Especialistas preveem 2020 otimista para Goiás
05 janeiro 2020 às 00h00
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Projeções para crescimento do PIB brasileiro variam de 1,6 a 3% – economia goiana integrada ao agronegócio deve propiciar aumento ainda maior
Nesta quinta-feira, 2, o Ministério da Economia informou que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 46,6 bilhões em 2019. No último Boletim Focus publicado, foi previsto para 2020 um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3% enquanto economistas mais otimistas falam em crescimento de até 3%. A melhora dos indicadores econômicos nos últimos meses tem animado investidores e desenhado uma perspectiva positiva para o novo ano. Resta saber se os indicadores agonizarão uma lenta queda ao longo dos próximos meses, como aconteceu em 2019.
Uma das críticas que economistas céticos fazem quanto à perspectiva de um 2020 positivo é a de que um dos índices que alimentou essas projeções foi o de desocupação da população, que pode ter decrescido em função sazonal. Além disso, Jeferson de Castro Vieira, doutor em Ciências Econômicas e professor na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, lembra que a redução de 12,8 milhões de desempregados em junho de 2019 para 11,8 neste início de ano se deve em grande parte a empregos uberizados, empregos intermitentes, temporários e informais.
“No ritmo em que estamos criando novas vagas de regime CLT, levaremos três anos para recuperar a quantidade de empregados que tínhamos em 2014 novamente”, afirma o economista. Este fator é importante, ele esclarece, porque a retomada do crescimento econômico passa por dois fatores, sendo o consumo um deles; índice que está ligado ao poder aquisitivo das famílias.
Outro ponto preocupante é o alto grau de endividamento das famílias. Segundo último levantamento do Banco Central (BC), 63,4% das famílias brasileiras estavam endividadas em maio. “A dívida em si não é o problema”, explica Jeferson de Castro Vieira, “mas o que preocupa é o comprometimento da renda. Estamos muito mais endividados que os 25 principais países do mundo e nossa renda está deteriorada.”
Sobre o resultado positivo da balança comercial, Adriana Pereira de Souza, doutora em Ciências econômicas e professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), afirma que é um resultado que pouco reflete na economia cotidiana até o momento. “Um dos motivos para esse indicador é que grande parte dos produtos exportados pelo Brasil foram de origem primária e básica, que não passaram pelo processo de industrialização, de baixo valor agregado. Importamos pouco, provavelmente pela alta do dólar, da produção reduzida e da baixa geração de renda no país. Então, mesmo que a balança seja favorável, isso não resultou em crescimento macroeconômico”, afirma Adriana Pereira de Souza.
Outra variável associada à retomada do avanço econômico está relacionada aos investimentos, que podem ser governamentais – “que atualmente beiram zero”, segundo Jeferson de Castro Vieira – ou privados. Os investimentos da iniciativa privada dependem da confiança transmitida pelo governo: “Segundo todos os dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e Confederação Nacional da Indústria (CNI), o empresário está com vontade de investir, mas também com receio. Ainda não colocaram a cara a tapa, mas, em razão da baixa inflação e baixa taxa de juros, já existe alguma reação”, diz Jeferson de Castro Vieira.
Mais concretamente, essa confiança significam medidas microeconômicas que fazem parte do pacote da reforma tributária, como desoneração na folha de pagamento, além do pacote do saneamento e investimentos em infraestrutura. Jefferson de Castro Vieira afirma que, enquanto há esperança de que o Governo aprove pacote de licitações para obras de saneamento e infraestrutura ainda este ano, as eleições municipais tornarão muito difícil a aprovação da reforma tributária em 2020.
Adriana Pereira de Souza afirma sobre as reformas que, até o momento, a principal medida de ajuste fiscal aprovada foi a reforma da Previdência, contudo, apenas em médio ou longo prazo esta reforma trará algum efeito prático para a elevação da capacidade de investimento do país. “Portanto, as medidas fiscais que se referem à arrecadação e gastos governamentais aprovadas até o momento, não impactarão a economia em 2020. Esse resultado somente virá daqui um certo tempo”.
O cientista político Marcos Marinho afirma fazer parte do grupo cético quanto à suposta retomada do crescimento econômico. As últimas ações governamentais são de ajuste fiscal e não resultarão em crescimento econômico a curto prazo. “Resultam, sim, em especulação, crescimento da bolsa – mas isso não é geração de emprego, é especulação”, afirma Marcos Marinho. “Há números positivos, mas não chegam na ponta, que é o empregado.”
Marcos Marinho sumariza: “A economia movimenta quando dinheiro circula. As ações de austeridade do governo intimidam o pequeno empresário, que ainda não está vendo nada clarear para o lado dele. As grandes corporações e bancos podem estar satisfeitos, mas os Microempreendedores Individuais vêem um gap de concentração de renda aumentando”.
Discorda de Marcos Marinho a economista Adriana Pereira de Souza: “Considerando um cenário recessivo no mercado internacional, a redução da industrialização da economia brasileira e a ausência de capacidade de investimento do governo, o risco de queda do crescimento ou de que a economia não se recupere infelizmente existe. Contudo a principal expectativa é de reação econômica. Até porque, aliada à algumas medidas de política econômica, às expectativas dos investidores e do aumento das atividades produtivas, existe o fato de que o ano de eleições municipais irá colaborar para o reaquecimento da economia”.
A nível estadual
Por outro lado, há o consenso de que Goiás terá um 2020 mais garantido do que o restante da nação. Segundo dados do Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), fundo de crédito destinado a empresas e os produtores rurais para impulsionar atividades produtivas, em 2019 foram subsidiado R$ 1,6 bilhões. “Isso significa que o empresário quer dinheiro subsidiado e existe demanda reprimida”, interpreta Jeferson de Castro Vieira.
Enquanto a União teve um crescimento no PIB de 1,3%, Jefferson de Castro Vieira estima que o crescimento de Goiás tenha sido de 1,8 a 2%. “No Estado, houve crescimento da indústria alimentícia, farmoquimica (cosméticos e beleza) e a farmacêutica. Houve pequena reação do setor sucroenergético e pequena reação do setor automobilístico. Então do ponto de vista industrial estamos bem. O comércio em 2019 apresentou a primeira reação em 4 anos, mas o setor de serviços fecha negativo, ainda patinando”.
Acontece que, no Estado, todos os setores estão ligados ao agronegócio, que cresceu imensos 10%. “Pela característica interligada da economia de goiana, mesmo quando um setor vai mal, o agronegócio segura as contas. A indústria está integrada com agronegócio, que está integrado com serviço. Isso ameniza em momentos de crise”.