Em 2008, o então prefeito de Goiânia Iris Rezende Machado chamou seu aliado e amigo Léo Mendanha para uma conversa em seu gabinete. Léo Mendanha havia sido vereador e secretário municipal de Aparecida de Goiânia em duas pastas e deputado estadual por dois mandatos. O motivo da reunião era encontrar um candidato a prefeito para concorrer com apoio do MDB na cidade vizinha da Capital. 

Léo Mendanha se encontrou com Iris Rezende em seu gabinete acompanhado de Mattos Nascimento (então MDB, atualmente PL), um cantor gospel que fora deputado federal e tinha tido uma votação expressiva em Aparecida de Goiânia. Mattos iria transferir seu domicílio eleitoral e concorrer como candidato da base, anunciou Iris Rezende. Léo Mendanha, conhecido por “ter a língua solta”, disse em frente ao pré-candidato que não gostava da ideia. 

A cidade tem muitos evangélicos, mas, na visão de Léo Mendanha, precisava de um gestor que tivesse alguma presença em Aparecida. Ele deu algumas alternativas: Mauro Miranda, ex-senador do MDB; Dona Iris, primeira dama; e Maguito Vilela. Iris Rezende derrubou as propostas: “Mauro Miranda é meu secretário. Dona Iris é minha esposa, pareceria provinciano lançá-la na cidade vizinha. Mas Maguito Vilela…”

Por telefone, Maguito Vilela primeiramente recusou, disse que o povo não o aceitaria por ser um “forasteiro”. Após algumas pesquisas qualitativas encomendadas pelo partido, entretanto, o nome de Maguito se mostrava viável, e a recusa ficou impossível.

Léo Mendanha, que tinha perdido as eleições para a Assembleia Legislativa de Goiás em 2006 e achava que seria ruim para o capital político da família ficar sem um mandato, convenceu o filho, Gustavo Mendanha (MDB), a disputar as eleições para vereador em 2008. “Entrei na política nesse contexto, de ajudar o Maguito e representar a história da minha família em Aparecida”, afirmou Gustavo Mendanha.

Após dois mandatos muito bem avaliados de Maguito Vilela na Prefeitura, Gustavo Mendanha, então presidente da Câmara, era o favorito para disputar as eleições de 2016. “Defendo muito as qualitativas como método de escolha dos candidatos porque elas revelaram que eu teria grande capilaridade e viabilidade no processo político eleitoral, e, de fato, fui eleito no primeiro turno”.

Na ocasião, a cidade não buscava um novo perfil específico, mas procurava alguém com o apoio de Maguito Vilela e que tivesse desempenhado na cidade algum papel para apoiá-lo em sua gestão exitosa. “Meu grande trunfo foi o apoio de Maguito, claro. Eu era uma figura desconhecida por parte do eleitorado, mas tinha a credibilidade pelo histórico do meu pai”, afirmou Gustavo Mendanha. 

Maguito Vilela | Foto: Agência Senado

Gestão Maguito Vilela

Até poucos anos atrás, havia um sentimento de vergonha entre os moradores de em Aparecida de Goiânia — retratado em reportagens que mostravam motoristas evitando que o nome da cidade constasse nas placas de seus carros. Entretanto, a cidade que já registrou 43,38 homicídios a cada 100 mil habitantes, deixou a lista dos 50 municípios mais perigosos do mundo. Ser da cidade com a terceira maior economia goiana, com R$ 16,9 bilhões, não causa mais vergonha e isso se deve, segundo Gustavo Mendanha, à gestão de Maguito Vilela. 

“Isso é muito perceptível para quem conhece um pouco da história de Aparecida. Na minha perspectiva, Maguito conseguiu virar essa página com ações em três áreas: grandes investimentos em infraestrutura, educação e saúde”, disse Gustavo Mendanha. A cidade já tinha os distritos industriais (três sob gestão municipal) pelos quais é conhecida hoje, mas sempre houve dificuldade de atrair empresas para ocupá-los, por falta do fornecimento de água, infraestrutura asfáltica e energia em escala industrial.

Os investimentos possibilitaram a que Aparecida de Goiânia atraísse empresas e alcançasse o superávit financeiro de R$ 354 milhões em 2023. O atual secretário municipal da Fazenda, Einstein Paniago, em entrevista ao Jornal Opção, explicou os dados. Num momento de dificuldade financeira em diversos municípios, a cidade de Aparecida de Goiânia atingiu arrecadação maior do que gastos com a diversificação das atividades econômicas de suas indústrias e com a parceria com o setor produtivo.

“Primeiro, continuamos o compromisso iniciado na gestão Maguito Vilela, e que teve continuidade com Gustavo Mendanha, de investir com consciência e planejamento”, afirmou Einstein Paniago. “Além disso, Aparecida tem atuação em áreas diversas, de forma que as crises em um setor não comprometem as finanças de todo o município”. O terceiro fator que explica o crescimento acima da média da economia aparecidense, disse Einstein Paniago, é a busca por atrair indústrias e empresas privadas. Há três distritos industriais administrados pelo município, que geram 120 mil empregos.

Mayara Mendanha, Gustavo Mendanha e Einstein Paniago | Foto: Assessoria Paniago

Gestão Gustavo Mendanha

A dependência da rede de atendimento de Goiânia fazia com que a cidade dormitório fosse vista como exploradora dos serviços da Capital. Gustavo Mendanha afirmou: “Quando me tornei prefeito, meu desafio foi aprimorar o que ele começou, conquistando a independência de Goiânia na área da saúde com a abertura do Hospital Municipal de Aparecida (HMAP), hoje gerido pelo Albert Einstein. Até então, dependíamos da contratação das unidades particulares e do Sistema Único de Saúde (SUS), cujos equipamentos eram geridos pelo Estado”. 

Como bandeira própria, Gustavo Mendanha encampou a bandeira da cidade tecnológica. “Provavelmente é uma das cidades mais tecnológicas do ponto de vista de infraestrutura, junto com Campinas, Maringá e outras do Sudeste e Sul”. A pauta ressoou com a imagem do político jovem, atento à inovação. 

Houve ainda investimentos em urbanização, com abertura de praças, ciclovias, ciclofaixas e parques. Em seus dois mandatos, foram 140 praças construídas com playgrounds, pistas de caminhada e academias abertas, outro fator chave para aumentar a autoestima da população. Sua gestão foi tão bem aprovada que em 2020, quando disputou o segundo mandato, Gustavo Mendanha foi eleito com 95,8% dos votos, a maior vitória proporcional do país daquele ano. 

Nos dois primeiros anos do segundo mandato, a atração de empresas privadas também foi ampliada. Segundo a Secretaria da Fazenda, em 2009, quando Maguito Vilela assumiu a prefeitura, Aparecida de Goiânia tinha pouco mais de 6 mil CNPJs ativos. No início da gestão de Gustavo Mendanha, eram 36 mil, e ao final da gestão eram 79 mil. 

Distrito Industrial em Aparecida de Goiânia | Foto: Reprodução

Sucessão

Em 2022, Gustavo Mendanha deixa a prefeitura para disputar o governo do Estado pelo Partido Liberal (PL) e seu vice, Vilmar Mariano (UB) assume a prefeitura, mantendo o secretariado. Questionado sobre os boatos de que ele continua controlando a Prefeitura de Aparecida, ele responde rindo: “Não é verdade. Com todo respeito, se eu continuasse mandando, a situação estaria diferente.”

Vilmar Mariano e Gustavo Mendanha passaram um período sem se falar, mas retomaram as relações a pedido de um ator improvável. Ronaldo Caiado (UB), que foi eleito no primeiro turno em 2022 disputando contra Gustavo Mendanha, não tardou a atraí-lo para sua base. Em maio de 2023, o governador se aproximou do ex-adversário por meio do vice-governador, Daniel Vilela (MDB), filho de Maguito Vilela.  

Vilmar Mariano é o possível candidato da base do governo estadual de que Gustavo Mendanha hoje participa. “Temos o acordo de cavalheiros de caminhar juntos”, disse ele.  “O governador propôs, e tentamos nos aproximar novamente”. Gustavo Mendanha concedeu esta entrevista ao Jornal Opção no escritório da empresa particular onde atualmente trabalha. Leonardo Vilela (MDB), concorrente de Vilmar Mariano pelo posto de candidado apoiado pelo governador, estava na antessala, aguardando para conversar com Gustavo Mendanha, membro da base. 

“Vilmar Mariano enfrenta dificuldades para se viabilizar”, afirmou. “A gente fez uma pesquisa qualitativa, inserindo o nome do Leandro, e percebemos que ele já aparece à frente. Na última pesquisa que fiz, Vilmar tinha 15% das intenções de voto, e Leandro aparecia com 19%. Mesmo sem ter se apresentado como pré-candidato, o sobrenome é forte. Entretanto, hoje, o Vilmar é pré-candidato. Se Vilmar Mariano, por algum motivo de caráter pessoal, desistir de ser o candidato, temos Leandro como alternativa. Mas apenas se Vilmar não quiser.”

Gustavo Mendanha ressaltou que hoje se dedica profissionalmente à iniciativa privada, em uma empresa sem contratos estatais, e que não participa institucionalmente do governo. “Estou próximo, participo de eventos, discuto e articulo a política, mas não trabalho para o governo”, destacou. “Faço política porque é o que gosto. Por conta de meu trabalho em Aparecida de Goiânia, há muitas pessoas que simpatizam com a forma que faço política, e uso isso para ajudar o projeto de Daniel Vilela em 2026.”