Os deputados Delegado Waldir  e Vitor Hugo, ambos da bancada goiana do PSL, representam duas diferentes correntes dentro da mesma legenda

Deputados Vitor Hugo e Delegado Waldir | Foto: Colagem

Acontecerá, no dia 2 de fevereiro de 2021, a eleição da nova mesa diretora da Câmara dos Deputados. A eleição definirá os novos presidente, primeiro e segundo vice-presidente, quatro secretários e seus quatro suplentes. Cabe a esses cargos a direção dos trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da Casa pelos próximos dois anos. E são dois deputados federais goianos e do mesmo partido que devem ajudar a decidir quem serão os próximos nomes a ocupar a gestão da Casa.

Os deputados Delegado Waldir  e Vitor Hugo, ambos da bancada goiana do PSL, representam duas diferentes correntes dentro da mesma legenda. De um lado, Waldir, rompido com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) desde 2019 e que já chegou a chamar o chefe do Executivo de “vagabundo”, representando a ala bivarista – fiel ao presidente do PSL, Luciano Bivar.

Do outro, Vitor Hugo, integrante da ala bolsonarista, corrente de deputados dentro do PSL que, mesmo sem a presença do presidente da República, que saiu da legenda ainda em 2019, permanece fiel ao mandatário. E são justamente Waldir e Vitor Hugo que vivem um ‘bate-cabeça” dentro da Câmara no que tange à eleição da mesa diretora.

Isso, porque a bancada de deputado acabou ficando rachada entre os dois principais candidatos à presidência da Câmara: Baleia Rossi, do MDB, e Arthur Lira, do PP. Oficialmente, fazem parte do bloco Baleia-Maia, uma que vez que o emedebista é o candidato do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Dem), 11 partidos. São eles: PT, PSL, MDB, PSB, PSDB, DEM, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede.

Baleia Rossi e Arthur Lira são candidatos a presidente da Câmara Foto: Divulgação

Juntas, teoricamente, as siglas somam 261 parlamentares. No entanto, além de dissidentes de alguns partidos como Elmar Nascimento, do Dem, e Celso Sabino, do PSDB, que podem migrar para o bloco de Lira, está na mesa diretora uma lista com 32 assinaturas de deputados do PSL, organizada e apresentada pelo deputado Vitor Hugo, que pedem a saída do partido do bloco de Baleia-Maia e a entrada no bloco de Lira

O grande problema é que fazem parte dessa lista 17 parlamentares punidos pelo PSL por infidelidade partidária e que, portanto, estão suspensos. Na relação de parlamentares do PSL no site da Câmara dos Deputados é possível corroborar a suspensão. A legenda tem 53 deputados na Casa, mas o site está contabilizando 36.

A lista está em análise pela mesa diretora da Casa e, caso seja aceita, pode indicar uma reviravolta favorável a Lira, que recebeu, recentemente, o apoio da bancada evangélica da Câmara. Entretanto, para o “opositor” de Vitor Hugo dentro do próprio PSL, Delegado Waldir, além de não surtir efeito, uma vez que os deputados estão suspensos, a lista pode conduzir a uma expulsão definitiva dos parlamentares apoiadores de Lira da sigla.

PSL está com Baleia, garante Waldir

Em 2019, o PSL decidiu apoiar a candidatura de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara. O democrata foi eleito e o PSL acabou levando comissões importantes da Casa, como a 2ª vice-presidência, que ficou com o presidente do partido, Luciano Bivar, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que ficou com o deputado Felipe Francischini (atualmente líder do partido na Câmara), a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, que ficou com Léo Mota e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Credn, cuja presidência foi indicada pelo então líder, Delegado Waldir, ao filho do presidente Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro.

Ao Jornal Opção, o Waldir destaca que o PSL levou grandes “fatias” na eleição da mesa diretora de 2019, que contou, inclusive, com a candidatura de Arthur Lira. Agora, segundo o parlamentar, a legenda continuará ao lado de Maia e seu apoio está confirmado dentro do bloco de Baleia Rossi.

O parlamentar comparou a tentativa de Vitor Hugo de puxar a bancada do PSL para o bloco de Lira à anedota de “vender terreno na lua”, e lembrou do caso da criação do partido Aliança pelo Brasil, legenda prometida por Bolsonaro e seus aliados mas que não chegou a nascer. “Esse outro deputado de Goiás [se referindo a Vitor Hugo] está prometendo algo que não existe. Olha o Aliança. O Aliança existe? Não existe”, comentou.

Delegado Waldir, deputado do PSL | Foto: Divulgação

Ainda segundo o Delegado Waldir, a lista contendo as 32 assinaturas apresentada à mesa diretora, além de ser inválida, gerou pedidos para a expulsão dos parlamentes do partido que já estão suspensos e que decidiram apoiar Arthur Lira e não Baleia Rossi.

“Essa ação desses 17 deputados, liderados pelo deputado de Goiás, na verdade resultou em novas ações contra eles. Inclusive tem um pedido de expulsão desses 17 por infidelidade partidária. Eles foram notificados, têm direito de defesa e uma vez que a defesa não seja consistente, considerando que todos eles traíram o PSL nas eleições municipais, o partido vai estar expulsando e vai solicitar o mandato desses deputados”, declarou Waldir.

A reportagem do Jornal Opção tentou contato com o deputado Vitor Hugo, mas as ligações não foram atendidas.

Ainda sem definição

Em oposição àquelas que já aderiram a um dos dois blocos dos candidatos à presidência da Câmara, há aqueles cujos partidos ainda estão dialogando com os deputados para decidir quem irão apoiar.

É o caso do deputado federal José Nelto, do Podemos. Conforme o parlamentar, o partido vai se reunir no dia 20 de janeiro para discutir qual será o bloco escolhido. Nelto destaca que seguirá aquele que se proponha a pautar as demandas do partido, tais quais: aprovação da prisão em segunda instância, fim do foro privilegiado, extensão do auxílio emergencial de R$ 300 para mais 6 meses e abertura do sistema financeiro do país.

No entanto, segundo o deputado, “quem vai marcar as reuniões é a presidente do partido, Renata de abreu, e isso será tudo resolvido na última semana [antes da eleição da mesa]”.

O deputado Lucas Vergílio, do Solidaridade, é outro cujo partido ainda não declarou adesão a nenhum dos blocos. Segundo ele, sua legenda “tem um excelente relacionamento tanto com Arthur quanto com Baleia”, mas ainda não há nada definido.

“O Solidariedade irá se reunir na segunda-feira [18] para deliberar. Nosso presidente, o deputado Paulinho [da Força] é quem está conduzindo as tratativas”, afirmou.