Cinco pesquisas da UFG que impactam a sociedade
09 dezembro 2017 às 23h24
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Da física à zootecnia; da química à engenharia. Há diversos projetos da instituição que não podem ficar no desconhecimento
Professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (UFG), Andris Figueiroa Bakuzis é um dos responsáveis por um estudo que tem um objetivo ousado: provar a eficiência do uso de entrega seletiva de calor por meio de nanoestruturas no tratamento de câncer.
Ao Jornal Opção, o professor, que tem estágio pós-doutoral realizado na Universidade da Flórida Central (EUA), explica que a hipertermia pode ser utilizada em duas modalidades diferentes de terapia usando nanotecnologia: fototérmica e magnética. Na primeira, a nanopartícula é injetada de uma forma não invasiva e, por meio da luz – tecnicamente denominada radiação eletromagnética não ionizante — gerada por um laser de baixa potência via interação com a nanopartícula, absorve a energia e promove um aquecimento na região tumoral.
Já na segunda, o campo magnético interage com os momentos magnéticos das nanopartículas e provoca calor. Neste caso, o custo é elevado em razão de uma maior sofisticação da modalidade, mas as consequências compensam, haja vista que a vida de uma paciente com câncer em estado avançado pode aumentar em até 8 meses, em particular para o caso de glioblastoma, cuja vida média é de apenas 14 meses. “Qualquer tecnologia radicalmente diferente é difícil de ser implementada. Mas, sendo utilizada com maior frequência, a tendência é ser barateada”, diz Bakuzis.
Em conjunto com a professora Elisângela Lacerda, da Biologia, os estudos são feitos em camundongos (devidamente aprovado pelo comitê de bioética), e visam a geração, entrega e monitoramento do calor, que, segundo o cientista, é essencial para se obter a eficácia no tratamento.
Ademais, a nanotecnologia é capaz de ajudar no diagnóstico e na prevenção de tumores. “As técnicas tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, às vezes não conseguem tratar determinados tipos de câncer, mas já está provado cientificamente que a nanotecnologia pode auxiliar na eficácia desses tratamentos e, além disso, a técnica pode também diminuir os efeitos colaterais nos pacientes.”
Bakuzis, que é membro da Society for Thermal Medicine, dos Estados Unidos, relata estar animado com os resultados que pode atingir. Se provado o tratamento de tumores com hipertermia e a entrega de calor ser controlada de maneira adequada, o pesquisador acredita que se pode ativar o sistema imunológico e, portanto, talvez seja possível tratar o câncer independentemente do lugar em que ele estiver.
Nascido em Brasília, o professor lembra que, quando ainda era um jovem cientista, tinha o intuito de montar um grupo fora do eixo Rio-São Paulo para fazer pesquisas de qualidade internacional. “Estamos na frente de diversos pesquisadores do mundo e podemos ser um dos primeiros a resolver este problema”, enfatiza. Assim como a pesquisa em questão, existem outras ações dentro da UFG, nas mais diversas áreas do conhecimento, com a capacidade de impactar a sociedade na prática. Confira a seguir.
Investigação forense
O doutorando em Química Paulo de Tarso Garcia, que irá defender sua tese nesta semana sob a orientação do professor Wendell Coltro, desenvolveu uma técnica que objetiva agilizar o processo de investigação forense. Trata-se de um sensor feito de papel que dosa a quantidade de ferro contido no humor vítreo do globo ocular do cadáver.
A pesquisa, realizada no âmbito do Instituto de Química da UFG, contou com uma amostragem de 15 cadáveres. “Quanto mais velho o cadáver, maior era o nível de ferro”, destaca o químico de 27 anos, que já foi professor da instituição, mas atualmente trabalha como técnico de laboratório.
A ideia é proporcionar ao perito um mecanismo prático e barato com a finalidade de ser utilizado ainda na cena do crime. Em um kit de bolso, são disponibilizados, além do sensor de papel, uma escala de cor laranja que auxilia a identificar a quantidade de ferro. A captura da imagem para a análise foi feita, durante a realização dos estudos, por meio de um scanner.
Contudo, Paulo garante que se pode usar um celular em um processo de dura 15 minutos.
“O intervalo post mortem é um dado que a perícia não tem. Além de agregar informação ao laudo forense, descobrindo-se o tempo de morte, é possível cruzar dados e, dessa maneira, inocentar ou acusar alguém”, ressalta Paulo, que conduz a pesquisa em parceria com a Polícia Técnico-Científica de Goiás e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Há uma previsão para que os resultados obtidos sejam patenteados já no início do ano que vem.
Alimentação do gado
Doutor em zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (MG), o engenheiro agrônomo Thiago Carvalho da Silva é coordenador do Grupo de Estudos em Forragicultura (Gefor), responsável por desenvolver uma pesquisa que garante a alimentação do gado em época de seca por meio de um mecanismo denominado silagem.
O referido método tem como finalidade preservar milho, sorgo, capim e cana-de-açúcar, que são produzidos e, posteriormente, colhidos e colocados no silo. A silagem é, então, armazenada em uma estrutura onde os alimentos serão fermentados e conservados, podendo durar até mais de um ano. “A técnica já era conhecida, mas ninguém a fazia por causa de problemas relacionados ao clima e a maquinários”, conta Thiago.
O Gefor promove dias de campo com o intuito de levar aos produtores informações básicas referentes ao tema, mas que não chegam a eles naturalmente, fazendo com que sofram com a alimentação do rebanho em períodos de seca. “A ideia é difundir a prática da produção de silagem.”
Uma vez alimentados nesta época, os animais vão ganhar mais peso e, consequentemente, produzir mais leite. “Queremos gerar impacto no sentido de melhorar o sistema produtivo bovino tanto de corte quanto de leite e aumentar a eficiência da produção.”
Qualidade do leite
Foi a partir de estudos da qualidade da água na produção da rapadura, em 2015, que Celso José de Moura, professor da Escola de Agronomia da UFG, enxergou a possibilidade estendê-los aos laticínios. A pesquisa ainda está em fase de avaliação de resultado para concluir se a qualidade da água realmente interfere no leite, mas Celso argumenta que avaliações preliminares indicam que sim.
O grupo de pesquisa conta com mais 2 professores, 15 estudantes de graduação e 3 empresas de laticínios, além do apoio do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Goiás (Sindleite) e da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundetec). Juntos, já instalaram equipamentos em 15 propriedades por todo o Estado.
A proposta é usar um clorador para aplicar cloro livre na água. O sistema de custos reduzidos é composto por um conjunto de registros e tubos PVC que possibilitam a passagem de uma parte da água pelas pastilhas de cloro, que, ao final desse processo, juntam-se a uma outra parte ainda não clorada. Com a mistura, a água chega a um depósito cuja concentração de cloro suficiente para eliminar os micro-organismos presentes.
“Os lençóis freáticos estão contaminados e nossa comunidade rural está tomando água de baixa qualidade. Temos inúmeros exemplos de crianças com diarreia. A água clorada resolve esse problema”, pontua o docente. A melhoria da saúde pública é nítida, tanto é que os resultados obtidos atingiram as recomendações de potabilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desperdício de água
O engenheiro eletricista Rauhe Abdulhamid é um dos sócios da RYD Engenharia, empresa incubada da UFG que criou um robô em busca de evitar o desperdício de água. Ao todo, são três sócios – Danilo Sulino Pinto e Yi Lun Lu, além do próprio Rauhe – que obtiveram a assistência da empresa Satosan, de São José dos Campos (SP), no que tange aos aspectos mecânicos.
O experimento atua na inspeção de tubulações com o objetivo de identificar e inspecionar eventuais problemas, como obstruções e vazamentos. Com robustez mecânica para entrar nas tubulações, o robô é controlado por um joystick e, do lado externo, um software faz relatos a partir do que é detectado pelas câmeras nele instaladas.
É comum haver, nas tubulações de águas fluviais, ligações clandestinas, que podem acarretar em vazamento de esgoto e na consequente contaminação da água. Com o robô, dá para identificar em que ponto isto ocorre. Além disso, chama a atenção o fato de que, no Brasil, 37% da água é perdida nas tubulações. “Aumentamos a vazão para que a água consiga chegar do outro lado no volume necessário. Essa água perdida é dinheiro jogado fora”, sublinha Rauhe.
Um dos diferenciais do produto está no preço, aproximadamente 20% mais barato do que os robôs importados de países como Alemanha e Estados Unidos, que costumam dominar este tipo de mercado no Brasil. “Nosso intuito é desenvolver um produto barato e de qualidade. Hoje, estamos desenvolvendo, junto ao Senai, um software com mapeamento 3D e mais preciso para detectar falhas.”
Lançado no início de 2017, o equipamento é vendido para empresas de saneamento e presta serviços para a indústria de laticínios em Minas Gerais. Atualmente, está em fase de negociação com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para estabelecer uma parceria a fim de despoluir o Rio Tietê. l