Conheça o destino partidário dos vereadores que buscarão a reeleição em 2020
02 fevereiro 2020 às 00h00
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A maioria dos vereadores já se preparam para encarar o período eleitoral diante das novas regras do jogo. Um já desistiu da disputa. Outros, apesar de anunciarem que tentarão a reeleição, garantem que não será pela mesma sigla. E há, ainda, quem descarte qualquer mudança de estratégia política
Em abril deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve abrir por 30 dias a chamada “janela partidária”. Com ela, políticos que queiram se reeleger podem trocar de partido pelo período de um mês, sem perder o mandato, antes que sejam anunciadas as candidaturas e se iniciem as campanhas.
Com as mudanças na legislação eleitoral e a perda das coligações proporcionais, os partidos deverão investir nos próprios puxadores de votos para conseguir cadeiras nas câmaras municipais. Candidatos também vão buscar partidos que sejam mais fortes para confiarem suas candidaturas. Com isso, quem pretende se eleger ou reeleger já começa a analisar e articular o cenário para diminuir riscos em outubro, quando chegar a vez das urnas dizer quem atuará a frente do município pelos próximos quatro anos.
Meio a este cenário, o Jornal Opção conversou com alguns dos vereadores que integram a Câmara Municipal de Goiânia nesta legislatura. A maioria já se prepara para encarar o período eleitoral diante das novas regras do jogo, mas não todos. Um já desistiu da disputa. Outros, apesar de anunciarem que tentarão a reeleição, garantem que não será pela mesma sigla. E há, ainda, quem descarta qualquer mudança de estratégia política.
Uma mudança certa permeia sobre o destino do líder do prefeito Iris Rezende (MDB), vereador Oséias Varão (Sem partido). Vale lembrar que ele já está fora de seu “partido de origem”. “O PSB pediu meu afastamento e hoje sou um vereador sem partido”. À reportagem, Varão disse que está analisando qual será o seu destino e assegurou que deverá escolher “no prazo final” legalmente permitido. “Existem alguns partidos que tenho mais afinidade, como o MDB, DEM e o Novo, mas ainda não batemos o martelo”, acrescentou.
Outro que deixará sua sigla de origem é o vereador Paulo Daher (DEM) que já anunciou, inclusive, sua saída do Democratas. Ele irá para o PMN. Ao Jornal Opção Daher lembrou que durante muito tempo apoiou o governador Ronaldo Caiado — uma das principais lideranças do DEM no Estado — e que a legenda de oposição — o PMN — será um divisor de águas na política goiana. “Estou deixando o DEM de cabeça erguida, com a certeza de que demos uma contribuição muito importante. Fui o primeiro e o único, durante muito tempo na Câmara, a levantar coro em favor do governador Ronaldo Caiado. Sofremos todo tipo de represálias e retaliações do ex-governador, mas nunca me curvei, na certeza de que estávamos lutando pelo melhor para o Estado de Goiás”. Ele lembrou ainda que “o PMN foi o primeiro partido a compor a frente de oposição em Goiás. É constituído por mulheres e homens de luta, tem militância fiel e será um divisor de águas na política goiana” afirmou.
O vereador Carlim Café (Cidadania) também adiantou à reportagem que a possibilidade de que ele fique no partido é “praticamente zero”. “Nunca tive proximidade com os dirigentes. Respeito cada um deles, mas se tivessem interesse na minha permanência já teriam me ligado ou me convidado a participar da tomada de decisões para que pudesse acompanhar mais de perto o que tem sido feito pela sigla”, disse. Café também destacou que, assim que a lei o permitir, deverá se aliar ao MDB. “Me identifico muito com o partido e tenho lealdade ao prefeito”, pontuou.
Quanto a Dra. Cristina, esta também já está definida. Em dezembro a tucana se rendeu aos encantos do PL, de Magda Mofatto. As negociações para sua ida à sigla tiveram como ponto central a candidatura à Prefeitura da capital em 2020. À época, a parlamentar estava com conversas adiantadas com o PDT, inclusive com manifestação explícita do presidente nacional do partido, Carlos Luppi. No entanto, o peso do PL falou mais alto. “Vim com a segurança de defender as minhas pautas e compromissos da minha vida pública”, disse a pré-candidata.
Dentre as possíveis mudanças também está o vereador Tiãozinho Porto (Pros). À reportagem ele adiantou que irá conversar com o presidente estadual do partido, Wilder Morais, sobre o assunto já nesta próxima semana. “Já recebi convites de outros partidos políticos, mas estamos tentando construir um Pros forte. A princípio devo permanecer no Pros, mas se não houver consenso devo pensar em outro partido”. Questionado sobre qual seria esta sigla, ele lembrou de sua proximidade com o prefeito Iris Rezende — filiado ao MDB. “Tenho uma ligação muito forte com o prefeito. Antes de tudo ele já era meu líder político. Mas além do MDB também tenho um carinho especial pelo DEM”, disse. O vereador disse ter sido procurado pelo PSD e PP que deixaram “as portas abertas”.
Ainda no time dos mais suscetíveis a possíveis mudanças está o vereador Denício Trindade (Solidariedade). “A tendência maior é que eu mude. Devo buscar viabilizar nossos projetos e estou em busca da melhor proposta”, disse. O parlamentar revelou ter sido procurado pelo MDB, DEM, PSD e PP. “Por conta da amizade e do histórico político de Iris Rezende, sua candidatura à reeleição, ou não, vai influenciar na minha decisão sobre o MDB”, disse o parlamentar que considera esta a “maior possibilidade”. Sua migração para o partido de Iris Rezende seria, não só por uma questão estratégica, “mas também ideológica”.
Gustavo Cruvinel (PV), por sua vez, foi incisivo ao ser questionado sobre o assunto: “Já fui convidado por vários partidos, mas estou na fase de conversação e ainda não há nada definido”. Nos bastidores, comenta-se que a tendência é de que ele migre.
A vereadora Sabrina Garcêz (Sem partido) confirmou que seguirá os passos do senador Vanderlan Cardoso na escolha da nova sigla. “Se ele falou que irá para o PSD, eu vou para o PSD”, declarou a parlamentar. Vale lembrar que Vanderlan pode disputar a prefeitura de Goiânia e isso, na visão de Sabrina, pode mudar o tabuleiro político. que havia se configurado até agora. Com as novas regras eleitorais, Sabrina aposta no fortalecimento de partidos com candidatos próprios à prefeitura. E, com o nome forte de Vanderlan na cabeça de chapa, o PSD deve atrair muitos vereadores em busca de mandato. “Tínhamos muita expectativa na chapa do MDB, mas com a entrada do Vanderlan na disputa deve mexer ainda mais com o tabuleiro da eleição”, afirmou a vereadora que também é tida como um dos nomes mais atuantes desta legislatura. Além do PSD, a vereadora também dialoga com o PP. Nos bastidores, há quem especule sua ida para o MDB.
Devem permanecer
Zander Fábio (Patriota), por sua vez, disse que tende a continuar no partido. “Havendo condições favoráveis devo permanecer”, declarou o parlamentar ao Jornal Opção. Para ele, o Patriota é o que melhor oferece condições para enfrentar uma nova disputa na capital. Apesar de vislumbrar um cenário positivo para disputar pelo Patriota, o vereador não descarta a possibilidade de desfiliação caso o partido caso o mesmo não lhe dê “condições”. Ele, inclusive, já confessou ter recebido convites do PP, MDB, PSDB e, até mesmo, do PCdoB. “Sou versátil”, brincou.
O jovem Lucas Kitão (PSL) é tido atualmente como um dos maiores destaques da Câmara Municipal de Goiânia. Ele esteve à frente de projetos polêmicos que tramitaram pelo Legislativo municipal ao longo dos últimos anos. Kitão buscará a reeleição e, apesar de ser quisto por muitas siglas, tende a continuar no PSL. Em sua interpretação, as perspectivas do partido em 2020 “são as melhores”. O presidente estadual da sigla, deputado federal Delegado Waldir, disse à reportagem que o partido tem mantido diálogo com alguns políticos que disputarão a reeleição na Câmara. Sem revelar nomes, o deputado garantiu que o PSL não entrará em leilão com nenhum outro partido, mas que as portas estarão abertas a estes candidatos.
Leia Klebia está decidida a permanecer no PSC e não há quem a convença do contrário. “A sigla condiz muito como o meu mandato. Nunca cogitei a possibilidade de mudança. O PSC é o meu partido e não tenho nenhum interesse em outra sigla”.
Já o vereador Izídio Alves (PR) disse que, diferente de alguns colegas, não foi convidado por nenhum partido político. “Então não vou trocar [de sigla]”, completou. As mudanças nas regras eleitorais que tem causado o desconforto de algumas lideranças, apesar das mexidas, o parlamentar espera que este ano as eleições sejam ainda “melhores”. “Espero que pessoas realmente boas sejam eleitas”.
Da mesma forma se comporta o vereador Cabo Sena (Patriota). Em sua interpretação, trata-se de um partido forte e atuante. “Com certeza será uma sigla que, mais uma vez, fará a diferença na capital. Não há motivos para mudar. As perspectivas para 2020 são as melhores”, disse.
Por fim, o vereador Milton Mercez, do mesmo partido de Sena, disse ao Jornal Opção que não entrará na disputa. “Não vou ser candidato. Esse ano a eleição está muito difícil”. De acordo com parlamentar, “são muitos partidos políticos e o povo está desanimado com a situação atual”. Na interpretação de Mercez, o fim das coligações “vai dificultar muito as eleições”. “Cada partido vai conseguir um ou dois vereador. Partido que vai fazer mais vereadores são partidos que tiver candidatura a prefeito em melhor condição política”, argumenta.
Como explicar o troca-troca?
Na visão do cientista político Guilherme Carvalho, “é muito intangível discutirmos pautas ideológicas para eleições municipais”. “Elas são pautadas por políticas públicas, coisas que a população vivencia em seu dia a dia como os problemas com asfalto, limpeza e outros serviços básicos. Sendo assim, não há para um candidato tamanho constrangimento diante de uma mudança de partido político”, explica.
Outra questão, segundo ele, diz respeito às mudanças na legislação que acabaram com as coligações para o Legislativo. “Isso mudou fundamentalmente a regra do jogo. A regra agora joga contra aqueles candidatos que eram puxados. Ou seja, aqueles que tinham poucos votos e acabavam sendo eleitos com a ajuda dos que obtinham mais votos na disputa”. Agora, para que um candidato seja eleito, o partido, como um todo, deve atingir um número ‘x’ de votos para que se faça uma cadeira. Atingido, novamente, este número é que se faz a segunda e assim por diante. “Dentre eles, os mais bem votados são eleitos”.
O cientistas exemplificou o que está por vir com base no MDB, sigla que, segundo ele, assistiu uma grande migração de vereadores nos últimos tempos. “Partidos assim vão dar pouco espaço para políticos novatos. A tendência é assistirmos uma estagnação da renovação dentro dos partidos que já possuem grandes ‘caciques’. Agora, partidos menores, como o PV, Podemos, Avante, que tem ascendido no âmbito estadual, por exemplo, vão ter que lançar muitos candidatos para tornar um ou dois vereadores eleitos. A necessidade de se ter muitos candidatos é justamente para que a soma desses votos ajudem a eleger pelo menos uma cadeira”, explicou.
Por fim, Carvalho considerou a existência de um cenário muito pragmático na disputa eleitoral de 2020. “Ele [o cenário] se baseia nas chances e nos cálculos necessários para que os candidatos venham a conseguir seus assentos na Câmara. A fidelidade partidária, as pautas históricas, não é o relevante aqui. O relevante, ao meu ver, é olhar para as chances que cada partido tem para oferecer para cada candidato”, finalizou.