Bilionário das carnes joga a toalha e a pergunta é: Iris esquecerá o que falou sobre ele e vai procurá-lo para compor a chapa majoritária?

Cezar Santos

Empresário Júnior Friboi desiste de continuar como pré-candidato do PMDB ao governo
Empresário Júnior Friboi desiste de continuar como pré-candidato do PMDB ao governo
Iris Rezende: agora sozinho no páreo, para mais uma candidatura ao governo goiano por seu partido
Iris Rezende: agora sozinho no páreo, para mais uma candidatura ao governo goiano por seu partido

Pelo retrospecto, deu o que já se esperava: mais um nome que poderia ser uma possível renovação no PMDB foi escanteado por uma máquina acostumada a incinerar qualquer pretensão de renovação no partido. Foi assim com Henrique Meirelles, em 2010. Foi assim com Vanderlan Cardoso, no ano passado. Foi sempre assim desde 1982. Nestas mais de três décadas, além de Iris Rezende, só Maguito Vilela disputou o governo pelo PMDB — em 1986, Henrique Santillo foi exceção, porque se impôs como candidato à revelia de Iris.

Portanto, a desistência de João Batista Júnior, o Friboi, à pré-candidatura na quinta-feira, 22, foi o desfecho da crônica de uma renúncia anunciada. Os bastidores da política, nos últimos dias, davam de barato que a renúncia seria questão de dias. Esperava-se que fosse neste final de semana. Friboi abreviou a agonia em dois dias.

O que teria provocado a decisão de Friboi, que mais de uma vez tinha dito que iria até o fim, mesmo se fosse preciso bater chapa contra Iris Rezende em convenção? Consta que o empresário tinha encomendado uma pesquisa Serpes para uso interno, cujo resultado foi um balde de água fria em suas pretensões.

Nesse levantamento, Marconi estaria com 39%, Júnior Friboi com 13%, Vanderlan Cardoso com 12% e Antônio Gomide com 7%. Os números desanimaram o empresário. Que além disso, vinha avaliando que suas chances de sucesso na campanha sem o apoio de Iris Rezende seriam mínimas.

E mais além desses fatores, o “estouro” da dívida da JBS com o fisco estadual também fez o empresário refletir. O tema ganhou grande destaque na imprensa e Friboi sabia que seria por demais explorado na campanha, expondo as vísceras da empresa de sua família. Mais coisas nesse sentido iriam aparecer.

Outro fator que estava deixando o empresário com o pé atrás era a dimensão de custo que sua campanha estava tomando. Ingenuamente, há alguns meses, ele falou que estava com R$ 100 milhões para “torrar” na campanha — isso não foi dito com essas palavras, obviamente. A partir daí, oportunistas de toda ordem baixaram no pedaço, cada qual querendo tirar a maior fatia possível.

O que mais chama a atenção são os termos duros contidos na carta de renúncia de Júnior Friboi. Bem escrita, com termos polidos, mas a dureza dos termos está lá em toda sua crueza. Friboi simplesmente chama Iris Rezende de mentiroso, diz que foi enganado pelo grande líder peemedebista (leia o texto na íntegra).

Do jeito que os termos foram colocados, pode-se dizer que não há possibilidade de Friboi compor a chapa como candidato a vice ou ao Senado com Iris na cabeça. Iris teria sangue frio para procurar o empresário na tentativa de convencê-lo a integrar a chapa majoritária? Se sim, Friboi aceitaria? São perguntas de resposta difícil. No momento, o fogo das paixões está ainda muito alto. É preciso que o ardor do ressentimento abaixe. Aí sim, as pessoas podem pensar com racionalidade.

Há quem avalie que a renúncia de Friboi foi uma ação estratégica. Ou seja, haveria alguma carta na manga. É muito pouco provável que isso tenha fundamento. Mas a política é uma arte de profissionais.

Alas estavam em clima de guerra

Sintomaticamente, minutos antes de Friboi anunciar sua desistência, Iris Rezende estava reunido com correligionários em seu escritório. Discursava em um palanque improvisado e os termos que usou em relação ao companheiro de partido foram duros. A divisão entre as duas alas estava chegando a um ponto em que poderia haver agressão física a qualquer momento.

O clima de euforia entre os iristas foi flagrante com a saída de Júnior Friboi do páreo. Na sexta-feira, 23, havia um movimento contido no escritório político do Setor Marista. Iris chegou ao local depois de ir a um velório e prudentemente não falou com jornalistas. Ou, falou apenas o mínimo necessário sobre a renúncia friboizista. “Tem alguns momentos que a gente tem que saber ficar calado. Ainda não é o momento de comentar sobre isso”, disse laconicamente.

O Jornal Opção Online fez o registro de que a renúncia de Friboi pegou de surpresa muitos adeptos do volta, Iris. Até o próprio Iris Rezende se surpreendeu com a decisão de seu copartidário. Outros afirmaram que era perceptível, como o ex-deputado Wagner Gui­marães, que disse não ter ficado surpreso. “Friboi tem que voltar para o açougue”, comentou com tom de brincadeira, e completou: “É visível a preferência das pessoas por Iris Rezende.”

Perguntado se acreditava haver possibilidade de Júnior ser vice-governador na chapa de Iris, Wagner disse achar improvável, assim como o pré-candidato pelo PT, ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide, ir para a chapa do PMDB.

Apoiador veemente da candidatura de Friboi, o presidente estadual do PTN e deputado Francisco Gedda não acredita que Júnior irá voltar para a chapa majoritária. “De jeito nenhum! O Júnior não é candidato a vice nem do Senado.” Ques­tionado se isso significaria a saída do empresário do partido, Gedda respondeu que não. “Este não é momento de mudança de partido, mas que ele não vai participar de campanha nenhuma.”

Gente próxima a Iris Rezende não acredita que Júnior Friboi possa voltar para a chapa do PMDB, seja como vice ou a senador. Informações de bastidores sustentam que ele teria saído devido ao fato de perceber que Iris não iria apoiá-lo, e sem ele não ganharia a campanha. Algumas conversas ainda sustentam que familiares de Friboi teriam entrado em contato com o empresário, e teriam dito que esse embate interno estava prejudicando a imagem da empresa JBS/Friboi.

 

Carta aberta aos companheiros do PMDB

Amigos,

Aprendi com meus pais os valores que guiam a minha vida. Os mais importantes são a verdade e a lealdade. Sempre me pautei por eles, e com sucesso. Quando decidi entrar na política, jurei a mim mesmo e à minha família que não me afastaria dos princípios em que sempre acreditei: falar a verdade e acreditar que os outros estejam fazendo o mesmo.

Meu primeiro movimento ao ser convidado para me filiar ao PMDB foi procurar Iris Rezende, amigo de minha família por décadas. Disse a ele que pretendia disputar o governo de Goiás e perguntei se ele tinha o mesmo plano. Se tivesse, eu não viria para o partido. Não tinha o interesse de dividir a legenda.

Iris me disse naquela vez que não pretendia concorrer a governador, o que viria a reafirmar em várias conversas que tivemos depois. Me assegurou serem falsas as acusações de que não deixava nenhuma outra liderança crescer no PMDB. Que não tinha sido ele a impedir as candidaturas de Henrique Meirelles, Vanderlan Cardoso e a reeleição de Maguito Vilela. Eu acreditei, e me filiei ao PMDB.

Nesse primeiro encontro, Iris me disse para viajar pelo interior de Goiás, conversar com os companheiros. Se o PMDB me abraçasse, ele me abraçaria. Foi o que fiz, e o PMDB me abraçou.

Apesar disso, Iris se lançou pré-candidato a governador. Respeitei sua disposição e mantive a mesma postura. Para minha alegria, a imensa maioria do partido apoiou meu nome e nossa proposta de renovação. Alguns dias depois, num gesto de grandeza, Iris renunciou à pré-candidatura, anunciando sua intenção de não dividir o partido.

Infelizmente, a renúncia dele não acabou com as intrigas de bastidor ou com os ataques contra mim. A perspectiva é a do PMDB chegar às eleições como um partido dividido, marcado pelas cicatrizes da luta interna.

Eu me comprometi a não dividir o PMDB e serei fiel àminha palavra. Neste momento retiro minha candidatura. Deixo o caminho aberto para Iris Rezende disputar mais uma vez o governo de Goiás. Acompanharei a disputa eleitoral como cidadão.

Deixo o processo eleitoral com o coração agradecido aos companheiros que honraram sua palavra e seus compromissos. E saio com a consciência tranquila de quem permaneceu fiel a seus valores.

Júnior Friboi