Em clima de “esquenta”, pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia desenham estratégias para o pleito
02 fevereiro 2020 às 00h01
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Entre incertezas e expectativas, as eleições municipais deste ano já têm fortes concorrentes que devem trazer acirramento para a disputa de outubro
O escrutínio que definirá o próximo a se sentar na cadeira do Paço Municipal neste ano, ao que tudo indica, será apertado. Até o momento, quase 15 nomes conhecidos entre os goianienses deixaram claro que possuem interesse em ocupar o lugar de Iris Rezende. Paira, inclusive, apesar de suas reiteradas negativas, a expectativa de que aos 45 do segundo tempo o emedebista entre no ringue para tentar uma reeleição.
O cenário ainda é disforme, e não há martelo batido em nada. Em fase de pré-candidatura, nomes como o de Cristina Lopes, Elias Vaz, Adriana Accorsi e Major Araújo já se movimentam com o intuito de serem os escolhidos em suas respectivas siglas para pleitearem o cargo de prefeito – ou prefeita – de Goiânia. Alguns já sabem que o serão. Outros, nem tanto.
Mesmo em uma conjuntura de incertezas, muitos dos pré-candidatos já desenham uma situação de como serão as eleições municipais, e surpresas já começaram a acontecer. Uma delas foi a decisão do senador Vanderlan Cardoso, que também resolveu colocar sua peça no tabuleiro do xadrez político regional. Até o final de 2019, Vanderlan descartava categoricamente a possibilidade de concorrer à Prefeitura e deixava claro que seu objetivo era o governo do Estado. Entretanto, os números das primeiras pesquisas, que colocaram o senador em segundo lugar numa possível disputa entre ele e Iris Rezende, parecem tê-lo feito repensar suas pretensões.
Para tentar chegar ao Paço, Vanderlan também tem feito algumas mudanças. O parlamentar demonstrou não estar nada satisfeito em seu atual partido, o PP, chegando a dizer que a permanência nele ficou “insustentável” – ele afirma estar incomodado com a maneira com a qual o PP tem integrado a base governista em Goiás -, e está agora de malas prontas para o PSD.
A já quase concretizada ida de Vanderlan para a sigla de Vilmar Rocha e Gilberto Kassab bate ainda num porém: é que, conforme o próprio Vilmar, o nome do deputado federal Francisco Júnior já estava definido como o candidato do PSD para disputar o Paço Municipal. Resta saber agora qual dos dois levará as honras de representar o partido no pleito deste ano.
Junte a isso o questionamento: Iris será ou não será candidato? O atual prefeito de Goiânia garante que não, mas essa não seria a primeira vez que o mesmo negou até onde pôde, para, no final, entrar na disputa.
O Opção conversou com alguns dos principais pré-candidatos às eleições municipais de 2020, e traz a visão de conjuntura de cada.
Cristina Lopes
“Foi uma escolha segura [ter migrado para o PL]”
A ex-tucana Cristina Lopes, ou Dra. Cristina, levou alguns meses até decidir sair de vez do PSDB. Entretanto, sua escolha pegou muitos de surpresa. Cristina “flertou” com o PDT de Karlos Cabral durante algum tempo e era aguardada no partido, mas, no fim, acabou indo para o PL de Mágda Mofatto. A vereadora e pré-candidata à Prefeitura de Goiânia afirma ter feito uma “escolha boa, segura”, e celebrou o fato de ter muito em comum com o atual partido.
Ela comentou a recente decisão de Vanderlan de colocar seu nome na mesa, e afirmou que, em seu lugar, não faria uma escolha assim. “Estamos num momento muito difícil da política, de muita instabilidade democrática, não sei se eu faria uma escolha assim, deixar o Senado para tentar a prefeitura”, disse. Entretanto, para ela, é saudável ter mais um possível concorrente. “Quanto mais projetos para Goiânia, melhor”, conclui.
Eduardo Prado
“Se eu for com o Iris, ganho dele no primeiro turno”
O deputado estadual Delegado Eduardo Prado, do PV, é outro que tem anseios de dirigir Goiânia.
O pré-candidato demonstra um interesse particular em disputar a eleição com o atual prefeito Iris Rezende, e afirma sem hesitar que, se for com ele para o pleito, “ganha dele no primeiro turno”. Para ele, as declarações de Iris dizendo que não disputará a reeleição são “estratégias de marketing”. “Ele sempre fala que não é candidato. Aí ele diz que o Espírito Santo aparece e conversa com ele e ele vira candidato”, diz.
Eduardo Prado diz também que a chegada de Vanderlan Cardoso na disputa “fragiliza a candidatura de Iris”, mas não a ponto de fazê-lo desistir. Porém, o deputado afirma que “Goiânia quer um prefeito jovem, dinâmico”, e que “está na hora de Iris se aposentar”. Ele finaliza fazendo um convite para que os também pré-candidatos Vanderlan e Francisco Júnior o apoiem em sua possível candidatura.
Francisco Júnior
“Na campanha passada, o que me faltou foi estrutura política”
Pré-candidato à Prefeitura de Goiânia, o deputado federal Francisco Júnior agora terá que ir para o embate para garantir seu nome como candidato do PSD. Antes garantido pelo próprio presidente da sigla, Vilmar Rocha, como o nome que representaria o partido nas eleições municipais, o cenário para Francisco pode mudar com a chegada de Vanderlan Cardoso.
Quanto ao senador, Francisco se refere a ele como um “excelente político”, e diz que sua decisão de concorrer “eleva o nível da disputa”. Entretanto, o deputado diz que o quadro ainda é muito incerto.
Francisco destaca o que difere as eleições que se aproximam do último pleito. “Na campanha passada, o que me faltou foi estrutura política, e tenho isso agora. Estamos construindo”, garante.
O deputado também respondeu ao convite de Eduardo Prado, e disse que “não há sentido nisso agora”.
Mariana Lopes
“O PT não é mais uma alternativa de esquerda em Goiânia”
A pré-candidata do PSOL Mariana Lopes, historiadora e ativista em movimentos sociais de defesa dos direitos da mulher, se coloca como uma alternativa real da esquerda para Goiânia. Ela afirma que PT deixou de ser, há tempos, uma esquerda de verdade, e garante ter projetos tangíveis para a capital. Todavia, Mariana não descarta a possibilidade de construir uma candidatura ao lado do partido.
A pré-candidata psolista também vê de forma crítica a decisão de Vanderlan, e diz que, quando um político é eleito, ele deve “honrar com o compromisso feito com a população”. “Deve haver um compromisso para com o povo, é isso que eu ofereço”, diz.
Major Araújo
“Vanderlan procurou o PSL e ganhou uma porta na cara”
O deputado estadual Major Araújo, do PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, se considera pronto para a disputa eleitoral e afirma que tem um projeto que está à altura dos demais. “Vindo do Vanderlan, vindo do Iris, seja quem for, nós estamos preparados”.
O parlamentar, que disponibilizou seu nome para concorrer à Prefeitura de Goiânia, diz que não se importa com o cenário político e que só pretende discutir Goiânia. Ele revela que Vanderlan Cardoso chegou a procurar o PSL para propor uma “ampla frente de oposição”, convite que, segundo ele, foi prontamente negado. “Ele procurou o PSL e ganhou uma porta na cara. Nós temos um projeto e um candidato próprio”, comenta.
Quanto à crise deflagrada em seu partido com a consequente debandada de filiados após a saída do presidente da República, Major Araújo afirma que tomou a decisão de continuar nele uma vez que prevê que a nova sigla planejada por Bolsonaro pode não vingar. “Eu ajudei a criar outras siglas, sou cauteloso com essas questões. O Aliança [pelo Brasil] vai virar um monstro”, diz.
Questionado se abriria mão de sua possível candidatura para apoiar outro nome, o deputado é categórico: “Vou até o fim. A única coisa que faria eu não levar nosso projeto adiante é alguma decisão do partido”, arremata.
Romário Policarpo
“Só não disputo com o Iris”
Outro que manifestou interesse em disputar a Prefeitura de Goiânia é o presidente da Câmara Municipal, Romário Policarpo, do Patriota. O vereador afirma que só não concorre com o atual prefeito Iris Rezende. “Não tem sentido eu disputar com uma pessoa que foi meu aliado por anos”, afirma.
Policarpo avalia a gestão irista positivamente, e considera que o emedebista, em conjunto com os vereadores, “resolveu o colapso no qual se encontrava Goiânia quando ele a pegou”. Quanto a avaliação de alguns de que o prefeito deveria se aposentar a levar em conta a idade, o presidente da Câmara e pré-candidato discorda. “É uma idiotice pensar isso, e chega a ser um preconceito. O político tem que ser avaliado por sua gestão, e não pela idade”.
Em avaliação do cenário político, Policarpo diz que se vê diante de possíveis bons candidatos. “Todos têm grande potencial. A Adriana Accorsi, o Vanderlan, todos”, conclui.
Talles Barreto
“Sou indiscutivelmente pré-candidato”
Com sua pré-candidatura confirmada, o deputado estadual Talles Barreto diz o partido está coeso no debate para as eleições que se aproximam e o diálogo está sendo feito diariamente.
Talles descartou, a princípio, a possibilidade de abrir mão da possível candidatura para compor com outro nome, e afirmou que o PSDB irá até o fim com candidatura própria.
Vinícius Cirqueira
“A expressiva votação que tive me gabarita para tentar [a eleição]”
Pré-candidato, o deputado Vinicius Cirqueira, do Pros, teve o mandato cassado recentemente pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás. (TER-GO). Cirqueira diz que respeita a decisão do Judiciário, mas não concorda com ela. Segundo ele, todos os documentos com sua prestação de contas foram apresentados, mas nem chegaram a ser apreciados. “Apresentei todos os documentos, mas não foram apreciados. No dia do julgamento, nem tive a oportunidade de me defender”, revela.
O deputado diz que espera a publicação do acórdão para que sua defesa apresente novamente a documentação necessária para a prestação de contas, uma vez que o mesmo foi acusado de captação e gasto ilícito de recursos na campanha eleitoral de 2018.
Sobre as eleições, Cirqueira alega que seus votos em Goiás devem beneficiar sua candidatura pelo Pros. “A expressiva votação que tive me gabarita para tentar [a eleição]”, garante. O parlamentar é mais um dos que não acreditam que Iris não vá disputar. “A vida dele é essa. Ele é um político, vive para isso”, completa.
Vanderlan Cardoso
“Mais uma pré-candidatura só fortalece o PSD”
A decisão de Vanderlan Cardoso de tentar o cargo de prefeito de Goiânia fez com que muitos pré-candidatos reavaliassem suas estratégias políticas. O senador, que disse ter perdido a confiança no PP e que vê sua permanência no partido como “insustentável”, conformou a intenção de migrar para o PSD e já está acertando os detalhes.
Questionado sobre a pré-candidatura de Francisco Júnior, que, até o momento, era considerado como candidato da legenda, Vanderlan disse que a adição de sua pré-candidatura “só fortalece o PSD”. Entretanto, ele deixou clara a intenção de ir para o embate e se consolidar como candidato. “Isso [a confirmação da candidatura] vai depender de vários fatores, não tem nada decidido. Minha pré-candidatura continua normalmente”, diz.
“Tenho muito respeito pelo Francisco Júnior, ele é um ótimo quadro. Não me considero melhor nem pior que ninguém, não tem ninguém melhor ou pior”, finaliza.
Elias Vaz (PSB), Adriana Accorsi (PT), Virmondes Cruvinel (Cidadania) e Felizberto Tavares (PR), também pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia, não foram localizados pela reportagem.