A disputa ao Senado em Goiás neste ano está sendo uma das eleições mais cobiçadas para esse cargo nas últimas décadas. Para relembrar como foi o processo até a campanha de fato, até durante a pré-campanha houve concorrência para se tornar candidato para à única vaga ao Senado. O número de postulantes chegou a 12, no total. Pelo caminho ficaram o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), o deputado federal Zacharias Calil (UB), o senador Luiz do Carmo (MDB), o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Lissauer Vieira (PSD), e o presidente do Partido Verde, Cristiano Cunha. Após as convenções eleitorais sobraram: Alexandre Baldy (PP), Delegado Waldir (UB), João Campos (Republicanos), Wilder Morais (PL), Manu Jacob (PSOL/REDE), Denise Carvalho (PCdoB), Leonardo Rizzo (Novo) e Marconi Perillo (PSDB). Além desses nomes, para substituir os desistentes do PSD, Vilmar Rocha se lançou candidato no último prazo. Assim, apenas na chapa do governador Ronaldo Caiado (UB) há três candidatos a senador. O Jornal Opção foi atrás de explicações dos motivos que levaram essa disputa ao cargo ser tão cobiçada no Estado. Por isso, foram ouvidos os ex-senadores Lúcia Vânia (UB), Mauro Miranda (MDB) e a cientista política Ludmilla Rosa.

Ex-senadora Lúcia Vania | Foto: Renan Accioly

A ex-senadora Lúcia Vânia (UB) entende que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizando candidaturas isoladas ao Senado proporcionou um novo cenário para esta disputa. “O potencial de votos dos candidatos ao Senado passou a ser quase igual ao das candidaturas proporcionais em função do número de candidatos concorrendo a esta vaga”, afirma. Senadora no período de 2011 a 2018, pelo PSDB, ela explica que a função permite ao detentor de mandato trabalhar o Estado juntamente com o governador. “Além deste aspecto, quando o senador tem vocação para o legislativo, permite que seu trabalho insira o Estado na agenda nacional, além de estar antenado com as matérias nacionais que beneficiam o país como um todo”, destaca.

Lúcia Vânia enumera funções importantes naquela Casa para o político que lá atua. “As Comissões de Infraestrutura, Desenvolvimento Regional e de Justiça ao lado das Comissões das áreas Sociais, são verdadeiras incubadoras de novas ideias para promoção do desenvolvimento regional e nacional, além de, implementar conquistas civilizatórias na área do comportamento”, detalha. Diferente dos outros cargos eletivos da República, o mandato de um senador é o dobro do tempo dos colegas da Câmara dos Deputados, por exemplo. “Os 8 anos de mandato dá ao senador condições de exercer o cargo sem pressões de uma eleição próxima, o que possibilita o seu papel de colegiado revisor, o que é muito importante em matérias polêmicas e, muitas vezes necessárias, para romper privilégios e avançar na inovação”, exalta a ex-senadora.

Mauro Miranda | Foto: Alexandre Parrode

Nesse contexto, o ex-senador Mauro Miranda (MDB), que representou Goiás entre 1995 e 2002, embora o Senado sendo uma câmara que debate temas mais amplos e gerais da nação, em relação à Câmara Federal, ele salientou que foi possível durante o mandato apresentar e aprovar propostas voltadas para os munícipes. “Eu tive a oportunidade de trabalhar muito na emenda da moradia no Senado, que é um negócio constitucional, ajudei muito na elaboração do Estatuto das Cidades, quando se discutiu o crescimento dos municípios e a qualidade de vida da população”, relembra. Miranda menciona que a atuação bem sucedida na Casa pode alavancar outras candidaturas importantes. “É uma oportunidade muito grande atuar como senador. Por exemplo, a Simone Tebet (candidata a presidente pelo MDB) apareceu em uma comissão do Senado que a qualificou como uma senadora guerreira e, agora, ela disputa a presidência”, salienta. A senadora Simone Tebet compôs a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia da Covid-19, que teve muita repercussão na imprensa e nas redes sociais, quando foram realizadas investigações e acusações contra o Governo Federal frente à crise sanitária.

Acirramento da disputa

A cientista política Ludmilla Rosa lista algumas hipóteses que transformaram essa eleição ao Senado tão acirrada, mesmo durante a pré-campanha. Segundo ela, um dos motivos é a própria quantidade de vagas, que nesta eleição, dada a particularidade, é de apenas uma. Em 2018, foram duas oportunidades. “Inegavelmente, nós tivemos uma ampliação do número de postulantes ao Senado Federal, aqui por Goiás, especialmente, quando a gente vai falar da chapa do governador, porque essa vaga do Senado, na chapa do governador foi tão disputada? Bom, porque de maneira inusual, o governador antecipou em um ano a escolha, o nome do seu vice, preenchendo com isso, uma das vagas mais importantes de uma chapa, que são: governo, vice e senador”, reflete a especialista.

“Então há mais de ano, a gente sabe quem é o candidato a vice-governador do Ronaldo Caiado nas eleições deste ano. Então restou uma vaga apenas. Essa uma vaga seria suficiente para abarcar tantos projetos que tinham interesses em caminhar junto com a candidatura do governador Ronaldo Caiado e, por que?”, indaga. Para Rosa, Caiado não conta com a chapa ao Senado “mais bonita do mundo”. “Pragmaticamente, o governador hoje consegue unir União Brasil, MDB, dois dos maiores partidos do Estado de Goiás e, com isso, ter consistência e capilaridade, além de ter a máquina na mão, a estrutura do poder na mão, o que dá inevitavelmente, visibilidade, dá condições de trabalho para qualquer candidato da majoritária que esteja atrelada a uma candidatura de reeleição”, pontua.

Apesar da decisão do TSE em autorizar candidaturas isoladas ao Senado, outra questão que chamou a atenção na base caiadista foi a candidatura ao Senado do deputado federal Delegado Waldir Soares, pelo mesmo partido do governador Ronaldo Caiado, União Brasil. “Não é tradição que um mesmo partido ocupe tantas posições assim em uma chapa majoritária, uma vez que o governador é do União Brasil, o MDB é vice e, teoricamente, essa vaga para o Senado seria para outro partido. Isso, para aglutinar mais forças. Antevendo que isso poderia depor contra a sua candidatura, o Delegado Waldir fez a consulta ao TSE e conseguiu a autorização para as candidaturas avulsas (isoladas)”, salienta. Essa possibilidade de Caiado em optar por um candidato de outro partido aliado chegou a alimentar a pretensão à disputa pelo deputado estadual Lissauer Vieira. Mas por outro lado. “Isso também rendeu, porque você tinha ali uma miríades de candidatos que viam uma janela de oportunidade para lançarem a sua candidatura ao lado do governador e com isso irem disputando”, emendou a cientista.

Em relação à oposição ao governo de Ronaldo Caiado, Ludmilla Rosa desenha que os grupos antagonistas ficaram muito fragmentados e sem alternativas durante a pré-campanha, sendo mais complicado para os partidos de esquerda, que não conseguiram aglutinar forças. Além disso, há as dificuldades enfrentadas por Gustavo Mendanha e Major Vitor Hugo para indicar os candidatos a vice-governadores. “Gustavo Mendanha, hoje, o grande antagonista do governador Ronaldo Caiado, teve muita dificuldade de formatar essa chapa de oposição, teve que ir para um partido muito pequeno, com poucos filiados no Estado de Goiás, que é o Patriota, com pouco tempo de TV, com pouco recursos financeiros para rodar na campanha”, afirma.

Rosa destaca que as candidaturas que se apresentaram, como o ensaio do ex-governador Marconi para o governo, não atraíram os postulantes ao Senado, para as únicas oportunidades que sobravam na chapa, como para vice-governadores, no caso de Mendanha e Vitor Hugo. “Então, todas essas variáveis do pragmatismo eleitoral, elas são contabilizadas, e a vaga de candidato a vice-governador de Gustavo Mendanha e de outras candidaturas, elas meio que não se tornaram tão interessantes, por conta do distanciamento, que o governador vem tendo dos seus opositores nas pesquisas eleitorais, porque se você é candidato a senador de uma chapa de oposição, você pode ganhar a despeito de seu candidato a governo não ganhar, mas o vice não, o vice se ganha e se perde, ele acompanha o cabeça de chapa, então isso também fez com que a vaga do Senado de outras chapas fosse também bastante disputada, não tanto quanto a disputa que a gente vê para essa vaga na chapa do governador”, comparou. Cabe ressaltar que o atual candidato ao Senado na chapa de Mendanha, o deputado federal João Campos (Republicanos) era contado para sair também na base de Caiado.

Liderança nas pesquisas eleitorais e aprovação do eleitorado tanto do governo quanto do chefe do Executivo foram apontados como essenciais para três dos oito candidatos ao Senado estarem aliados ao governador de Ronaldo Caiado. “Todas as projeções que a gente vê a seis meses, oito meses dão ao governador Ronaldo Caiado uma margem muito instável de favoritismo para a sua reeleição. Você teve períodos aí em que o Gustavo cresce um pouquinho mais, mas não cresce suficiente para abalar uma vitória de primeiro turno, então esse rumor ele vai perpassando o ambiente político e as pessoas vão dizendo: ‘ô, é muito difícil tirar essa eleição do governador Ronaldo Caiado, com todos os números, por ser ele, a pessoa que está frente do poder, a gente sabe que disputar contra a máquina pública é muito oneroso mesmo”, compreende.

A cientista política frisa que todos os candidatos levam em consideração os números positivos de um cabeça de chapa. “Esses autores fazem cálculos de como alçar o poder com menor custo e tendo maiores benefícios. O processo eleitoral é muito pragmático, ele é muito numérico e essas pessoas têm acessos a número de pesquisas, elas ficam validando estratégias o tempo todo. Então por isso, por todo somatório de questões a vaga do Senado do Estado de Goiás se tornou assim, de maneira quase inédita para nós goianos, muito cobiçada”, constata. Ludmilla Rosa reforça o favoritismo de Caiado para justificar o acirramento dentro da própria base para a única vaga de senador. “Nós não temos um governo mal avaliado e não temos um governador muito rejeitado. Então isso já inibe outras candidaturas de oposição, porque você lançar uma candidatura ao governo é muito desgastante de alguma maneira, é muito custoso, no ponto de vista financeiro. Então, se você tem uma competitividade mais alta, isso anima a oposição, os números hoje favorecem bastante o governador. Então, por isso, muita gente está visando essa vaga no Senado, e também, porque o Senado, ele constitui uma eleição majoritária sim, mas é uma eleição majoritária de um turno só, e de maioria simples”, enfatiza.

A opção de Marconi Perillo em se candidatar ao Senado é indicada como alusão a quem sofre com a rejeição do eleitorado, por muitos aspectos, como desgaste de imagem e acusações de envolvimento em atos de corrupção. “Se você tem uma rejeição muita alta mais você consegue, ser favorito numa corrida de maioria simples, e eu vou te dar um caso bastante concreto aqui: o ex-governador Marconi Perillo, ele tem uma rejeição alta, o que tornaria a candidatura ao governo muito temerária, porque em um segundo turno, a rejeição pesa bastante. O segundo turno sempre é ou costuma ser ou via de regra é um momento da eleição em que você opta não só pelas suas preferências, mas pela sua rejeição. Por outro lado, o primeiro turno é um momento eleitoral de preferências, o segundo é um momento eleitoral de rejeição, e para o Senado não tem isso”, exemplifica Ludmila Rosa. É provável que essa conjuntura tenha pesado para o tucano recuar de uma provável candidatura de governador, embora estivesse em segundo lugar nas pesquisas, provavelmente indo ao segundo turno, no entanto, ele se lançou ao Senado, caso seja vitorioso, deve ser candidato em 2026 a governador, sem perder o mandato de senador.

Nessa conjuntura, de um mandato com temporalidade maior, Ludmilla Rosa acentua a disponibilidade que o detentor do mandato tem para disputar outras candidaturas locais e até nacionalmente, como o exemplo da senadora Simone Tebet. “O mandato de 8 anos é fundamental para quem tem expectativa de um projeto político longevo. No Senado Federal, o político pode participar de outras eleições, conseguem ter condições e estrutura de organizar projetos políticos que mirem no futuro bem mais distante, porque é um mandato de 4 anos. O político participa de eleições como um ator relevante em quatro eleições. Com mandato de senador, se não for eleito, dá para passar por quatro eleições, duas eleições em nível federal e duas eleições a nível municipal. Isso é muito relevante no seu estado e é o que muita gente precisa para continuar cacifando seus projetos, a sua sucessão, seus próximos passos, enfim, a escalada de graus”, finalizou a cientista política Ludmilla Rosa. Provavelmente, essa seja a projeção do ex-governador Marconi Perillo.