Cautela e análise são o receituário dos empresários goianos para driblar a crise de 2015
27 dezembro 2014 às 11h59
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Grandes empreendedores enxergam oportunidades em ambientes adversos, sem deixar de cobrar das várias esferas de governo mais austeridade, menos impostos e readequação de leis trabalhistas
Frederico Vitor
2015 não será um ano fácil para o setor produtivo. Os grandes empresários goianos não nutrem grandes expectativas para o novo período que vai se iniciar. Mas eles comungam a máxima de que em momentos de dificuldades podem surgir novas oportunidades de negócios, por mais adverso e desfavorável que seja o cenário da economia. O que a classe produtiva vai seguir como mantra são as palavras cautela e análise, para que não deem passos em falsos em um período em que a inflação segue galopante, a entrada de dólar no País está diminuindo pela queda da demanda de commodities no exterior, e a carga tributária é cada vez mais sufocante.
Com a previsão de tempos mais duros, tanto a indústria quanto o comércio, não sinalizam um cenário de crise mais aguda. Não se espera um quadro de terra arrasada, com portões de fábricas e portas de lojas fechando, tampouco demissões em massa. Mas, o que poderia ser uma realidade inversa, ou seja, mais recrutamento de mão de obra, valorização de salários e expansão de empreendimentos fabris e comerciais, desta vez, mais uma vez, não vai acontecer. Isso porque o momento é de cautela e análise, os empresários estudarão, primeiramente, qual será o ambiente de 2015 para depois decidir-se qual o movimento a fazer.
Pelo que se anuncia o ano de 2015 será mais do mesmo, quase um repetição de 2014. Porém há uma injeção de ânimo no humor dos empresários diante da escolha da nova equipe econômica nomeada pela presidente Dilma Rousseff (PT), que iniciará os trabalhos no início do ano que vem. De maneira geral, a classe produtiva viu com bons olhos a escolha de um alto executivo do mercado para comandar os rumos da economia nacional à frente do Ministério da Fazenda.
Joaquim Levy, oriundo do Banco Bradesco, um gigante do setor financeiro do País, é um economista de formação neoclássica, isto é, se difere ideologicamente da corrente de pensamento econômico que impera no partido da presidente. Em suas raras entrevistas, ele já anunciou que tomará medidas drásticas — se assim o Palácio do Planalto permitir integralmente —, como cortes de gastos e a realização de profundos ajustes fiscais. Com isso, o novo titular da pasta fazendária espera dar austeridade à máquina pública federal, mesmo que isso signifique mexer nos programas sociais — o que poderá, a rigor, trazer insatisfação junto à sociedade, principalmente os beneficiários de tais auxílios.
A previsão para a situação econômica do Brasil em 2015 é de crise, de inflação, de tempos difíceis para a sobrevivência, principalmente para os pequenos e médios empresários, geralmente os mais sensíveis às oscilações do mercado. Mas, o que é uma crise? Um momento do mercado? Uma situação onde não se vê a luz no fim do túnel? Uma fase em que o empreendedor acumula todos os receios e somente vê sombras à frente? Pode ser. Pode também ser um momento em que surjam as condições para encontrar o equilíbrio, para se manter estável frente às dificuldades e, principalmente, para aprender a trabalhar com a escassez de recursos financeiros e com criatividade.
Forte inflação
No cenário que se apresenta para o ano que vem as previsões são de que a inflação poderá continuar, pelo menos no primeiro trimestre, avançando até um ponto em que ela própria não poderá se suportar. Este contexto pode estabelecer o receio de muitos empresários e minar iniciativas, mas sempre é importante verificar o outro lado da história. A necessidade de consumo continua e, mesmo com o fantasma inflacionário ameaçando, a produção não pode estagnar.
Empresários preveem uma redução momentânea no movimento diário, porém continuará a existir o movimento, ou seja, ele é contínuo e constante. Por isso, a maioria dos empresários consultados pelo Jornal Opção acredita que o momento é para ficar atento, não para desespero e atitudes impensadas. Trata-se do famoso “olho do furacão”, em que é preciso saber como agir, saber como manter-se e, com a cautela necessária, buscar novos caminhos.
Mas afinal, quais atitudes tomar diante da crise, principalmente para o pequeno e o médio empresário? Primeiramente, é preciso saber que a crise não é uma ameaça maior e mais forte do que a capacidade de trabalho do empreendedor, principalmente se o ponto forte for a criatividade. Segundo, é preciso entender que ela será apenas um momento da economia; não existe crise para sempre, a história mostra que são passageiras. Mas, ainda assim, trata-se de um momento difícil, onde as decisões devem ser acertadas e as atitudes devem refletir a capacidade de enfrentamento e de superação.
“É em ambiente negativo que os empresários buscam oportunidades”
Para a empresária e presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), Helenir Queiroz, são em momentos de crise que os empresários devem buscar oportunidades. Ela comanda a Multidata, empresa que nasceu em 1989 e que atua no segmento de redes e software, considerada a segunda maior do Brasil, com clientes em todo o País e escritórios em São Paulo e Brasília, e considera que o cenário de 2015 é nada animador, porém um ambiente propício para inovações e mudanças.
Helenir afirma que no meio empresarial ainda não se fala em demissão, mas também não de contratação para 2015. Os empresários não pensam em expansão no momento, por saberem que o cenário para o ano que vem não será dos melhores. Por outro lado, talvez seja essa a boa notícia, não há planos de redução de quadros de funcionários. A presidente da Acieg acredita que, em 2015, os empresários vão tentar achar meios de como ganhar em produtividade com racionalização de gastos, ou seja, como fazer mais por menos.
Helenir Queiroz explica que empresários de sucesso costumam promover mudanças sob pressão. Traduzindo: é em ambientes adversos que surgem alternativas para reverter momentos de crise. Segundo ela, em situações desfavoráveis há reajuste da condução de negócios, isto é, mudanças que produzem reflexos positivos a médio e longo prazo. Para a presidente da Acieg, o ano de 2015 será de oportunidades. “É um momento de cautela e análise. O setor produtivo deve buscar mais produtividade, detectar onde deve cortar custos e priorizar ganhos e resultados fazendo mais por menos.”
Em relação as perspectiva da política econômica do governo federal, Helenir Queiroz diz que a nova equipe anunciada pela presidente Dilma Rousseff precisa fazer um remédio amargo, que são uma série de reformas que vão soar como impopulares. Para ela, como em toda família, cidade, Estado e País que gasta mais do que ganha, em um determinado momento, para que não haja uma bancarrota geral, é necessário rever os gastos e traçar ajustes para a retomada do equilíbrio financeiro. “O que os empresários devem fazer é estudar o mercado em 2015, não gastar mais do que o necessário, sanar as contas e poupar para caso de piora do quadro.”
“Se a economia de 2015 for como 2014, estará de bom tamanho”
Katsume Fujioka, um dos fundadores e diretor de expansão e logística do Fujioka, uma gigante do ramo varejista, diz que ano de crise é um período de rever os conceitos da empresa. Para ele, que é um dos que comandam 58 lojas espalhadas por Goiás e pelo Distrito Federal, a perspectiva de empresários do ramo do varejo é de que 2015 seja igual a 2014, ou seja, um período difícil sem muita alteração de ganhos e sem perdas de grande monta. “Não esperamos muito de 2015, pois será um momento de arrumar a casa, não haverá grande crescimento.”
Katsume Fujioka afirma que, se 2015 for como 2014, estará de bom tamanho, pois não há no radar do empresariado goiano grandes perspectiva de expansão. “Pelo menos no setor em que atuamos, o do varejo, não será um período de contratação, porém não há planos de demissão”, diz. Em linhas gerais, 2015 será um cenário estável, contudo o setor produtivo anseia por uma melhora da economia brasileira, pois uma reação, mesmo que tardia, seria benéfica em um panorama de incertezas.
“Mercado imobiliário vai sofrer menos do que a economia em geral”
Para o empresário, fundador e diretor da Tropical Urbanismo e Incorporação, Paulo Roberto da Costa, o mercado imobiliário, talvez, poderá sofrer menos do que a economia em geral. Para ele, a perspectiva para 2015 é de cenário sofrível como foi 2014. Ele culpa a política econômica do governo nos últimos quatro anos como responsável pelo cenário econômico de estagnação que se abateu neste ano e que se anuncia continuar no ano que vem.
Paulo da Costa explica que, pelo fato de o mercado imobiliário em si ser mais doméstico e dependente do comércio interno, sentirá menos a crise. Mas no todo, o setor imobiliário está pessimista em relação à economia. O Brasil é basicamente um exportador de commodities, e pelo que se anuncia, vai diminuir muito a demanda de minério de ferro, soja e demais produtos primários no mercado internacional. Com isso, entrará menos dólar no País, o que vai dificultar o fechamento de contas no final de 2015. Consequentemente, isso será mais penoso para a economia em geral.
Em relação à nova equipe econômica do governo, Paulo da Costa diz que ela estará no caminho certo se a presidente Dilma Rousseff der autonomia. Para ele, o governo precisa fazer o dever de casa, que é deixar o câmbio flutuante e não intervir em demasiado na economia. “O Brasil tem um poder de reação muito grande e podemos no médio prazo voltar a crescer de forma vigorosa como antes.”
“Empresários precisam se aproximar da bancada goiana no Congresso”
O ano de 2015 será tão difícil quanto 2014. É a avaliação de José Alves, megaempresário que há mais de 50 anos comanda um grupo que atua em vários ramos de negócios, como indústria de bebidas (Refresco Bandeirantes), instituição de ensino (Faculdades Alfa), tecnologia da informação (Red e White Solutions), rastreamento de veículos (3T Systems) e no ramo imobiliário (NL Negócios Imobiliários).
Ele não vê grandes avanços para os próximos meses e indica que em momentos difíceis, o empresariado goiano precisa se organizar para se aproximar mais da bancada goiana no Congresso Nacional, com o objetivo de cobrar as transformações necessárias à retomada do crescimento do País.
José Alves elogia o governador Marconi Perillo (PSDB), que segundo ele, estaria no rumo certo ao organizar racionalmente a máquina pública estadual em momentos de crise que exigem austeridade. Ele lembra que o setor produtivo goiano precisa pressionar o governo federal pela redução de impostos e a requalificação dos custos trabalhistas. “O empresário brasileiro é bastante eclético e nós já passamos períodos piores do que os de hoje. Nos últimos anos nossa economia dobrou de tamanho, mas não estamos satisfeitos com que está acontecendo.”
O empresário afirma que o governo federal defende que a indústria nacional precisa aumentar sua competitividade frente às estrangeiras. Porém, segundo ele, o Palácio do Planalto tem feito tudo ao contrário, aumentando impostos, elevando os custos trabalhistas e criando dificuldades para o setor produtivo crescer. Alves diz que os empresários precisam ser ouvidos pelo Congresso, pois no final quem paga a conta são os próprios empreendedores e a sociedade em geral.
Em relação aos rumos da economia brasileira e da nova equipe econômica anunciada pelo governo federal, com o executivo Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, José Alves acredita que os selecionados pelo Palácio do Planalto são bem-vindos, mas que no final tudo dependerá de como a presidente conduzirá a área. “Não sou otimista, levo em conta tudo o que aconteceu nos últimos quatro anos e que não foi nada bom.”
Por mais que o novo ministro seja bem intencionado, José Alves acredita que o governo precisa se reposicionar. Para ele o País necessita melhorar socialmente, mas, primeiramente, as coisas devem acontecer na medida em que a economia melhore. “Em alguns momentos nós demos passos maiores do que a própria perna, e depois não temos como pagar o pato.”
“2015 será bom para ganhar dinheiro se tiver as contas equilibradas”
O empresário Vanderlan Cardoso está otimista em relação a 2015. Segundo ele, para o empreendedor que tiver as contas equilibradas, o ano que vem será bom para ganhar dinheiro. Para ele são em momento de crise que surgem novos horizontes para negócios. Atualmente Vanderlan está ampliando duas fábricas de alimentos — no Sul do Pará e no interior da Bahia —, e diz que o pessimismo do empresariado não o afeta em seus planos de expansão. “Minhas empresas nunca deixaram de crescer, pois para mim, os momentos difíceis são épocas de crescimento, sobretudo de maturidade para fazer investimentos com responsabilidade e segurança.”
Segundo Vanderlan Cardoso, o cenário para o ano que vem é de estabilidade. Ele diz que conversado com muitos empresários e todos dizem que vão segurar os investimentos para, primeiramente, tomar conhecimento mais aprofundado do pacote econômico que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai anunciar em janeiro. Mas Vanderlan pensa o contrário. Ele afirma que não vai hesitar em expandir seus negócios no próximo ano. “Não vou diminuir os investimentos. Pelo contrário. Estou ampliando as unidades fabris do Pará e da Bahia, que estão passando por novos projetos.”
Ex-prefeito de Senador Canedo e presidente regional do PSB, Vanderlan Cardoso diz que o governo federal da presidente Dilma Rousseff precisa aliviar a carga tributária em cima dos empresários. Segundo ele, o brasileiro não dá conta mais de pagar tantos impostos e que em momentos de baixo crescimento o País precisa de credibilidade para atrair investimentos estrangeiros e incentivar mais investimentos internos.
Em relação a Joaquim Levy, Vanderlan afirma ser ele o homem certo para a hora certa. Ele acredita que a economia vai melhorar na medida em que o mercado se acalmar. “Quando o ex-presidente Lula nomeou Henrique Meirelles para presidência do Banco Central o mercado acalmou, naquela época o dólar chegou a 4,60 reais. Espero que o mesmo ocorra com o novo ministro.”
Enquanto a indústria nacional vai fechar no vermelho, segmento em Goiás deverá avançar em 2015
O ano de 2015 será de desafios para o setor produtivo goiano, segundo prognóstico da Federação da Indústria do Estado de Goiás (Fieg). Mesmo apresentando taxa de crescimento superior à média brasileira, a indústria de Goiás precisa enfrentar questões relacionadas à infraestrutura. A expansão da capacidade de fornecimento de energia ao setor industrial, a implantação da Plataforma Logística Multimodal de Goiás — com a conclusão do aeroporto de cargas em Anápolis —, a implementação total da Ferrovia Norte-Sul e a duplicação da Rodovia BR-153 (rumo ao Norte) são fundamentais na continuidade da expansão do parque industrial do Estado.
Enquanto a indústria nacional encerra 2014 com perspectiva de desempenho negativo em 1,5%, o segmento em Goiás deverá avançar 2%. Nos últimos dados de produção industrial, publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado registrou avanço de 1,8%, enquanto o Brasil obteve -3%, no acumulado dos dez primeiros meses do ano.
Em âmbito nacional, além de investimentos em infraestrutura (portos, ferrovias, rodovias, hidrovias, energia e saneamento básico), há outros dois pontos críticos dentro da agenda do segmento industrial para elevar a competitividade do País. Em relação ao sistema tributário e o trabalhista, que precisam eliminar a cumulatividade de impostos e desonerar as exportações e investimentos.
De acordo com o presidente da Fieg, Pedro Alves de Oliveira, o sistema trabalhista do País está calcado em um regime com pouco espaço para negociação. Segundo ele, a regulação tem escassa conexão com a realidade produtiva. “O tamanho da insegurança jurídica provocada pela CLT pode ser medido por números: a Justiça Trabalhista julga cerca de 3 milhões de processos anualmente, e gasta, para isso, bilhões de reais.”
Pedro Alves afirma que outra questão essencial ao incremento da competitividade industrial é o combate à burocracia excessiva. Ele diz que todo o potencial de crescimento do País fica comprometido pelo aumento de tempo de produção, dos custos e desvios de recursos para atividades improdutivas, além de estimular a corrupção. “É expressivo o gasto com pessoal e sistemas de informação para atender ao excesso de burocracia, recursos que seriam mais proveitosos se fossem investidos na produção.”