Feliz ano novo? Talvez, mas em 2017…
07 novembro 2015 às 13h18
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Previsão do governo de que a crise seria superada rapidamente se revelou completamente errada. Quadro recessivo não muda antes de 2017
Afonso Lopes
Quem não se lembra do início deste ano, quando o governo anunciou que faria um grande ajuste fiscal para colocar as suas contas sob controle, mas que seria um “aperto” passageiro, com previsão de melhora geral já no segundo semestre? Pois é, não há quem possa se esquecer porque o problema de janeiro e fevereiro estava subdimensionado. O buraco nas contas do governo da presidente Dilma são terrivelmente maiores, o segundo semestre está no fim e ninguém consegue prever um ano razoavelmente melhor em 2016. Ao contrário, se não piorar, certamente haverá até motivos para comemorar alguma coisa apesar dos pesares.
O governo colheu e plantou apenas más notícias ao longo deste ano. Começou elevando as taxas de juros referenciais a patamares elevadíssimos, alterou alíquotas de impostos, retirou completamente as desonerações fiscais, inclusive as existentes para baratear o calamitoso custo do emprego, mudou a regra do seguro desemprego exatamente no momento em que a economia caiu em recessão e cortou quase completamente as verbas destinadas à saúde, educação e programas sociais. Nem com esse conjunto de “maldades” as finanças do governo se equilibraram. Descobriu-se depois que havia esqueletos no armário das contas públicas na casa dos 50 e poucos bilhões de reais, fruto da gastança desenfreada do ano passado — coincidentemente, período eleitoral.
Ao longo dos meses, além dos problemas em sua base de sustentação, que saiu das urnas fartamente majoritária, as autoridades econômicas também se perderam em previsões. Chegaram a falar, em tom pessimista, que o superávit primário esperado para este ano seria equivalente a 0,7% do PIB. Depois, essa previsão caiu para 0,5%. Agora já se sabe que não haverá superávit coisa nenhuma, mas um rombo ora orçado em 50 bilhões de reais — inicialmente, seria de “apenas” 30 bilhões – ora atingindo 110 bilhões, caso o gasto a descoberto do ano passado, as tais “pedaladas”, tenha que ser finalmente coberto ainda este ano. É pouco? Não, mas o governo também errou, ou não falou a verdade, ao dizer que haveria uma pequena recessão para controlar o ritmo de crescimento da taxa inflacionária. O recuo na produção de riqueza no Brasil já bateu nos 2,8%, e os economistas fora do Palácio do Planalto entendem que a recessão deve fechar o ano acima dos 3 pontos.
2017
Não há um só economista, no governo ou fora dele, que não admita que no ano que vem as coisas vão, na melhor das hipóteses, permanecer como estão. mas nem isso é unanimidade entre os acadêmicos e profissionais do mercado. Na visão pessimista, o pior da crise ainda não mostrou as caras.
Se 2015 representou o início dos piores problemas, cujos sintomas apareceram por volta de 2008, 2009, não há nada a se esperar positivamente em 2016. Além de todos os problemas no caixa, o governo perdeu completamente a sua base de apoio no Congresso Nacional, e quase todas as semanas perde votações de matérias consideradas importantes, inclusive com votos contrários de alguns parlamentares do próprio PT, da presidente Dilma. Sozinha, é pouco provável que a presidente consiga levar o país se não para um porto seguro, pelo menos para fora da tormenta. E não faltou quem tentasse ajudar, como o vice-presidente Michel Temer, do PMDB, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É certo que a sensação de crise é maior por causa dos sucessivos escândalos levantados nas Operações Lava Jato, principalmente, e Zelotes, mais recentemente. Mas essa sensação não é abstrata. Ela se revela real no dia a dia da população, que viu suas despesas cotidianas explodirem desde as compras no supermercado até na luz e na água, que dispararam. E isso também pesa bastante na queda da credibilidade do governo Dilma. Foi ela quem, há três anos, ocupou rede nacional de rádio e TV para anunciar redução de 20% nas contas de energia. Era uma medida absurda e fantasiosa porque não havia qualquer forma de redução no custo de geração, transmissão e distribuição do setor. Isso criou um rombo que desequilibrou todo o setor elétrico e a conta chegou para todos, para o consumidor e para o próprio governo.
Há unanimidade quanto a um aspecto nessa crise toda: não há como tirar o país desse atoleiro monstruoso sem a força extra de impostos. O governo, equivocadamente, insiste em recriar a famigerada e detestada CPMF, apesar de perder sistematicamente votações muito menos polêmicas no Congresso. É teimosia demais para votos de menos. Até porque existem mecanismos fiscais que causam o mesmo efeito e que não dependem de votação, como no caso da CIDE, que incide sobre os combustíveis. E vai ter que ser por aí. O lado ruim desse “imposto” é que ele se reflete imediatamente nas taxas de inflação. Para quem está numa “pitanga” danada, como é o caso do governo, um pouco mais ou um pouco menos não vai fazer tanta diferença assim no péssimo conjunto da obra da popularidade. E pode não haver outra saída. E se não houver, o “feliz ano novo” poderá ser adiado para 2018.