Escândalo do INSS e o valor dos sindicatos sérios para os trabalhadores

10 maio 2025 às 21h00

COMPARTILHAR
Pedro Hidasi
Especial para o Jornal Opção
Os seguidos escândalos envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social enchem de vergonha a cara de quem tem. No entanto, as notícias ruins não invalidam o trabalho sério exercido pela maioria dos servidores do INSS e por entidades que efetivamente atuam em favor dos trabalhadores. A barbaridade da vez são os descontos feitos nos pagamentos de aposentadorias e pensões, que resultaram em fraudes de 6 bilhões e 300 milhões de reais.
Nada disso foi novidade para quem milita no front do lado mais fraco, o das vítimas das associações fantasmas. Os descontos criminosos ocorrem de vários modos, pois se constituem método antigo de lesar a dona Maria lá do Norte do Tocantins, o seu José do Sul do Piauí, a irmã Sebastiana do interior de Goiás. O que assustou talvez tenha sido a falta de freios dos bandidos que desconhecem os milhões de donas marias, de seus josés e das irmãs sebastianas do Norte, do Sul, do interior das unidades da federação. Ri o aproveitador impune, choram o lavrador, o pescador, o ribeirinho, a turma da mão grossa, do rosto queimado.
É de estarrecer que surja, por exemplo, entre as representantes de lavradores pobres do Nordeste brasileiro uma associação de servidores públicos com sede em São Paulo e filial apenas em Lins, não a cidade paulista, mas lugar incerto e não sabido. Os líderes de si mesmos. Nesse aspecto específico, foi um alento para o coração de cada vítima que essas pessoas físicas e jurídicas que pegam seu dinheirinho agora estejam enrascadas na Justiça. Essa gente simples mandou sinais durante muitos anos, as autoridades é que demoraram a se atentar para o problema.
O que não se pode fazer é nivelar as lideranças corretas aos salteadores que abriram CNPJ com o único intuito de tomar uma diária por mês de quem trabalhou de sol a sol durante meio século, 60, 70 anos seguidos molhados de suor e chuva, embebidos do orvalho dos matos. Existem sindicatos, associações, federações e confederações realmente sérias, realmente representativas, realmente fiéis aos trabalhadores ativos e inativos. O homem e a mulher do campo permanecem no meio da roça se sentindo protegido das pragas que vêm de Brasília, pois do seu lado estão confederações como a Contag, federações como a Fetag do Piauí e tantas outras siglas honestas.
Aplaude-se o governo por ter bloqueado as contas e os repasses de determinados fraudadores. Faltou somente uma pesquisa para evitar equívocos, porque no meio do cesto de atingidos estão também entidades que de fato estão e sempre estiveram junto com seus filiados. Para isso, basta conferir a assinatura, individualmente. Um trabalhador rural de Gilbués e uma lavadeira de roupas de Luís Correia, para ficarmos no maravilhoso Estado do Piauí, dificilmente seriam encontrados pelos mandatários de Brasília. Graças a Deus, junto com eles estão os dirigentes sindicais autênticos, os presidentes de associações legítimas, os líderes classistas que convivem com o aposentado desde que ele estava na ativa, que conhecem o trabalhador da ativa desde que ele era aprendiz, que se importavam com o aprendiz desde que seus pais eram jovens ainda sem filhos.
Assim como os descontos, os empréstimos consignados indevidos, que tanta dor de cabeça e prejuízo dão às pessoas humildes de todo o Brasil, precisam ser combatidos pela Polícia Federal, pela Receita Federal e pelo Ministério Público Federal. Os autores devem ser presos e seus bens têm de ir a leilão para cobrir parte do rombo. Há um pormenor, que na verdade é imenso. Refiro-me às instituições financeiras. Não há bagrinho entre os bandidos, só há peixinho entre as vítimas. Os descomunais usurpadores são os tubarões, como bancos e banqueiros. Esses têm de pagar pela dor proporcionada a milhões de famílias que ficam sem alimento por culpa de financiamentos em consignação não autorizados por aposentados, pensionistas e servidores na ativa.
Vivo de muito perto o sofrimento desses brasileiros dos diversos rincões. Há praticamente duas décadas me irmano com trabalhadores rurais, pescadores, pessoas com deficiência, doentes e outros amparados pela Constituição da República e leis infraconstitucionais. Essas pessoas construíram as riquezas de que o Brasil desfruta. Elas merecem, no mínimo, respeito. Quando escolhem livremente contribuir com um sindicato é porque ele tem serviço prestados. Então, é um absurdo equipará-lo a institutos empurrados goela abaixo.
O bloqueio de repasses das entidades sérias atinge diretamente a defesa dos interesses dos trabalhadores, tanto na área jurídica quanto na social e até na saúde. Os oportunistas alienígenas desconhecem, mas os sindicatos e as associações de credibilidade fazem inclusive atendimento odontológico, oftalmológico e de outras especialidades. Dão as assessorias de que os associados e seus familiares necessitam. Por isso, se os sindicatos não forem até eles, eles mesmos vão aos sindicatos assinar as renovações em suas fichas.
Ao punir no atacado, o governo premia as entidades irregulares e castiga aqueles que mais necessitam de amparo. Não é difícil separar os bons, difícil é equipará-los aos maus. No meio dessa briga, quem mais perde é aquele que não tem voz, não porque ficou rouco de tanto gritar contra as injustiças, mas porque seu megafone é o líder sindical em quem confia. Se alguma autoridade de Brasília não souber quem são os sindicalistas verdadeiros, basta ir às casas mais humildes de cada rincão do Brasil e perguntar.
Pedro Hidasi é advogado