Economia e saúde serão pautas prioritárias nas eleições de 2022

15 maio 2021 às 09h41

COMPARTILHAR
Cientistas políticos e lideranças partidárias apontam temáticas que devem prevalecer na próxima disputa eleitoral. A pandemia da Covid-19 e a crise financeira do país devem nortear o debate político dos candidatos em 2022
Há quem acredite que ainda é cedo para discutir as questões do processo eleitoral de 2022, mas as articulações já começaram. Os pré-candidatos aos cargos de deputado estadual e federal, senador, governador e presidente da república estão estabelecendo alianças e o dialogando com as bases de apoio política-eleitoral, lideranças partidárias e especialistas políticos para discutirem as prioridades para a próxima disputa eleitoral.
O cenário do novo jogo traz à tona temáticas que provavelmente serão destaque nos discursos e debates das eleições de 2022. A pandemia e os seus reflexos terão um papel importante para nortear os candidatos, bem como a situação econômica do país, o social e a geração de emprego. São setores que tiveram forte impacto da pandemia e que exigem medidas urgentes.
De acordo com o cientista político, Marcos Marinho, é necessário pensar para além da pandemia, considerando que até o período eleitoral, apesar de controlada, a crise na saúde e a Covid-19 ainda serão pautas relevantes. Mas a questão da saúde pública nesta intensidade, causada pela pandemia, interfere diretamente na economia. “A economia brasileira está muito mal e fragilizada. E a retomada não acontecerá daqui para o ano que vem. E, obviamente, no período eleitoral as pessoas vão estar sentindo ainda mais este reflexo, afetando as suas expectativas. E isso virá à nota no momento de pensar um projeto político eleitoral”.
Marcos Marinho considera que as proposições de retomada da economia e a apresentação de projetos incríveis em relação a vida financeira do país vão “puxar o carro” no período eleitoral. Incluindo o desemprego e a fome. Em 2021, o Brasil voltou ao mapa da fome no mundo, com 19 milhões de pessoas passando fome e 119 milhões em insegurança alimentar.
Deve seguir o roteiro dos candidatos, segundo Marcos Marinho, os programas para dar continuidade as ações públicas de saúde e da vacinação. A pandemia mostrou ser um setor com infinitas demandas, sobretudo no Sistema Único de Saúde (SUS), e cuja população ainda é carente. No entanto, ele lembra que o Brasil não está isolado do mundo e o país vive uma certa repressão na sua conduta nas questões relativas ao meio ambiente.
“Por pressões externas este é um tema que provavelmente não ficará de fora dos discursos. A partir do momento que as ações do atual governo federal são uma demonstração clara de desprezo pelo meio ambiente e as potências mundiais – Estados Unidos, China e União Europeia – sinalizam um boicote ao Brasil no nível de importação devido ao governo brasileiro não cumprir as tratativas de proteção ao meio ambiente, da Amazônia e a redução das queimadas, isso começa a gerar impacto econômico e o grande mercado brasileiro – o agronegócio – vai sentir”, pontua o cientista político.
O também cientista político, Pedro Célio Alves Borges, destaca que a pandemia permanecerá influenciando a confecção das propostas econômicas por parte dos candidatos e a atenção do público durante a campanha eleitoral do próximo ano. Isso deve ocorrer mesmo se a realidade for do pós-pandemia. “Estará no eixo das preocupações as orientações que se queira implementar para a recuperação da atividade produtiva, o que implica primeiramente em planos para gerar emprego e em segundo lugar reconstruir da confiança para conquista de novos investimentos”.
Segundo Pedro Célio, as carências na rede de atendimento público à saúde foi o tema mais ressaltado em todas as pesquisas nas maiores cidades, em 2020. Para ele, essa centralidade não está ligada apenas à pandemia da Covid-19, mas principalmente a entraves estruturais e perda de recurso e falta de pessoal e de medicamentos, decorrente de cortes vindos em ritmo crescente nos últimos cinco anos. “O cenário aponta também para o agravamento desse quadro. Mesmo se tivermos superado a pandemia, a questão da saúde continua como tormento que agoniza a vida dos brasileiros”.
Na avaliação de Alves Borges, a educação deve permanecer em segundo ou terceiro plano, sobretudo, pelas ações dos ministros indicamos pelo presidente Bolsonaro no gerenciamento da pasta. Em relação a infraestrutura, as “obras paralisadas e, ao que resta de potencial construtivo, o governo está enredado com o Centrão, cuja fatura para o apoio que fornece a Bolsonaro no Congresso Nacional veio na forma do ministério paralelo, carregado de compras superfaturadas para o setor agrícola”, deve também agregar aos debates políticos.
O cientista político, Guilherme Carvalho, avalia que o tema economia, mais uma vez, deve ser destaque também nesta eleição. Embora pode ser que não tenha a amplitude necessária no debate público. Para ele, inevitavelmente, a saúde tende a ganhar espaço, devido ao “grande assunto” que é a pandemia, sobretudo, aos candidatos com linha política-ideológica do centro, trazendo os erros e fracos do governo Bolsonaro na gestão da pandemia. “A saúde, inevitável, será o tema do principal porque ao que tudo indica devemos chegar até o final do ano com mais de 500 mil mortos Essa sem dúvida foi a maior derreta que o governo Bolsonaro sofreu durante o seu mandato por falta de ação”.
De acordo com Guilherme Carvalho, para além dos três eixos – economia, saúde e meio ambiente, sobretudo, com o agronegócio -, outra temática pontual é a “pauta de costumes”, que ganhou o cenário em 2018 e deve retornar a discurso na campanha eleitoral de 2022, principalmente por Bolsonaro. Assim, como segurança pública.
“O debate sobre segurança pública que foi pautado em 2018. A proposta foi de armar a população, mas não se pensou em medidas alternativas. E a tendência é continuar nisso. Não se discutiu o papel da educação e, principalmente, da distribuição de renda na redução da criminalidade, portanto todo debate sobre segurança pública perpassa apenas sobre a polícia e armamento da população. No entanto, em razão da pandemia a agenda da saúde pública tende a ganhar mais holofote do que agenda de segurança pública”, frisou Guilherme Carvalho.
Lideranças partidárias
A presidente estadual do Partido dos Trabalhadores em Goiás, Katia Maria, diz que a sigla deve lança em junho deste ano o “Plano de reconstrução e transformação do Brasil”. Segundo ela, a cúpula nacional do PT tem feito discussões para apontar caminhos para esse momento que o Brasil vive. Nesse sentido, o partido elaborou um projeto onde discutiu com vários especialistas e entidades como será possível reconstruir as políticas públicas e transformar o Brasil.
“Essa pauta passa pelo fortalecimento da democracia e aponta um novo modelo de vida, pautado na sustentabilidade e mostrando o que a crise gerou no sistema econômico e produtivo, buscando dentro deste cenário de forma integrada economia, desenvolvimento social e meio ambiente pode promover uma transição ecológica”.
Para Katia, é preciso pensar mecanismos de desenvolvimento a partir de uma nova lógica, amparando em políticas públicas que possam fortalecer a agricultura e o agronegócio em uma vertente mais sustentável para que possa promover o desenvolvimento econômico nessa base de estrutura social, produtiva e ambiental.
“Obviamente, temos a pauta da saúde e da educação das nossas prioridades. Com um olhar muito atencioso não apenas para 2022. É preciso garantir uma saúde pública e gratuita, de qualidade e acessível e neste momento de pandemia que nos vivemos é mais necessário ainda. Na área da educação temos um desmonte sistemático, sobretudo, nas universidades públicas com cortes no orçamento”.
O ex-deputado federal e presidente estadual do PSD, Vilmar Rocha, destaca que saúde, economia e a questão política veiculada a democracia são temais centrais de destaque nas eleições de 2022. “A pandemia mesmo entre em controle até o final do ano projetará consequências e debates políticos para o ano que. Inclusive com a avaliação do eleitorado como os gestores conduziram a pandemia. Além da educação como forma de reduzir as desigualdades sociais e a pobreza”.
Resgate das memórias afetivas
Outra questão levantada pelo cientista político, Marcos Marinho, é o resgate das memórias efetivas. “Temos uma escalada de negação da política e dos gestores e nada se mostrou na prática para resolver a dor do cidadão. Como o voto na grande maioria da população é zero racional. Mas sim, um voto do sentimento e da emoção. Eu imagino que em 2022 quem souber trabalhar o resgate das memórias afetivas vai ter algum potencial. Aquele que conseguir tocar o coração do eleitorado”.
Pedro Célio também destaca que devido a situação atual do país ainda estar muito condicionada pelos efeitos da pandemia e pelo aumento do desemprego. De maneira sintética, “estamos na dependência da vacinação. Sem vacina dificilmente teremos a confiança necessária para partir para o enfrentamento dos desafios que eram rotineiros e esperados e que retornaram aos debates de maneira mais dramática”.