Empresários se animam com promessa de retomada econômica
04 julho 2021 às 00h00
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Os mercados imobiliário, do turismo e empresarial enxergam sinais de recuperação da economia, mas terceira onda da pandemia, inflação e possibilidade de aumento dos juros ainda assustam
A crise econômica global causada pela pandemia do coronavírus Sars-CoV-2 afetou diferentemente cada setor do mercado. Enquanto áreas como o turismo sofreram paralisação quase completa, o mercado imobiliário brasileiro se mantém aquecido, apesar da altíssima inflação que afeta os materiais de construção.
O economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, sugere que a expectativa é de que a retomada das atividades econômicas aconteça em um ritmo mais acelerado a partir do mês de agosto. “Já é possível perceber, diante da aceleração da vacinação, alguns indícios positivos. As taxas de juros estão estabilizadas, dólar em queda e bolsa de valores batendo recordes históricos”, afirma. O professor ainda comenta que, diante desse cenário, setores como o de turismo, que possui uma das economias mais complexas, segue o caminho de retomada também.
Praticamente metade da população brasileira com mais de 60 anos já está vacinada. “Essa movimentação traz ânimo para o setor, e nos leva a crer que o turismo nacional vai se fortalecer ainda mais até o final deste ano”, aponta o diretor da Serra Verde Express, Adonai Aires de Arruda Filho. A empresa atua com receptivos e opera trens turísticos no Paraná e em São Paulo. Segundo Arruda Filho, a previsão é que, a partir de julho, a procura de pessoas da terceira idade por passeios turísticos, após as duas doses de vacinação, tenha um aumento de 35%.
Do lado das operadoras de turismo, o surgimento do “turismo de vacinação” e a alta demanda da procura por destinos nacionais foram responsáveis pelos bons resultados adquiridos no primeiro semestre de 2021. “No mês de maio, tivemos excelentes resultados e, em junho, melhores ainda. Com a categoria cunhada de ‘turismo de vacinação’, vendemos muitos pacotes para brasileiros buscarem a imunização fora do Brasil”, afirma o gerente geral da BWT Operadora, Gabriel Cordeiro. Ele ainda ressalta que, para o segundo semestre, a expectativa permanece em alta, principalmente com o avanço da vacinação no Brasil e a abertura gradual de outros países para os brasileiros.
Mercado Imobiliário
A perspectiva é mais conturbada no mercado imobiliário. Renato de Sousa Correia é integrante do Conselho Consultivo das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO) e vice-presidente da região Centro-Oeste do Conselho de Administração da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Ele afirma que os profissionais da área estão muito preocupados com a inflação.
“O remédio para alta inflação é subir os juros, a taxa selic. Subindo os juros da economia como um todo, o custo de vida fica mais alto e a prestação não cabe no bolso de quem compra imóveis”, afirma Renato Correia. Ele explica ainda que a origem da inflação, por sua vez, tem raízes no endividamento público e na demora brasileira para controlar a pandemia de Covid-19.
“Toda essa politização, a hesitação em vacinar a população, tudo isso nos atrasou muito.” Renato Correia afirma que vê possibilidade de o país entrar em um ciclo virtuoso, caso consiga vacinar sua população e fazer tramitar as reformas administrativa e tributária ainda este ano.
Entretanto, há mais um complicador: a alta do dólar e a redução na capacidade produtiva em função da Covid-19 associadas à entrada de dinheiro na economia (vindo do auxílio emergencial) dilatou os prazos e os preços no mercado. “Tudo isso fez com que aço, alumínio, vidro, plástico PVC – tudo isso sofresse uma inflação sem precedentes. Em especial o aço, que teve aumento de 115% do preço em um ano.”
Na opinião de Renato Correia, este outro problema também tem uma solução, porém mais complexa: “O Brasil é um país muito pouco competitivo. Temos apenas duas siderúrgicas, duas ou três empresas que comercializam alumínio. Quanto ao PVC, todos podemos ser clientes apenas da Braskem. Para que não ocorram situações como essa que estamos vivendo, precisamos estimular a competitividade, que é um projeto de longo prazo.”
Quanto à demanda, o conselheiro afirma que – embora não consiga acompanhar a alta nos preços – ela tem crescido. “Nesse momento de quarentena e isolamento social, as pessoas perceberam que uma habitação de qualidade faz toda a diferença.”
De acordo com a CBIC, o ramo imobiliário em 2020 apresentou um aumento de 9,8% quando comparado com 2019. Já na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 27,1%. Conforme pesquisa do Sindicato Patronal da Habitação (Secovi) houve um aumento nos lançamentos imobiliários. Somente em abril de 2021 a alta foi de 112% quando comparado ao mesmo mês de 2020. Ao todo foram comercializadas 4.083 unidades habitacionais no mês.
“Hoje o investimento em imóvel se tornou atrativo, pois estamos em um momento de menor taxa de juros da história do país. A taxa Selic está em 3,5% e as taxas de juros a partir de 6,2% para compra de imóveis mais a taxa referencial. É o momento ideal para aquisição de imóveis”, afirma Márcio Silva, CEO da ImovBrasil.
Mercado empresarial
O presidente da Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio), Marcelo Baiocchi disse em entrevista ao Jornal Opção, que vê com otimismo os dados recém divulgados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os indicadores de 2021 apontam alto desemprego, mas com taxa de contratação também alta.
“Nós temos que fazer uma análise global e o que estamos vendo é um país com PIB crescendo muito acima da expectativa, notamos que existe um consumo até maior do que a expectativa que a gente tinha. O comércio praticamente está voltando a sua normalidade. Área de serviços e turismo também, um pouco sofrível ainda o setor de eventos”, afirma o presidente da Fecomércio. “O que a gente consegue avaliar deste quadro é que é muito positivo, nós poderíamos estar vivendo um momento de PIB negativo e inflação, ai realmente seria estagnação, o pior dos cenários.”
Sobre a inflação, Marcelo Baiocchi afirma acreditar que o indicador de preços IGPM, que apontou inflação de 6%, não reflete o momento com precisão, pois o período de quarentena em que as pessoas ficaram em casa foi também um período de poupança e gastos diferentes, já que não houve viagens e consumo normal. Na visão de Baiocchi, esse período de poupança teria proporcionado um consumo maior de bens não duráveis, o que acarretou alta de preços. “Eu penso que vamos entrar rapidamente em um equilíbrio e com uma grande vantagem com um PIB crescente acima de 4% e expectativa de 5%. Com o aumento da Selic, a inflação tende a se estabilizar em viés de baixa.”
Sobre o futuro, Marcelo Baiocchi afirmou acreditar que ainda neste ano teremos a acomodação do mercado. “Até porque não há mais a poupança que foi feita e forçosamente pela pandemia e as pessoas que queriam consumir praticamente já o fizeram”.
Uma terceira onda da pandemia de Covid-19 preocupa, mas Marcelo Baiocchi diz confiar na capacidade da vacinação de preservar vidas e saúde da população. “Onde vemos a ocorrência da terceira onda, com explosão no número de casos, também notamos a redução no número de óbitos – e isso se deve à eficácia da vacinação”. Isto é, as pessoas se infectam, mas têm casos leves ou assintomáticos da doença. De fato, em países majoritariamente vacinados, como Israel, observamos a redução na taxa de letalidade de 2,5% para até 0,7%.