O senador já disputou a Presidência da República e o governo do Estado. É esse o seu sonho. Mas para ser candidato em Goiás dentro de dois anos, ele terá que superar os Vilela e conquistar o PMDB

Ronaldo Caiado: ele quer o PMDB em sua candidatura em 2018 | Foto: Geraldo Magela
Ronaldo Caiado: ele quer o PMDB em sua candidatura em 2018 | Foto: Geraldo Magela

Afonso Lopes

O senador e presidente regional do DEM, Ronaldo Caiado, disputou a primeira eleição direta para presidente da República logo após o retorno do sistema direto de escolha, em 1989. Era sua estreia como político, e o resultado foi ruim, embora ele tenha surgido como um bom debatedor. Atropelava as regras, principalmente do tempo destinado a cada candidato, é verdade, mas seu discurso enfático marcou.

Em 1994, já como deputado federal, ele se candidatou a governador de Goiás, contra Maguito Vilela e Lúcia Vânia. Caiado e Lúcia faziam parte do mesmo eixo político, de oposição ao PMDB de Maguito. Na reta final, foi superado pela colega de oposição e acabou eliminado do segundo turno. Naquele ano, Caiado já era uma das grandes lideranças políticas em nível estadual.

Ele nunca perdeu inteiramente o Palácio das Esmeraldas de vista. Chegou a ensaiar nessa direção outras vezes, mas recuou sempre que percebeu montanhas de dificuldades para impor sua candidatura. Agora, mais uma vez, seus principais seguidores acham que surgiu uma nova oportunidade. Tanto para a Presidência da República como, e principalmente, para o governo do Estado. Ele tem o DEM estadual nas mãos, mas isso em terras goianas não significa muita coisa. Desde abandonou a base aliada estadual comandada pelo governador Marconi Perillo, e tendo perdido também o então senador Demóstenes Torres, seu partido está diminuindo. Na eleição para vereador este ano, pela segunda vez consecutiva o DEM não conseguiu eleger ninguém em Goiânia. No interior, há somente dez prefeitos democratas.

Trunfo
Sozinho, Ronaldo Caiado sabe que suas chances vão ser praticamente nulas. Ele precisa de um grupamento forte e com capilaridade suficiente para alicerçar uma campanha competitiva. Esse é o problema. Principal aliado do prefeito eleito Iris Rezende desde a aliança formada entre o DEM e o PMDB em 2014, Caiado aposta nesse trunfo: ter o apoio de Iris para dobrar as visíveis resistências que existem dentro do PMDB.

Aparentemente, e olhando apenas por esse ângulo político, não é um grande problema.
Se Iris realmente não deixar a Prefeitura em 2018, como prometeu solenemente durante toda a campanha, para se candidatar ao governo do Estado mais uma vez, Caiado é o seu preferido. Ou seja, se não for Iris o candidato, o prefeito deve apoiar Caiado. Resolvida a questão dentro do PMDB? Não. É aí que a guerra começa.

Iris não tem, como já teve durante pelo menos duas décadas, o controle total do PMDB goiano. Ao contrário, ele perdeu a eleição no diretório estadual. Ainda mantém um certo grau de influência no diretório metropolitano, e esse poder de mando deve crescer com o retorno dele ao Palácio do Cerrado Venerando de Freitas. Mas conseguir também recuperar o diretório estadual para o seu grupamento interno é dose grande demais. Por lá, já estão devidamente instalados os arquirrivais maguitistas.

O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, está encerrado seu segundo mandato, e consequentemente voltará para a planície a partir do ano que vem. Seus planos futuros foram anunciados. Vai se aposentar caso seu filho, e presidente do diretório regional, deputado federal Daniel Vilela, dispute o governo do Estado. E se isso não der certo?
Nesse caso, o próprio Maguito tenderá a ocupar o espaço. Em outras palavras, os Vilela não vão dar sopa pro azar permitindo a criação de um vácuo de poder dentro de seus domínios, o diretório estadual. Isso seria o mesmo que devolver todo o terreno duramente conquistado por eles para Iris Rezende.

A candidatura de Ronaldo Caiado passa necessariamente no meio desse fogo cruzado dentro do PMDB. Além disso, há um segundo problema: ele é do DEM. Os peemedebistas tendem a jamais ceder a cabeça de chapa para alguém “de fora”. Até porque são eles os “donos” da capilaridade partidária, a única que se rivaliza com a construída pelo PSDB de Marconi Perillo desde 1998, quando venceu pela primeira vez a disputa pelo governo de Goiás.

Uma forte característica do eleitorado goiano praticamente impede que Ronaldo Caiado se lance candidato como fator de terceira via, mesmo sabendo que não teria nada a perder, a não ser prestígio, já que seu mandato vai até 2022. O eleitorado de Goiás sempre se dividiu nas disputas pelo governo do Estado em torno de dois nomes, que representam os grandes blocos da política estadual. Uma candidatura avulsa de Caiado cairia numa espécie de limbo, e só teria como se alavancar diante de uma onda avassaladora de popularidade. É claro que algo assim pode acontecer, mas é improvável.

Em 2006, no auge da popularidade, o senador Demóstenes Torres tentou fazer isso, e terminou último lugar dentre as consideradas quatro grandes candidaturas, com 3,51% dos votos válidos. Sua carreira foi seriamente abalada por causa desse desempenho, e ele conseguiu dar a volta por cima porque voltou para a base aliada estadual e bateu recorde de votos na sua reeleição para o Senado. Se for candidato sozinho, Caiado vai correr o mesmo risco. l