Em novo partido, Lincoln Tejota diz que eleições de 2020 serão “atípicas”
16 fevereiro 2020 às 00h01
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Vice-governador descreve planos no Cidadania comenta informações que apontam insatisfação de Lincoln Tejota no governo Caiado
Desde que o vice-governador Lincoln Tejota resolveu deixar de vez, no ano passado, o partido no qual se elegeu, o Pros, vários palpites surgiram sobre qual seria sua nova casa. Cogitou-se que Tejota poderia ir para o Podemos, PSD ou PTB. A indecisão partidária durou algum tempo.
Até que, na última quarta-feira, 12, o vice-governador bateu o martelo e concretizou sua ida para o Cidadania. A cerimônia de filiação ocorreu em Brasília (DF), ao lado do presidente nacional da legenda, Roberto Freire, do secretário da Fazenda de Anápolis e ex-deputado federal Marcos Abrão, além do deputado estadual Virmondes Cruvinel, pré-candidato à Prefeitura de Goiânia.
Tejota já se comprometeu com o apoio ao colega de sigla, mas adiantou: “Esta não será uma eleição qualquer”. No evento de filiação, que também contou com a presença do vice-presidente da Agência Goiana de Habitação (Agehab), Luiz Sampaio, e do ex-secretário de Cultura de Goiás, Gilvane Felipe, o vice-governador assumiu também o compromisso de tomar as rédeas do partido e propor para Goiânia o que Lincoln chama de “nova política” nas eleições que se aproximam.
Alinhamento ideológico
De acordo com Tejota, sua decisão de ir para o Cidadania é fruto do alinhamento ideológico com a sigla. Para o vice-governador, a legenda manifesta o desejo de crescer e receber novas lideranças. Lincoln também destacou a baixa menção do partido em escândalos de corrupção como um diferencial para acatar a ideia de se filiar.
“O Cidadania tem um nome que é leve na cabeça da população. Não é um partido que está envolvido em escândalos, nada nesse sentido. O que me atraiu bastante foram duas coisas: a forma centralizada e sóbria como o presidente [Roberto Freire] tem visto o momento no País e a prioridade que ele tem dado para os parlamentares nesse novo momento de construção; e a segunda foi a receptividade que tive por parte da Executiva estadual.”
Tejota também enfatizou o apoio do senador Jorge Kajuru para sua filiação. O vice-governador teceu elogios ao presidente estadual do Cidadania, Marcos Abrão. “É um parceiro indiscutível. Ele está deixando a presidência, me convidou para assumi-la e fazer esse trabalho junto com ele. Estamos com um partido com total coesão”, disse.
Lincoln explicou que sua principal intenção a curto prazo no Cidadania é lançar o maior número de prefeitos e vereadores possível, candidaturas que “têm chances reais, não são meras aventuras”. “A população tem cobrado um uso eficiente dos recursos públicos. Até porque é muito dinheiro que é passado para os partidos. Temos criado candidaturas sólidas, nós não perdemos pessoas, estamos recebendo pessoas”, declarou.
Na presidência
Quanto à presidência do partido, Tejota mencionou o trabalho feito em sua antiga sigla. “Eles [do Cidadania] conhecem meu trabalho prestado, viram minha atuação no Pros. Com pouco mais de oito meses de partido eu consegui, obviamente com o trabalho de cada um desses que ingressaram, não foi só meu nome, que o partido saísse de 55 mil votos para deputado estadual para 260 mil votos.”
Questionado sobre o porquê de ter declinado da ideia de ir para o PTB, possibilidade essa que estava quase confirmada antes de sua ida para o Cidadania, o vice-governador avaliou que o diretório do partido não estava em um momento de coesão. E citou ainda a saída de Jovair Arantes, que recentemente se viu alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga desvio de recursos públicos do então Ministério do Trabalho.
“Com a saída do Jovair, que foi um grande líder do PTB, que construiu o partido muito forte aqui, uma pessoa que eu sempre tive como amigo, eles decidiram caminhar por outros caminhos. E nesse saída ficou uma situação mal resolvida.” Tejota ainda chegou a dizer que não quis “entrar nessa briga”.
Fechado com Virmondes
Sobre o pleito municipal, o vice-governador é categórico ao colocar Virmondes Cruvinel como “o candidato do Cidadania”. Tejota conta que já havia decidido lançar alguém a prefeito neste ano. Quando chegou ao partido e se deparou com o empenho de Cruvinel para disputar a cadeira de prefeito, o sentimento teria sido o de “alívio”.
Lincoln prega que a capital almeja o surgimento de “novos expoentes políticos” e, mesmo sem criticar diretamente candidato A ou B, fala em “necessidade de nova política”. O vice-governador promete preparar sua sigla para o duelo eleitoral deste ano.
“Não tem como surgir novos expoentes políticos se não participar do embate eleitoral. Não tenho dificuldade com nenhum dos nomes que estão sendo apresentados. O prefeito Iris é uma pessoa que eu admiro, apesar de nunca o ter apoiado para prefeito. Admiro a história e o trabalho, mas para podermos fazer por Goiânia o que o Cidadania acredita que é bom, precisamos colocar nosso projetos para a população apreciar”, explicou Tejota.
Entretanto, o recém-chegado ao Cidadania disse acreditar que esta não será uma eleição como as outras. Para o titular da Vice-Governadoria, a nova legislação eleitoral promete mexer, e muito, no jogo político. “Será uma campanha extremamente atípica, principalmente pelas regras novas. Cada partido tem de cuidar de si pra atingir seus votos”, enfatizou Lincoln ao se referir ao fim das coligações proporcionais, mudança que passa a valer em 2020.
Os projetos do vice
Lincoln Tejota garante que os trabalhos sob sua coordenação têm sido fartos e céleres. Entretanto, projetos como o Goiás de Resultados ainda seguem em passo lento. O vice-governador declarou que as metas entregues pelas pastas e órgãos estão sendo apuradas e grupos de trabalho serão formados.
Tejota afirmou que o Goiás de Resultados “está andando bastante”, apesar de ainda não ter sido oficialmente lançado – as metas foram entregues em meados do ano passado. “Uma das metas é a entrega da policlínica de Posse, que muito em breve vamos inaugurar, e a abertura de novos leitos de UTI. Os indicadores de segurança também, que demonstraram uma diminuição da criminalidade. Tudo isso são métodos que estão dentro do programa”, informou.
Abordado sobre a polêmica da não divulgação por parte do Estado dos números referentes às mortes por policiais, o vice-governador alegou que os números antes fornecidos “não eram precisos” e que a gestão “não quer repetir o mesmo erro”. “Quando você planeja um mandato, você faz de acordo com a transição. Em cima desses dados, você faz um planejamento, um plano plurianual, seu orçamento. Agora, como fazer isso com dados que são imprecisos? Com dados que a gente não sabe se são reais ou não? Nosso trabalho é apurar a veracidade desses dados e voltar a divulgá-los.”
Ideia em análise
Outro projeto ganhou apoio recentemente de Tejota, o planejamento para transformar Goiás em sede de um geoparque mundial da Unesco, foi apresentado no mês de janeiro ao vice-governador por uma professora da Universidade Federal de Goiás (UFG). A ideia animou Tejota, mas o vice-governador afirma que há muita coisa “para ser prospectada”.
“O governador Ronaldo Caiado (DEM) exige também que trabalhemos pela preservação ambiental para ter um futuro para as próximas gerações. E a proposta é essa mesmo, trabalharmos para ter um geoparque em Goiás.” De acordo com Tejota, o projeto ainda não é uma realidade, mas já foi levada, inclusive, para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).
Relação com o governador
Em 2019, informações de bastidores davam conta de que Tejota estaria insatisfeito com as escassas atribuições e poder de escolha dadas a ele no governo por Ronaldo Caiado. Os boatos ganharam força. Mas, para o vice-governador, são desconfianças que não passam disso: boatos.
Tejota afirmou que jamais teve qualquer momento de desgaste com Caiado e que a história de que o vice-governador estaria infeliz no cargo é totalmente inverídica. “Tudo isso são suposições e informações plantadas por quem quer me afastar do governador ou afastar o governador de mim. Eu nunca estive tão bem com ele”, reforçou.
O titular da Vice-Governadoria demonstrou segurança da boa relação com o governador. Tejota até riu ao dizer que adoraria ter menos responsabilidades no governo. “Eu, pelo contrário, queria que Caiado me desse menos atribuições, porque, com a amplitude do programa Goiás de Resultados, tenho trabalhado com todas as pastas. Eu não paro. Nem gozei das minhas férias ainda porque eu não tive condições de sair daqui. Então essa conversa não existe”, pontuou.