernização do equipamento e investimento em inteligência também ajudam a explicar os bons resultados. “Sempre houve uma defesa do compartilhamento de informações entre as polícias civil, militar, federal, judiciária. Mas, até há pouco tempo, isso era apenas discurso. Hoje, de fato, trocamos informações. Deixamos de fazer um policiamento difuso e passamos a focar nos grandes narcotraficantes e receptadores do estado. Planejamos nossa atuação via manchas criminais, enquanto, antes, eram frequentes ações sem um planejamento maior.”
Renato Brum está há dois meses à frente da pasta, mas já atua há 31 anos na Polícia Militar e foi secretário geral da PM desde o início do governo de Ronaldo Caiado (UNIÃO). Ele afirma que, por isso, não teve dificuldades para se inteirar dos desafios da segurança pública. Para o coronel, o principal objetivo a ser atingido é traduzir a melhora nos índices em sensação de segurança.
“Parte dos benefícios não são sentidos imediatamente pela população”, comenta Renato Brum. “A elucidação de crimes, as grandes apreensões de drogas nas estradas, o melhor controle carcerário pela polícia penal – tudo isso leva tempo para se converter em sensação de segurança.”
Novo cangaço
No dia 01 de junho, a SSP promoveu no município de Porangatu um exercício simulado de ataque à instituição de transporte de valores. No mês anterior, foram dois treinamentos ensaiados a ataques de instituições financeiras. As preparações replicam a modalidade criminosa que ficou conhecida como “novo cangaço” – assaltos a instituições financeiras de pequenas cidades feitas por quadrilhas com ações coordenadas e estudadas.
“Geralmente, no novo cangaço, temos um bando que atua rápida e agressivamente, além de muito preparado”, comenta Renato Brum. “Por isso, temos de estar bem preparados também”. A última ocorrência dessa modalidade de crime em Goiás foi em 2019 – sendo que em 2017 houve uma onda de arrombamentos de caixas eletrônicos. Desde então, diversos planejamentos foram previstas, investigados e as tentativas foram frustradas, segundo o comandante Brum. “Em 2018 começamos a agir em parceria com o setor de vigilância das instituições financeiras; além disso, colocamos unidades especializadas para combater o novo cangaço em todo o interior.”
Em dezembro de 2021, uma ação da Polícia Militar resultou na desarticulação de um roubo a agência bancária em Nova Crixás, região norte do estado. O grupo foi localizado em uma chácara do município de Araçu, a 70 quilômetros de Goiânia. Ao todo, oito indivíduos foram identificados. Eles estavam portando 10 armas de fogo, duas emulsões explosivas e três rádios comunicadores. Informações das equipes de inteligência da corporação apontaram que a quadrilha, oriunda de São Paulo, praticaria a modalidade criminosa “Novo Cangaço”.
Numa outra ação realizada em 2020, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), agentes do G.T.3 e Grupo Anti Roubos a Bancos (GAB/Deic), impediram o roubo à caixa eletrônico e a um banco na cidade de Crixás, no noroeste goiano. Com o grupo, que já vinha sendo investigado, os policiais apreenderam quatro armas de fogo, ferramentas usadas em arrombamentos e explosivos, objetos considerados como armamentos pesados.
Ataques recentes mostram que as ações estão mais planejadas e violentas, de acordo com as autoridades. Na madrugada de 30 de agosto de 2021, criminosos espalharam mais de 90 explosivos de alta tecnologia em Araçatuba (SP), fizeram moradores reféns e ainda usaram drones para monitorar a ação. Foi a maior quantidade de detonadores instalados em uma ação na história do país, segundo estudo elaborado pela Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança. O ataque foi apontado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública como o mais violento dos últimos dois anos no estado de São Paulo.
A ocorrência mais recente aconteceu no Paraná. Entre a noite de 17 de abril e a madrugada do dia 18, uma quadrilha com fuzis, sete veículos blindados e explosivos invadiu Guarapuava (PR), a 250 km de Curitiba. O grupo, que tinha como alvo uma transportadora de valores, atacou o batalhão da Polícia Militar. O cabo da PM, que estava dentro de uma viatura de saída da unidade, morreu ao ser atingido por um tiro na cabeça. Os ataques ao batalhão e à transportadora de valores foram simultâneos, segundo a polícia. A rodovia que dá acesso à cidade foi interditada pela quadrilha, que incendiou dois caminhões no local. Os criminosos deixaram a cidade sem levar nada.