Comurg ainda é um grande problema
29 abril 2018 às 00h00

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Para o vereador Elias Vaz, a empresa de limpeza urbana de Goiânia é como se fosse a Petrobras

A situação financeira da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) ainda é uma incógnita. A maior dúvida que paira é: caso a gestão Iris Rezende Machado (MDB) não consiga enxugar os gastos e recuperar o órgão, a saída seria a privatização ou a venda da empresa, que consome pelo menos 6% do orçamento da Prefeitura, ou seja, R$ 31 milhões?
Na semana passada, a reportagem ouviu servidores que desconfiam que o próximo passo da prefeitura — depois de demitir 750 funcionários — e criar o malsucedido Programa de Rescisão por Acordo Incentivado (Prai), será colocar a companhia nas mãos da iniciativa privada. A expectativa da Prefeitura, com o Prai, era a demissão de 2 mil funcionários, que geraria uma economia de R$ 10 milhões. Mas a adesão decepcionou: apenas 100 funcionários.
A possibilidade de privatizar foi ventilada pelo prefeito em uma reunião com servidores no final do ano passado. Na ocasião, a categoria sugeria greve dos garis porque o salário não é reajustado há dois anos. Iris Rezende disse à época que a prefeitura, de um modo geral, passa por uma crise financeira.

Na Comurg, evidentemente, depois de capítulos com casos de supersalários e contratos superfaturados, a situação é ainda pior. “Com isso, seria preciso diminuir os gastos em torno de 10 milhões de reais na Comurg. Caso contrário, a prefeitura terá de terceirizar a companhia”, lembra o presidente da Associação dos Trabalhadores da Comurg (Ascom), Nilton Vieira de Melo, o Chopinho.
Conforme Nilton, o prefeito informou na reunião que os gastos com a Comurg superam o valor pago por prefeituras de outros Estados a companhias de limpeza urbana e coleta de lixo. “Uma das formas criadas para diminuir este valor é a demissão de uma segunda parte dos aposentados”, aponta ele, um dos aposentados que escaparam da demissão em massa por causa do cargo que exerce na associação.
Enquanto percorria a sede da Comurg, na Avenida Nazareno Roriz, na Vila Aurora, alguns servidores puxaram conversa com o repórter. Uns apontavam para Nilton como “blindado” e “privilegiado” na Comurg. “Olha ali o Chopinho, não faz nada, apenas recebe”, acusou uma servidora que saia indignada do prédio. Nilton, no entanto, se defende: “Estou aqui por causa da estabilidade. Por causa da associação”.

Em nenhum momento em que conversou com o repórter, ao mesmo tempo em que mastigava pão com presunto e queijo, em uma lanchonete dentro da área da companhia, Chopinho menciona que recebeu supersalário na Comurg. Ele foi um dos sindicalistas denunciados pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) por enriquecimento ilícito.
O diretor administrativo e financeiro da Comurg, Marcos Silva Cazorla, defende que a empresa vai conseguir se recuperar e descarta qualquer hipótese de venda ou privatização do órgão. “Não existe possibilidade de a Comurg deixar de existir. Uma determinação do prefeito Iris e da primeira-dama Iris Araújo é que se recupere a companhia. A preocupação deles é com a situação das famílias que dependem da empresa”, afirma.
A respeito do orçamento gasto, ele afirma que ainda não se inteirou completamente da situação, já que está há menos de um mês no cargo. Mesmo assim, reitera que a companhia recebe da prefeitura o suficiente para suprir a necessidade.
Conforme Cazorla, a Comurg vai abrir um novo Prai para que os servidores tenham uma nova oportunidade para a rescisão voluntária. “A gente quer manter apenas os funcionários que trabalham”, destaca.

Entre os gastos, conforme apurou o Jornal Opção, a companhia custeia encargos trabalhistas, contrato com prestadoras de serviço, processos judiciais (em média R$ 800 mil por mês), principalmente com reivindicações de recebimento de insalubridade).
Para o Jornal Opção, um gari disse que jamais aceitaria o acordo. “É muito injusto nós pagarmos pela roubalheira lá dentro. Precisamos varrer a politicagem”, brada, enquanto varre a Avenida Anhanguera, na Praça do Bandeirante, no Centro de Goiânia.
Valdivino Eterno de Oliveira, 40 anos, pensa diferente. Depois de nove anos na companhia, prefere “pular do barco porque está afundando”. Embora considere o acordo prejudicial ao servidor, Oliveira aceitou o acordo porque nesses anos todos não foi valorizado como profissional. “Eu passei para gari, mas acabei indo para a segurança. Mas nunca me deram nenhum gratificação. Preciso trabalhar em um lugar que me valorize.”
Corrupção e politicagem

Para o responsável pelas denúncias de supersalários na Comurg, vereador Elias Vaz (PSB), a Comurg sofre historicamente com a corrupção e com o uso político. “São problemas que ocorrem em várias gestões. Por várias administrações. Serve de instrumento eleitoral e, ao mesmo tempo, de corrupção”, comenta.
A Comurg, diz Vaz, é importante para a cidade. “É preciso lembrar que a maioria dos servidores trabalha com seriedade. Não podemos ‘tacar’ pedra na Comurg como se fosse Geni [da música de Chico Buarque]. A Comurg é muito parecida com a Petrobras porque ambas foram vítimas de corrupção”, compara.
Um dos fatores que dificulta o entendimento dos problemas na companhia é a falta de transparência com os dados públicos. “No site da prefeitura não tem nada sobre a Comurg. É muito nebulosa”, afirma o vereador Romário Policarpo (PTC). Para Policarpo, a saída não é a privatização: “É preciso reduzir os gastos”. l