Segundo Anac, são 114.578 drones registrados apenas em Goiás, e a média de cadastros por mês está crescendo

Drones

Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Goiás foi o décimo estado que mais cadastrou drones no país de janeiro a abril de 2022. Apenas no primeiro quadrimestre, foram inscritas 10.844 novas aeronaves remotamente pilotadas (ARP). No estado, são 114.578 drones registrados na Anac desde 2017, sendo que a média de drones inscritos por mês em Goiás subiu de 2.477 em 2021 para 2.711 em 2022. 

Novos drones cadastrados pela Anac | Imagem: Jornal Opção

A agência já registrava desde 2017 os veículos não tripulados, mas, desde junho deste ano, o registro é obrigatório para aeronaves com mais de 25 quilos, de acordo com o Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial (RBAC-E) nº 94. A nova regulamentação traz também normas sobre o uso dos drones por empresas. 

Segundo a agência, o motivo da nova regulamentação é o aumento do número de drones em uso recreativo e profissional. Este aumento, por sua vez, é explicado pela redução do custo do equipamento e pelos diversos usos que o equipamento vem ganhando nos últimos anos: além do lazer, empresas têm inovado com os drones utilizados em segurança; aplicação de agrotóxicos em lavouras; mapeamento e até entrega de encomendas. 

Nova legislação

Segundo a nova regulamentação da Anac, agora é necessário ter mais de 18 anos para pilotar remotamente aeronaves. O uso de drones é proibido a menos de 30 metros de pessoas não envolvidas com a sua operação. Para aeronaves acima de 25 quilos, agora é necessário seguro para cobrir danos a terceiros e é necessária licença e habilitação durante voos acima de 400 pés (120 metros). Também ficou proibido o transporte de pessoas, animais e artigos perigosos. 

Segundo a lei 7.565/1986, do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), quem discumprir as determinações pode ser multado, ter certificados, licenças ou autorizações suspensos ou cassados, e o piloto de um drone que infringir as orientações da legislação em vigor pode ainda ser detido.

Drones na plantação de soja 

A aplicação de defensivos agrícolas e nutrição foliar, normalmente feita por tratores com tanques pulverizadores, acarreta certo “amassamento” da soja, onde as rodas das máquinas passam. A perda dessas plantas – conhecido como acamamento – causa perdas de 10% de produtividade em área total, segundo Julio Pignata Branco, o diretor de vendas da EAVISION, empresa global de drones, com atuação em nível mundial desde 2016.

Foto: Reprodução/EAVISION

Dentro das vantagens do uso do drone agrícola, diz Julio Pignata Branco, o sistema de plantio tem verificado a eliminação do amassamento da soja, rapidez na aplicação, certeza do contato do produto com a planta, menor deriva, melhor alcance, melhor assertividade em alvos como fungos, insetos ou plantas daninhas. 

“Desta forma, o produtor tem menos perdas de produtos e ganhos na efetividade das aplicações”, aponta Julio Pignata Branco. “Além da possibilidade de realizar as aplicações em datas mais definidas, já que são rápidas, acertando assim o momento exato que a planta precisa dos produtos, principalmente para nutrição que devem ser aplicados no estágio exato, para melhor contribuição com seus processos metabólicos”, detalha.

Foto: Reprodução/EAVISION

Outra vantagem operacional citada por Julio Pignata Branco é a calda de produtos, que não precisa ser grande, facilitando o manuseio e não ocorrendo sobras, evitando desperdício, uso impróprio de produtos e melhorando a sustentabilidade do meio ambiente. “Além disso, o fato de diminuir as derivas, não deixam que os produtos afetem a natureza ao redor, matas, animais, plantações, nascentes ou rios”, afirma.

Drones nas florestas

Um drone e um sensor LIDAR (do inglês Light Detection and Ranging) de última geração estão sendo utilizados no mapeamento em três dimensões de florestas pela climate tech brCarbon – empresa que promove soluções climáticas naturais com recursos financeiros do mercado de carbono. O objetivo é proporcionar precisão para mensuração, reporte e verificação dos estoques de carbono florestal. A empresa, que tem sede em Piracicaba (SP), começou a utilizar a ferramenta neste ano, adicionalmente às medições realizadas em campo. Ainda em fase de testes, a aplicação da tecnologia começou na região de caatinga e da floresta amazônica. 

Com o sistema drone, é realizada a contagem de árvores, o georreferenciamento, a medição indireta de altura, a medição da área e do diâmetro de copas, a identificação e quantificação de clareiras, além da mortalidade de árvores. “O ganho é expressivo. Por exemplo, para fazer o levantamento de uma mesma área em que, no trabalho tradicional de campo, manual, precisávamos de uma equipe de 10 pessoas operando durante até 15 dias, agora precisamos de apenas três pessoas trabalhando até 10 dias com o aerolevantamento via drone”, compara o engenheiro florestal Renan Kamimura, diretor técnico da brCarbon. O alcance também é muito maior. Um único sobrevoo com o drone mapeia entre 80 a 100 hectares. Com o método tradicional de mensuração, com uma equipe de 10 pessoas trabalhando, o rendimento médio é de um hectare por dia.

Drones
Foto: Reprodução/brCarbon

O uso do LIDAR aerotransportado é amplamente utilizado na Europa e nos Estados Unidos para diversas aplicações florestais, como mapeamento de clareiras, identificação de pragas e doenças, combate a incêndios florestais, estudos e pesquisas ecológicas. Agora, o mapeamento com os drones também está inovando o trabalho de conservação das florestas brasileiras. “A principal função do uso do nosso drone é quantificar o carbono estocado nas florestas em nossos projetos. É, também, uma outra perspectiva de observar e conhecer a floresta, vista de cima, pelo alto. Ver a floresta de maneira tridimensional, essa é a grande inovação, mensurando a altura das árvores e das florestas com mais precisão”, destaca Kamimura. Apenas com o LIDAR aerotransportado é que foi possível medir a árvore mais alta da Amazônia.

Em fase de teste, o mapeamento aéreo ainda é usado paralelamente ao sistema tradicional. Os dados levantados com o drone são comparados com as informações coletadas em campo, proporcionando maior confiabilidade e qualidade ao inventário florestal em projetos de carbono. Após esse período inicial, a ideia é validar a metodologia e publicar artigos em revistas especializadas. Neste contexto, será possível incorporar o sistema à rotina entre 2023 e 2024, reduzindo o esforço amostral em campo. Kamimura explica que a principal barreira para a disseminação do uso do LIDAR era o custo operacional, pois era necessário o aluguel de um avião para tanto. Agora, com o drone, o custo operacional é reduzido. Para os testes, a brCarbon firmou cooperações técnicas com instituições do terceiro setor, empresas, institutos de pesquisa e universidades.

Drones no delivery

Segundo Caio Reina, CEO e fundador da RoutEasy e mestre em Logística e Engenharia de Transportes pela Poli USP, as entregas com drone deixaram de ser o futuro e se tornaram realidade quando, em 2013, o CEO da Amazon, Jeff Bezos, anunciou pela primeira vez planos de realizar esse serviço para o envio mais rápido dos produtos. Contudo, ainda existem grandes desafios para viabilizar a utilização desse novo modal em larga escala.

Em termos econômicos, a eficiência de entregas é direcionada por dois principais fatores: densidade das rotas e tamanho dos pedidos. A densidade de rota é o número de entregas que são realizadas em um determinado roteiro e o tamanho do pedido é a quantidade e as dimensões de cada caixa ou pacote da entrega.

Caio Reina afirma que, na logística de distribuição, ao se realizar uma grande quantidade de entregas em um curto período de tempo ou distância, o custo por entrega é diluído e a operação se torna mais eficiente. É nesse sentido que as entregas com drone são mais viáveis em percursos de curta distância em relação aos veículos tradicionais. Contudo, esse novo modelo tem limitações importantes que devem ser consideradas nos estudos de viabilidade.

Os tipos de drones disponíveis no mercado, usualmente, conseguem carregar apenas uma caixa e, depois que a entrega é realizada, o drone tem que voltar para o seu ponto de origem para que seja recarregado e retire a próxima caixa a ser entregue.

“Comparando esses fatos com o estado de entregas com caminhões, um Veículo Urbano de Carga (VUC) entrega em média 50 pedidos por dia, em áreas com entregas bem densas. Dessa forma, pode até ser difícil imaginar como os drones podem ser uma melhor opção. Mesmo assim, os drones também têm vantagens: podem ser operados sem um piloto humano; utilizam o espaço aéreo que não está congestionado; são mais rápidos do que caminhões e o índice custo/km é muito menor que o dos caminhões”, diz Caio Reina.

“Uma primeira ideia que está nos planos da Amazon é simplesmente substituir o caminhão pelo drone”, diz Caio Reima | Foto: Reprodução

Portanto, diferentes modelos operacionais podem ser criados para diferentes aplicações. Uma primeira ideia que está nos planos da Amazon é simplesmente substituir o caminhão pelo drone, ou seja, o drone sairia do depósito, entregaria um pedido na casa de um cliente e retornaria ao depósito. A empresa afirmou recentemente que pretende iniciar ainda em 2022 suas primeiras entregas com drones nos Estados Unidos.

Uma outra empresa chamada Matternet está adotando uma proposta diferente da Amazon que visualiza drones realizando entregas no jardim da casa de uma pessoa. Essa é uma abordagem interessante para áreas rurais ou suburbanas. Contudo, fazer isso em um grande centro urbano, no qual os clientes não têm uma área apropriada para receber as entregas, pode não ser viável.

A proposta da Matternet é criar estações ao redor da cidade, onde as pessoas possam entregar e receber pedidos, como uma caixa de correio para drones. O remetente insere uma caixa em um guarda-volumes da estação e, em seguida, um drone retira esse pedido para levá-lo a uma outra estação da cidade. Ao chegar à estação de destino, o drone deixa o pedido no guarda-volumes para que o destinatário retire sua encomenda.

Uma aplicação que a Matternet visualiza é o transporte de amostras de exames – como bolsas de sangue – entre hospitais. Esse é um mercado com grande potencial, pois amostras de exames são perecíveis e precisam ser transportadas em um tempo bastante restrito. Além disso, os hospitais têm gastos muito elevados fazendo esse tipo de movimentação com transportadoras e ficam reféns das condições de tráfego na cidade.

Por fim, um outro modelo operacional bastante promissor é aquele que combina as vantagens dos caminhões com os drones. Um caminhão pode partir do depósito transportando todos os pedidos dos clientes e um drone. Caio Reina comenta: “À medida que o caminhão faz entregas, o drone é enviado a partir do caminhão para entregar o pedido de um cliente que esteja próximo. Enquanto o drone está em serviço, o caminhão continua sua rota e, depois,o drone retorna ao caminhão assim que terminar o serviço em um local diferente do seu ponto inicial de partida”.

A tecnologia para entregas com drones já está presente em nossa realidade e muitos modelos de entregas já foram propostos. A JD.com, segunda maior empresa chinesa que atua no mercado de comércio eletrônico (após o Alibaba), já utiliza drones em algumas operações em áreas montanhosas ou remotas. No Brasil, o uso dessa tecnologia depende do avanço das regulamentações e da legislação para que seja implantado. Com isso, poderemos testar outros modelos de otimização de rotas, reduzir ainda mais os custos e continuar implementando iniciativas que incentivem o progresso do setor.