Darci Accorsi fez uma boa gestão em Goiânia? Confira
24 março 2024 às 00h01
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Darci Accorsi nasceu em 13 de junho de 1945, em Nova Prata – RS, filho de Antônio Accorsi e Maria Elena Agostini Accorsi. Darci graduou-se em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul. Mudou-se para Goiás em 1972 e começou a lecionar na rede municipal de Itapuranga. Posteriormente, tornou-se professor na Universidade Federal de Goiás e na Universidade Católica de Goiás.
Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) em Goiás e candidatou-se a deputado federal em 1982. Disputou a eleição para prefeito de Goiânia em 1985, sendo derrotado por Daniel Antônio por uma pequena margem de votos. Após não vencer a disputa pelo governo de Goiás em 1986, foi eleito vereador em Goiânia em 1988, deputado estadual em 1990 e finalmente prefeito de Goiânia em 1992.
Durante sua gestão como prefeito (1993-1996), enfrentou controvérsias com membros de seu partido e acabou deixando o PT ao final do mandato. Criou o “Orçamento Participativo”, também conhecido como “Goiânia Viva”, e lançou o projeto “Cidadão 2000”, voltado para assistência social a crianças e jovens de baixa renda.
Depois de passar pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e candidatou-se, sem sucesso, a deputado estadual em 1998 e 2002, e à prefeitura de Goiânia em 2000, sendo derrotado no segundo turno por Pedro Wilson Guimarães. Posteriormente, filiou-se ao Partido Liberal (PL) e foi derrotado novamente na eleição para prefeito de Goiânia em 2004.
Darci foi presidente da Indústria Química do Estado de Goiás (IQUEGO), mas deixou o cargo após enfrentar denúncias de corrupção. Foi preso, mas posteriormente absolvido das acusações. Em 2006, candidatou-se novamente a deputado estadual, sem sucesso. Em 2009, retornou ao PT. Darci é pai da deputada federal Adriana Accorsi, pré-candidata a prefeita de Goiânia pelo PT.
Entre as realizações de Darci Accorsi que impactaram positivamente a vida dos habitantes de Goiânia, segundo ex-secretários, estão a construção do Parque Vaca Brava, Areião, Residencial Goiânia Viva, Avenida Perimetral Norte, finalização da Marginal Botafogo, pavimentação de diversos bairros, implementação de programas sociais e o projeto “Cidadão 2000”, entre outros.
Recentemente, o prefeito Rogério Cruz inaugurou uma praça no Park Lozandes com o nome de Praça Darci Accorsi, em homenagem ao ex-prefeito. “Darci Accorsi lançou as bases da Goiânia que conhecemos. Uma cidade verde, com forte preocupação social. Esta praça é uma homenagem a um homem que dedicou sua vida ao trabalho em prol da nossa capital”, destacou o prefeito.
Darci Accorsi faleceu aos 69 anos, em 20 de novembro de 2014, em Goiânia, vítima de complicações de um câncer na coluna.
Para entender melhor como foi a administração deste saudoso prefeito, o Jornal Opção entrevistou secretários que o auxiliaram durante sua gestão, além de representantes empresariais e políticos de oposição da época.
Ex-secretários
Marina Santana foi vereadora eleita juntamente com Darci Accorsi em 1988, que segundo ela, foi a primeira bancada do PT na câmara da capital. Marina foi vereadora por três mandatos e liderou a sigla em Goiânia durante a gestão de Darci. Ela explica que o gestor terminou o mandato com mais de 90% de aprovação, número que nenhum outro havia conseguido anteriormente. Contudo, como não tinha reeleição, Darci não pôde disputar o pleito seguinte.
Marina Santana lembra que o Partido dos Trabalhadores levantava a bandeira contra a fome e na administração de Darci essa foi uma pauta bastante difundida. “O Darci estabeleceu políticas públicas de abastecimento no combate à fome, porém, ele se preocupava com todas as demandas da população. Como professor, ele atentava para uma boa educação, fato que realmente aconteceu em sua gestão”, diz.
A ex-vereadora relembra que o prefeito tinha uma atenção especial com os adolescentes e jovens da periferia e, por isso, criou um programa de iniciação esportiva. “Foram contratados pela prefeitura ex-jogadores de futebol, já que a demanda da época era o futebol, para auxiliar as crianças, adolescentes e jovens. Mas não ficava somente no futebol, na verdade, foi apenas uma porta para que outros serviços chegassem até esses bairros, como psicólogos e assistentes sociais, que faziam visitas às famílias quando era percebido comportamentos diferenciados desses alunos. Isso logo ganhou um apoio popular muito grande.”
Outro fator relevante da administração do gestor, de acordo com ela, foi a regularização de alguns loteamentos na capital, como a Vila Concórdia. “Até então, os moradores desses bairros sofriam com assédios de grileiros que chegavam dizendo que tinham documentos da terra e expulsavam os moradores que já haviam se consolidado nesses setores. A legalização desses bairros era muito importante para essas pessoas”, avalia.
Na área da cultura, Marina conta que aconteceu a regulamentação da Lei de Incentivo à Cultura, que era um desdobramento de um projeto de lei apresentado pela própria vereadora. Na saúde, ele promoveu a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Houve realmente uma mudança nas chamadas políticas públicas, com investimentos que atingiram toda a cidade, com obras e todos os cuidados que são exigidos de uma gestão responsável.”
Marina Santana, que chegou a presidir a Câmara Municipal, recorda que na relação do Executivo com o Legislativo, havia momentos de harmonia, mas também de tensionamentos, o que para ela é normal no processo político. “Um desses momentos de tensionamento foi na votação do orçamento participativo, pois muitos vereadores não entenderam, em primeiro momento, a grande relevância desse projeto. Mas, no geral, Darci mantinha um bom diálogo e respeitava o poder legislativo”, afirma.
Luis Cesar Bueno, ex-vereador por duas vezes e ex-deputado estadual em quatro ocasiões, atuou como diretor de tributação da Secretaria de Finanças durante todo o mandato na gestão do ex-prefeito. O ex-diretor destaca que a administração de Darci Accorsi foi considerada a mais popular do Brasil, segundo uma pesquisa Datafolha, ficando atrás apenas do prefeito de Fortaleza.
Luis Cesar Bueno ressalta que o político era muito preocupado com a questão social e, por esse motivo, criou diversos programas nesse sentido. Ele destaca a criação do programa “Cidadão 2000”. A inclusão de meninos e meninas de rua e a moradia popular para as pessoas mais necessitadas também eram parte da administração do ex-prefeito.
O ex-deputado rememora que havia um temor entre parte dos servidores e políticos de oposição de que, por ser um partido de esquerda e especialmente o PT, sem experiência em gestão, não conseguiria pagar a folha do primeiro mês e que não completaria três meses no governo. “Existia uma bolsa de apostas na Câmara Municipal que acreditava na desistência de Darci”, relata.
Luis Cesar sublinha que a ordem do prefeito era melhorar as finanças públicas e garantir a cobrança dos impostos, reduzindo a inadimplência que só crescia, principalmente entre os empresários do ramo imobiliário. Após as negociações com esses devedores, a determinação era iniciar os investimentos em obras. “Uma parcela significativa da cidade ainda não tinha asfalto e existia um déficit muito grande na área da habitação popular. Lembro que tínhamos dois mil contratos de casa própria com a Caixa Econômica Federal, mas não possuíamos os lotes. Então, Darci nos autorizou a negociar com um dos maiores devedores de IPTU da época, o senhor Lourival Lousa. Para sanar os débitos, ele propôs doar para a prefeitura a área que hoje é o Residencial Goiânia Viva, ao lado da Eternit”, lembra.
Luis Cesar Bueno destaca que Goiânia carecia de investimentos em infraestrutura viária e que o gestor ordenou que fosse seguido o Plano Diretor de 1985 e iniciadas obras de grande importância para a mobilidade da capital. “Construímos a Avenida Perimetral Norte, demos início à construção da Marginal Cascavel e Marginal Capim Puba (paradas até hoje) e continuamos com a Marginal Botafogo. Neste contexto, ainda realizamos duas ações relevantes em Goiânia: a mudança da Feira Hippie da Avenida Goiás para a região da 44 e fixamos também a Feira da Lua, na Praça Tamandaré, no Setor Oeste.”
O ex-vereador esclarece que Darci Accorsi só não foi reeleito porque na época não existia reeleição e, além disso, o partido estava passando por uma disputa interna que prejudicou a continuidade do PT no comando da capital, provocando a saída de Darci do partido por um período.
Para Osmar Pires Martins, secretário do meio ambiente na gestão de Darci Accorsi, a secretaria, com o apoio do gestor e da sua Administração revolucionária, por meio do titular da Pasta do Meio Ambiente – um técnico concursado do Setor Público – e ao lado do Assessor de Planejamento Ambiental, do Contencioso de Posturas Ambientais, dos Coordenadores de Fiscalização, de Desenvolvimento Ambiental, de Educação Ambiental, do Jardim Botânico e de Serviços Administrativos, bem como do Coordenador de Serviços Administrativos da Fundação Museu de Ornitologia, instituiu a Política Municipal do Meio Ambiente. Criou todos os instrumentos legalmente previstos, alinhados ao art. 225 da Constituição Federal, estabeleceu a Secretaria, o Fundo Municipal do Meio Ambiente e efetivou políticas ambientais estratégicas.
A gestão ainda resgatou o Plano Original de Goiânia, elaborado por Attílio Corrêa Lima e Armando Augusto de Godoy, aprovado pelo Decreto-Lei 90-A, de 30/07/1938. Os parques municipais apresentaram um balanço dos trabalhos realizados na área do meio ambiente no período de 1993 a 1996.
Osmar Pires recorda que a secretaria, até então, não possuía uma sede apropriada e tinha uma estrutura limitada. “Até dezembro de 1992, o órgão funcionava em duas salas acanhadas no Centro Livre de Artes do Bosque dos Buritis; não possuía a mínima estrutura para o funcionamento e cumprimento das suas competências constitucionais e contava com apenas três servidores no seu quadro”, descreve.
O ex-secretário relata que a linha telefônica era emprestada da Secretaria de Cultura; não existia fiscalização ambiental com o consequente poder de polícia, e nenhum fiscal de postura municipal jamais havia aberto um processo sequer sobre agressão ambiental em toda a história da cidade de Goiânia.
De acordo com Osmar Pires, esta ausência de um órgão ambiental foi decisiva para que Goiânia tivesse o seu patrimônio ambiental violentamente dilapidado. “Somente no perímetro delimitado pelo Plano Original da Cidade, aprovado pelo Decreto-Lei 90-A, de 30.07.38, perderam-se 3,5 milhões de m2 de áreas públicas verdes do traçado histórico”, explica.
Osmar Pires detalha que os parques históricos foram recuperados – Vaca Brava, Areião, Botafogo, Linear Botafogo, Jardim Botânico, Jaó, Carmo Bernardes (Atheneu-Mariliza) e outros. Ele assegura que Darci Accorsi resgatou o plano original do autor e arquiteto-urbanista Attílio Corrêa Lima.
“Para se ter ideia disso, desde o Batismo Cultura, em 1942, quando Attílio aqui esteve a convite de Pedro Ludovico, em nenhum outro momento, nem ele (que faleceu de acidente de avião logo após o Batismo) e nenhum parente seu fora convidado a visitar Goiânia. Pois bem. O Prefeito Darci Accorsi convidou o filho de Attílio, Bruno, a esposa deste e a neta de Attílio, Rachel Corrêa Lima – museóloga da UFRJ, como convidados de honra, para a festa de premiação dos vencedores de um concurso nacional, promovido pelo Município de Goiânia, que escolheu o personagem ambientalista símbolo de Goiânia. O vencedor foi Tilica, uma cigarra estilizada no corpo central do traçado original, cujo nome homenageia Attílio”, conta com detalhes.
O secretário enfatiza que Darci Accorsi resgatou o berço ecológico de Goiânia. Ele destaca que foram inúmeras ações em prol do meio ambiente na gestão do petista, que fazia jus ao nome de um dos programas que se chamava – Goiânia Sempre Verde, com prioridade para a arborização urbana e reflorestamento de unidades de conservação, mas sem esquecer a educação ambiental.
Oposição
Para Luiz Bittencourt, que era deputado estadual pelo PMDB, partido de oposição, Darci Accorsi deixou boas lembranças. “Tenho boas recordações do Darci Accorsi. Participávamos da política em partidos diferentes, campos opostos. Tínhamos diferenças, mas como Prefeito de Goiânia, foi um bom gestor. Deu atenção à participação popular na gestão municipal e acabou com o elitismo do seu antecessor, Nion Albernaz, na prefeitura. Era sensato, muito equilibrado e manteve a administração sob controle sem cometer desatinos. Foi um bom prefeito para nossa capital. Fizemos uma parceria política no segundo turno das eleições municipais de 1996, quando o conheci melhor. Idealista, inteligente, honesto, democrata, franco, simples e despojado de vaidades, um homem de bem”, pondera Luiz Bittencourt.
Luiz Bittencourt, que foi presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), afirma que Darci Accorsi era um homem de diálogo. Ele enumera algumas obras de relevância na cidade: “Fez muito asfalto nas ruas da capital, implantou os Parques Vaca Brava, Areião e Botafogo, o Bairro Residencial Goiânia Viva, inovou com o Orçamento Participativo, criou o programa social Cidadão 2000 para atender jovens e crianças, e modernizou o Aterro Sanitário de Goiânia, entre outras ações. Foi um bom prefeito”, conclui.
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