Pré-candidatos do PMDB ao governo se reúnem, falam em união, mas ambos querem o mesmo lugar e o impasse continua

Iris Rezende e Júnior Friboi: os dois pré-candidatos peemedebistas querem a cabeça de chapa, onde só cabe um / Fotos: Fernando Leite- Jornal Opção
Iris Rezende e Júnior Friboi: os dois pré-candidatos peemedebistas querem a cabeça de chapa, onde só cabe um / Fotos: Fernando Leite- Jornal Opção

Cezar Santos

Iris Rezende Machado e José Batista Júnior, o Friboi, se encontraram na quarta-feira da semana passada. O exato teor do que falaram, as exatas palavras e as entonações (que às vezes dizem mais do que as palavras), não se sabe, mas o conteúdo do que que disseram é do conhecimento público, seja por “vazamentos”, seja por dedução. Entre o que foi dito, uma afirmação peremptória de Iris: ele não vai entrar em disputa em prévia nem em convenção.

Pelo menos para uma coisa o encontro serviu: os dois líderes deram ordens aos seus comandados para suavizarem os ataques mútuos, que em alguns momentos chegaram às raias da baixaria. Na conversa, Friboi mais ouviu que falou. Ao final, permaneceu o impasse: o partido continua com dois pré-candidatos ao governo. Isso significa que, a rigor, não tem nenhum.

Sim, porque se ambos estivessem numa disputa clara, cada qual buscando se viabilizar dentro do partido, para concorrer numa prévia ou na própria convenção, tudo bem. Mas não é assim. Não é simplesmente porque o nome mais forte em termos eleitorais, Iris Rezende, não se dispõe a ir para essa disputa interna.

Pelo que se ouviu nos bastidores do encontro, Iris teria externado a Friboi que pode simplesmente se afastar do processo caso o partido o alije da escolha. Que ficará fora, assistindo de camarote a campanha, não pede voto para ninguém, e independentemente do resultado, volta em 2016, para disputar a Prefeitura de Goiânia.

Mas a ênfase do ex-prefeito foi no sentido de que o melhor para o PMDB é Júnior Friboi aceitar a vice. Os argumentos de Iris teriam sido enfatizados principalmente no fato de que ele tem condição efetivas de atrair mais apoios para a chapa. A começar do PT, que abriria mão da candidatura de Antônio Gomide ao governo, para compor com o PMDB.

Teria dito Iris que a prioridade sua seria justamente essa: trazer o PT de volta. A tarefa seria facilitada pelo fato de que parte dos petistas, naquela área de influência direta do prefeito Paulo Garcia, já está com ele. Com Iris na cabeça de chapa, e Friboi na vice, Gomide seria o candidato ao Senado, um arranjo que agradaria o comando nacional dos dois partidos em Brasília.

Iris teria dito mais, que se o PT não vier, ele buscaria o deputado federal Ronaldo Caiado, que não teria problema em aceitar entrar na chapa, mesmo com Friboi na vice. Ronaldo quer disputar o Senado e as diferenças com o empresário não são tão grandes assim.

O ex-prefeito não teria descartado nem a possibilidade de tentar puxar Vanderlan Cardoso (PSB) para a aliança. Ele teria dito que vê possibilidades nesse sentido, uma vez que Vanderlan não tem nomes para montar uma chapa minimamente competitiva. Essa aproximação seria facilitada via deputada Flávia Morais (PDT), que está procurando uma composição que lhe possibilite a reeleição, o que será muito difícil numa aliança apenas com o ex-prefeito de Senador Canedo.

O mundo político sabe que há algumas semanas Júnior Friboi quase aceitou a vice de Iris. Só não o fez porque seus apoiadores insistiram na tese de necessidade de renovação no PMDB e o aconselharam a seguir firme com a pré-candidatura. A conversa do empresário com Iris Rezende na quarta-feira passada foi por esse rumo.

Júnior Friboi ouviu muito, falou menos, mas também foi assertivo no que argumentou. E entre as coisas que falou, ele disse que tem andado muito pelo interior do Estado. E que tem ouvido cada vez mais palavras de incentivo de lideranças. Essas lideranças, afirmou, têm dito que o PMDB precisa renovar, precisa de nomes novos para disputar a eleição contra Marconi Perillo sob pena de sofrer mais uma derrota. E que ele, Friboi, no momento é o nome que representa essa renovação.

Em visto de tudo isso, uma parte do diálogo entre os dois pode ter sido assim:
— Boa tarde, menino Júnior.
— Boa tarde, mestre Iris.
— Essa briga não é nada boa pro nosso partido.
— Não é, não.
— Se a gente fica brigando, aquele menino acaba ganhando de novo.
— É verdade.
— E eu já tô cheio de perder para ele.
— É, o senhor já perdeu muito pra ele, né?
— Mas agora a gente pode ganhar.
— Podemos, sim. Agora dá pra gente ganhar dele.
— Mas para isso, nós temos de nos aliar, menino Júnior. Temos de nos unir, nos unir.
— Também acho, também acho, mestre Iris. E como diz aquele ditado, a gente unido não seremos vencidos. Unidos a gente derrota o Marconi.
— Pois é. O melhor então é a gente fazer uma chapa só, forte.
— Claro, claro. Eu como candidato ao governo e o senhor na vice. Com essa chapa, nem interessa quem vai ser candidato ao Senado. E aí, eu garanto, não vai faltar dinheiro na nossa campanha.
— Não, menino Júnior. Você não está entendendo. Eu é que tenho de sair como candidato ao governo. As pesquisas mostram que eu tô na sua frente. Você tem de ser o vice.
— Mas eu posso crescer quando a campanha começar. Muita liderança no interior já está comigo. Tenho pesquisas que mostram que minha situação está melhorando a cada dia. E não vai faltar dinheiro na minha campanha.
— Mas comigo na cabeça da chapa eu consigo trazer aliado forte. O PT daquele menino Gomide vem pra vaga ao Senado, te garanto. Aí a gente fica forte de verdade, com você na vice, sem problema de faltar dinheiro.
— Mas eu também trago aliados…
— Traz quem?
— Uai, a Flávia Morais, o …
— Ela pode vir comigo também.
— E eu, mestre Iris, posso montar uma chapa forte de deputados estaduais e federais. Já tem um monte deles comigo.
— E se você fosse eleito, faria oposição a aquele menino do PSDB?
— Claro que faria.
— Humm…
— …
— …

Júnior Friboi e Iris continuam suas articulações 

Iris Rezende com sindicalistas e vereadores em seu escritório político / Fernando Leite -Jornal Opção
Iris Rezende com sindicalistas e vereadores em seu escritório político / Fernando Leite -Jornal Opção

Após o encontro de quarta-feira, 23, o empresário Júnior Friboi e o ex-prefeito Iris Rezende não deram um tempo, pelo contrário, continuaram nas articulações. Friboi esteve em várias cidades, principalmtne em Rio Verde, onde tem uma base forte com lideranças conhecidas na região. Iris também deu seguimento ao que já vinha fazendo, ou seja, recebendo muitas lideranças em seu bunker político, no Setor Marista.

Na manhã de sexta-feira, 25, por exemplo, o estacionamento e a calçada de seu escritório estavam lotados. O Jornal Opção Online anotou que cerca de 50 pessoas estavam no local e o peemedebista recebeu representantes de dois sindicatos, o dos Empre-gados, Vendedores, Viajantes e Propagandistas de Produtos Farmacêuticos (Sindvendas) e o das Indústrias Farmacêuticas de Goiás (Sindifargo). Também passaram por lá os vereadores peemedebistas Izídio Alves e Clécio Alves e a vereadora Cida Garcêz (Solidariedade).

Diferentemente do que normalmente ocorre, Iris Rezende falou pouco, pediu licença e disse que tinha outra reunião a que não poderia faltar. O pré-candidato discursou sobre a importância dos farmacêuticos e como a profissão evoluiu ao longo dos tempos. Iris saiu rapidamente da recepção entrou em uma camionete preta e foi embora sem dar tempo para perguntas. À tarde, ele foi à cidade de Orizona.

O Jornal Opção Online conversou com o vereador Izídio Alves, que não quis emitir opinião sobre apoio a Iris ou Friboi, disse apenas que apoia os dois juntos em uma chapa. Izídio disse que os dois é que devem resolver esta questão de quem será o candidato ao governo e quem será o vice: “Eles vão se reunir segunda-feira (28) para discutir isso novamente.” O vereador falou uma frase interessante n contexto atual: “Mas eu sempre digo que quem tem história conta, e quem não tem escuta.”

Antes da reunião, o presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia, Clécio Alves (PMDB), disse que continua apoiando Iris e que não fica mudando de ideia. “Eu gosto do Júnior, mas o povo fica falando que a população quer o novo. O que é o novo?”, questionou.

Perguntado se via o apoio de peemedebistas a Júnior Friboi como uma afronta a Iris Rezende, considerado um líder no PMDB, Clécio disse que esse não é o caso. “Eu simplesmente vejo uma eleição sem o Iris como tirar o cérebro e coração do partido. É isso que o Iris é.”

Clécio Alves lembrou que o ex-pre­feito impulsionou o partido quando ele estava abandonado. “Não ti­nha nem vereador do PMDB na Câ­mara”, disse, completando no final: “Que­ro os dois juntos, mas se for pa­ra decidir por um, decido pelo Iris.”