Cientistas da UFG desenvolvem spray que neutraliza coronavírus

08 novembro 2020 às 00h00

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Pesquisadora Eliana Martins Lima usou nanotecnologia para criar molécula capaz de atrair e reagir com vírus Sars-CoV-2. Tecnologia pode se tornar plataforma para tratar outras infecções virais

Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveram uma partícula capaz de se ligar e “desativar” o coronavírus (Sars-CoV-2) causador da pandemia de Covid-19. Com desenvolvimento ainda em progresso, a intenção é transformar o composto em um medicamento que possa ser administrado via spray nasal ou aerossol. A expectativa dos pesquisadores é de que o funcionamento da terapia com a nanopartícula, caso se mostre eficiente e segura, possa servir como plataforma para tratamento de diversos outros tipos de infecção viral.
O projeto está sob a orientação da professora da Faculdade de Farmácia Eliana Martins Lima, que pesquisa nanotecnologia aplicada ao desenvolvimento de medicamentos há mais de 25 anos. Ela afirma sobre a concepção da ideia: “A intenção é brigar com o vírus no seu próprio campo de batalha. Criar um exército de nanopartículas muito atraentes para o vírus e que provoque uma interação forte o suficiente para o vírus perder a capacidade de infectar o trato respiratório do indivíduo”.

A ambição é de que a nanopartícula esteja disponível na forma de medicamento assim que a pesquisa com duração de três anos for concluída, e assim que uma indústria farmacêutica se interesse por desenvolver o produto na fase de testes clínicos. “O que podemos conseguir é um spray nasal ou aerossol. Enquanto o spray cobre o trato respiratório superior, ou seja, as cavidades do seios da face e as narinas, o aerossol cobre até os alvéolos pulmonares onde o vírus se encontra em processo de multiplicação”.
A pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, desenvolvida nos laboratórios FarmaTec, utilizou a nanotecnologia para obter a formulação. Isso quer dizer que a partícula foi construída em escala atômica e molecular. O tamanho dos vírus Sars-CoV-2 está na ordem de cem nanômetros. Cada nanômetro é um milhão de vezes menor que o milímetro, ou um bilhão de vezes menor que o metro.
Nesse estágio, a nanopartícula é específica para o Sars-CoV-2, mas a estratégia tecnológica da atração e reação com o vírus permite vislumbrar a mesma estratégia com moléculas diferentes. “Desenvolver engenharia de superfície para atrair um outro vírus deve ser possível, caso mais estudos sejam conduzidos”, afirma Eliana Martins Lima.

A pesquisadora afirma que a colaboração internacional entre cientistas é fundamental para o desenvolvimento de soluções para a pandemia: “Temos informação à disposição dos pesquisadores cada vez mais rápido. Estamos diante de um evento único – toda a comunidade científica do planeta que trabalha em áreas capazes de contribuir estão colocando seus esforços em conjunto para ajudar a atenuar a pandemia em diferentes aspectos. Por conta disso, aprendemos rapidamente sobre a biologia do vírus, o mecanismo de infecção que o vírus se utiliza para invadir as células do epitélio respiratório e todo sobre o ferramental utilizado para gerar a nanopartícula”.
Eliana Martins Lima acrescenta que gostaria de atrair uma empresa farmacêutica nacional para desenvolver os estudos clínicos do produto. “Uma indústria nacional seria importante para comprovar a capacidade de inovação e da qualidade da ciência brasileira”, afirma ela. Até lá, o trabalho da pesquisadora será otimizar a fórmula da nanopartícula para que ele tenha a maior capacidade de atração e reação com o vírus possível. A indústria farmacêutica entraria subsidiando estudos clínicos com milhares de voluntários.