Conheça o goiano que se tornou barão na Escócia

07 julho 2024 às 00h00

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Inventor, ex-soldado do Exército de Israel, empresário e, acima de tudo, barão. Assim se apresenta Camilo Agasim-Pereira of Fulwood, o Barão de Fulwood. Camilo nasceu no bairro de Campinas, em Goiânia, onde residiu até meados de sua adolescência. Desde jovem, era reconhecido em Goiás e em algumas regiões do Brasil por ser inventor.
Aos 14 anos, Camilo Pereira, como era chamado à época, inventou uma balsa semi-motorizada, feita na oficina mecânica de seu pai, que o colocou nos holofotes da imprensa e iniciou uma carreira de inventor. Pouco tempo depois, Camilo criou um ferro para marcar gado aquecido à gás. Com suas invenções, Camilo venceu um dos primeiros prêmios da feira de ciência de Goiânia, o que o levou a participar de uma feira de ciências em Blumenau, Santa Catarina.
Na época, Dr. César Baiocchi era o diretor da fundação Inca Goiás, instituto que incentivava a pesquisa científica, a difusão cultural e a educação. Ao voltar para a capital goiana, Camilo Pereira descobriu que o Dr. César Baiocchi teria dado uma bolsa de estudos nos Estados Unidos para a Miss Goiás. O adolescente foi então ao prédio do Inca, se encontrou com César Baiocchi e disse: “O senhor deu uma bolsa de estudo para a mulher mais bonita de Goiás. Aparentemente, eu sou o rapaz mais inteligente de Goiás, então também quero ganhar uma bolsa de estudos”.
Essa foi a primeira vez que o jovem inventor, que hoje possui seis cidadanias, teve a oportunidade de descobrir o mundo. “Meu tio vendeu um lote para complementar o custeio de minha estadia nos Estados Unidos”, explica Camilo Agasim-Pereira of Fulwood em entrevista na redação do Jornal Opção.
Após completar seus estudos nos Estados Unidos, Camilo voltou à Goiânia e, durante o governo de Irapuan Costa Júnior (1975 à 1979) foi trabalhar como office boy no Palácio. “Irapuan sempre me apoiou de uma forma que as pessoas na época não entendiam, porque eu era um garoto. Mas ele me recebia, me tratava bem, me levava pra almoçar, jantar dentro do palácio”, disse.
Após o período como office boy no Palácio das Esmeraldas, Camilo se mudou para Recife, no Pernambuco. Entretanto, ele sentia que a vontade de desbravar o mundo era maior. Em 1979, já aos 19 anos, conseguiu um emprego vendendo livros em um navio evangélico que viajava pela costa de Portugal, Espanha e alguns países da África.
O jovem não voltou tão cedo para o Brasil. Desembarcou na Europa, visitou a União Soviética, Portugal, Espanha e Holanda. Em Amsterdam, Camilo conheceu um israelense que lhe deu uma carta de recomendação e uma moradia em Tel Aviv, em Israel. Camilo então decidiu se mudar definitivamente ao país. Vindo de família judaica, ele enfrentou dificuldades para ser reconhecido como judeu, mas eventualmente a Corte Rabínica o reconheceu. O jovem e se naturalizou israelense após ser reconhecido como judeu pelas instituições religiosas de Israel.
Ao conseguir cidadania, Camilo Pereira fez seu treinamento no Exército, obrigatório para cidadãos israelenses e, após tirar breves férias, foi escalado para a invasão do Libano de 1982. A invasão israelense ao Libano durou cerca de três anos. Camilo fez parte de um dos esquadrões que tomaram a capital libanesa, Beirute, dois meses após o início do conflito.
Ainda durante o conflito, o soldado foi escalado para trabalhar com o governo de Israel na área de segurança em Paris e, logo em seguida, foi relocado mais uma vez, desta vez para a Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde era assistente enviado do Estado de Israel. No ano seguinte Camilo voltou ao Brasil e, após um ano, retornou à Israel.
Camilo viveu em Israel até meados de 1987, quando voltou ao Brasil mais uma vez para trabalhar com hotelaria e, no ano seguinte, foi contratado por um hotel de Botsuana, país no Sul da África. Por conta da proximidade com a África do Sul, Camilo Pereira resolveu se mudar para Joanesburgo, onde abriu uma rede de pizzarias.
Com o fim do Apartheid, houve um período de transição no país africano que, segundo o Barão, trouxe certo caos ao país. Camilo, então, decidiu se aventurar mais uma vez, desta vez nos Estados Unidos. No país norte-americano, ele voltou a inovar, inventando uma fritadeira de água e óleo e decidiu fabricar equipamentos e vendé-los. O negócio deu certo e abriu espaço para novos empreendimentos tanto nos Estados Unidos quanto na África do Sul e fez Camilo viver em uma constante ponte aérea entre Miami e Joanesburgo.
Ainda na África do Sul, Camilo Pereira diz ter descoberto que ex-sócios de uma de suas empresas estariam cometendo fraudes. “Fizemos uma auditoria e descobriu que o pessoal estava roubando dinheiro. Quando eu estava para dar um bote neles, alguém do escritório de auditoria vazou isso. Um dia, a polícia bate na minha porta e diz que tinha drogas na minha casa. Não encontraram nada mas apareceu uma notinha no jornal que a polícia tinha na minha casa e a imprensa começou a me atacar de todos os lados”, relata.
“Depois fui acusado de ser distribuidor de armas, mas isso não tinha base, apareceram matérias em tudo quanto é jornal. Todo lado que eu virava era um problema. Aí eu pedi para me afastar como Cônsul de Moçambique, temporariamente, enquanto se resolvia tudo. Eventualmente, eu tive que ir para a África do Sul, eu fiquei detido uns dois, três dias, depois eu fiquei na minha casa, enquanto tudo se resolveu”, explica.
Camilo nega todas as acusações e afirma que tudo se resolveu e que, até a Interpol, Organização Internacional de Polícia Criminal, documentou que ele não era procurado e que foi inocentado de todas as acusações na África do Sul. Ele afirma ter sido incriminado na situação.
Baronato
Após as acusações na África do Sul, Camilo decidiu comprar um castelo na Escócia, para onde se mudou. Ao adentrar a comunidade, o ainda Camilo Pereira se tornou patrono da Academia Real de Arte e teve um grande envolvimento com o incentivo às artes no país.
Mesmo não morando na região de Fulwood, Camilo conseguiu que o título de Barão de Fulwood fosse recriado e transferido para sua família já que, no Reino Unido, um título de nobreza só pode ser transferido se a Coroa recriá-lo. Esse foi o momento em que Camilo Pereira de Souza Neto se tornou Camilo Agasim-Pereira of Fulwood. Além de Fulwood, o título de Barão de Dirleton foi reestabelecido para Camilo então, na Escócia, ele é conhecido como Barão de Fulwood e Dirleton.
“Então eu fiquei Barão de Fulwood e Dirleton, que são os dois títulos que estão no meu passaporte britânico. O meu nome nos meus documentos aqui no Brasil, como foi um ato oficial de governo, foi mudado no meu registro civil pra ajustar com o nome que tenho após da publicação do título em diário oficial”, contou ao Jornal Opção.
Dias atuais
Hoje, Barão Camilo vive em uma fazenda em Portugal, onde planta folhas de louro para a fabricação de medicamentos. Além disso, o Barão se tornou ativo na luta por acesso ao Canabidiol, medicamento a base da Cannabis. Ainda durante o governo Bolsonaro, Camilo buscou formas de desenvolver medicamentos a base de Cannabis no Brasil, mas a legislação não avançou.
No Brasil, o Barão tem o projeto de criar um banco digital voltado ao produtor rural. O banco, segundo Camilo, é uma promessa feita por ele ao ex-governador de Goiás Irapuan Costa Junior, que lhe deu um emprego em sua adolescencia e com quem possui uma grande amizade até os dias atuais.
“Acredito que as pessoas que sabem usar as oportunidades conseguem crescer com elas. Eu acho que isso foi a única diferença de mim para qualquer pessoa aqui de Goiânia. O doutor Irapuan sempre disse que deu oportunidade para muitas pessoas, mas nem todo mundo embarcou. Eu tentei embarcar e tentei fazer o melhor que eu podia”, completa.