Mesmo ainda envolto por uma aura de mistério e desinformação, o candomblé tem avançado em Goiás. Sua cosmovisão difere das religiões judaico-cristãs, predominantes na sociedade ocidental, ao ver o mundo de uma forma original e carregada de simbolismos e representações, geralmente, incompreendidas pela sociedade conservadora. Em meio a acusações preconceituosas e racistas feitas por fundamentalistas, a religião de matriz africana resiste e consegue a cada dia mais adeptos ao se apoiar na diversidade e no acolhimento, independentemente de idade, gênero, cor de pele ou opção sexual.

O professor da área de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Flávio Sofiati lembra que o candomblé é uma religião subrepresentada no último Censo (já desatualizado), que aponta que o Brasil teria menos de 0,5% de sua população candomblecista. No entanto, ele alerta que “pesquisas feitas sobre o tema demonstram que há uma capilaridade nos terreiros em Goiás”.

O professor do curso de História da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Marcos Torres explica que no Estado não existe um levantamento do número exato de casas de candomblé em funcionamento. “Até a década de 90, não tinha nenhuma [casa de candomblé] em Catalão, por exemplo. Hoje têm 17. Tem casa em Caldas Novas, Rio Verde. Na Grande Goiânia, tenho o conhecimento de 34 casas. E 22 dessas surgiram depois de 2010. E a região do Entorno de Brasília concentra um grande número: fala-se em mais de 60 só em Águas Lindas.”, afirmou.

Professor do curso de História da UEG Marcos Torres | Foto: Arquivo pessoal

Para o professor Flávio, essa subrepresentação pode ser explicada pela visão preconceituosa que a sociedade tem com quem não é cristão. “Muitas pessoas frequentam as religiões de matriz africana em segredo para evitar o constrangimento público”, explicou. E isso ocorre, segundo ele, em todos os cantos do Brasil.

Um sintoma dessa vinculação ao segredo por causa do preconceito é que muitas casas de candomblé e terreiros de umbanda de Goiânia, segundo Flávio, não têm fachada, como uma forma de proteção contra ataques. “Você passa na porta e não sabe o que é”, comentou.

Para explicar o candomblé, é necessário entender sua cosmovisão. Marcos Torres enumera três elementos que referenciam esse entendimento. O primeiro é a ancestralidade. “No ocidente, o indivíduo é ele por ele mesmo. Para o candomblé, você ‘é’ a partir de uma ancestralidade. O passado deve ser lembrado e cultuado. E os ancestrais são mitificados nos orixás”, comentou.

“Nossa religião é baseada na ancestralidade. Temos uma reza que chama todos os nossos ancestrais”, completa o ogã Pablo Barreto. E quem dá coro a ele é a ialorixá Mayara Torres, ao lembrar que, no candomblé, se “louva a ancestralidade”. “A gente mexe com vida, cultua elementos da natureza”, arrematou.

Homens se ajoelham durante um ritual de candomblé | Foto: Kelvis Oliveira

Outro ponto crucial na visão de mundo do candomblé é que o bem e o mal são uma questão de escolha, definida pela relação ancestral com a própria vida. “Reconhecemos que ambos existem em mim e no outro. Toda a mitologia evidencia essa proximidade entre o bem e o mal, que são escolhas que se realizam durante a vida. Então, se não existe o mal fora do bem, não existe a ideia do demônio cristão, bem como a ideia de sacrifício”, explica Marcos.

E, por fim, a forma como os temas vida e morte são abordados no candomblé é diferente das religiões judaico-cristãs. “Para nós, existe uma vida após a morte, mas viver bem não é para o pós-morte. Viver bem é uma busca na sua vida e o sagrado deve se realizar na sua própria vida, na manifestação do orixá no seu corpo, que é sagrado e precisa ser preparado e cuidado. Esse corpo precisa viver bem”, pontuou.

Origens do candomblé no Brasil e em Goiás

Marcos Torres, que também é babalorixá (popularmente conhecido como pai de santo), explica que a organização do candomblé no Brasil se deu em Salvador, na Bahia, no final do século 18 e início do século 19. “O formato do que chamamos de candomblé se deu nesse período histórico. A estrutura ritualística, como se compõe a religião. As matrizes são africanas, mas o que ganha relevo, dinâmica, a estrutura de canto e dança, tudo isso é genuinamente brasileiro. A raiz é africana, mas nasce no Brasil”, explicou. Assim sendo, para Marcos, seria mais adequado dizer que o candomblé é uma religião afro-brasileira ou afro-diaspórica.

Em Goiás, as religiões de matriz africana chegaram junto com os negros. Em 1736, quando a população total do Estado não passava de 20 mil pessoas, dados oficiais contabilizavam 10 mil escravos adultos vivendo em terras goianas. Por conta dessa situação, a religião dos negros era fortemente reprimida, o que não quer dizer que eles não exerciam suas crenças secretamente. “Foi uma população silenciada”, arrematou o professor que, em sua dissertação de mestrado contou a história de silenciamento do candomblé em Goiânia.

Com a construção de Goiânia, surge também o candomblé de uma forma mais institucionalizada em Goiás, principalmente por conta da consolidação da casa de Seu João de Abuque. “A vinda dele, nesse período, se insere em um contexto de uma forte imigração nordestina. Vinham em busca de oportunidade, com a industrialização”, conta Marcos. Além disso, a partir da década de 60, segundo o professor, o candomblé deixa de ser uma religião étnica, estritamente de negros, e ganha um discurso universal.

O preconceito permanece, mas Marcos Torres comenta que, a partir de 2011, com governos de centro-esquerda no poder, foram criadas políticas públicas para o reconhecimento da religião. Mesmo assim, nas últimas décadas, o professor também lembra que cresceu um projeto político de “expressão fundamentalista”. “Juntamente com o reconhecimento do candomblé, cresceu a pregação neopentecostal de combate e perseguição às religiões afro-brasileiras, com um discurso muito forte de intolerância religiosa”, comentou.

No entanto, o professor relata que as casas de candomblé sempre foram “marginalizadas”. “Elas ficam localizadas, em sua maioria, em regiões periféricas. E a periferização é uma forma de exclusão. A sociedade e o poder público não reconhecem o candomblé em termos de políticas públicas. Não dá pra praticar o candomblé com uma lei que limita o volume máximo permitido a 60 decibéis. Tocar atabaque em regiões mais populosas é um problema”, relata Marcos.

Cena de ritual de candomblé | Foto: Kelvis Oliveira

O processo de exclusão das casas de candomblé é explicado por dois elementos, na visão do professor: a lei do silêncio e a sacralização dos animais. “Não consideram o direito constitucional da liberdade religiosa. mas hoje o Supremo caminha para explicitar o entendimento desse direito. Além disso, perseguem a religião por causa dos rituais com animais, mas não vejo essas pessoas se manifestando contra frigoríficos. Essa atitude se insere no quadro do racismo religioso”, comentou.

Vivência e preconceito

O técnico de enfermagem e instrumentador cirúrgico Pablo Barreto é um ogã (palavra que vem do iorubá e significa “senhor da minha casa”). Dentro do candomblé, ele é o médium que fica responsável pelo canto e pelo toque, algo de extrema importância dentro dos rituais religiosos. Esse cargo lhe deu a oportunidade de viajar bastante. Por conta da religião, já esteve em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Aracaju, por exemplo.

Pablo foi criado entre as contas e os atabaques, em Brasília. “Meu pai entrou no candomblé em 1996, quando eu tinha 1 ano e meio. Ele sempre ia e eu comecei a ir junto. Mas, na infância, era difícil”, lembrou. Desde que está em Goiás, ele relata que nunca sofreu preconceito por ser candomblecista.

A psicóloga e professa Raimunda Montelo Gomes teve o primeiro contato com o candomblé quando ainda estava na faculdade. “Meu pai, um homem negro do Maranhão, já era iniciado. Descobri pelo oráculo. E ele nunca falou disso com a família por medo do julgamento”, contou, ao reafirmar que “a ancestralidade bate à porta da gente”. “Chegou um tempo que não teve mais como negociar”, lembrou Raimunda, hoje com mais de 21 anos de iniciada.

O professor de Francês Walace Lopo, que nasceu em um berço cristão (católico, mais precisamente), já frequenta o candomblé há quatro anos, sendo iniciado há três. Atualmente é um iaô, o que significa que ele é um filho de santo que já passou pela iniciação, mas que ainda não completou sete anos na religião.

Walace conta que, quando se assumiu homossexual, “foi toda uma problemática” na sua antiga igreja. “Comecei a procurar alguma religião que realmente me aceitasse. Encontrei no candomblé algo que eu gostava muito”, explica, ao destacar a vivência da comunidade e respeito a todas as pessoas, da criança até o idoso, uma característica dos candomblecistas. “O contato com o espiritual também é incrível”, completou.

Mas o professor Walace reconhece o preconceito que a sociedade tem com sua religião atual. “Quando estou vestido como candomblecista sinto o preconceito. Ele é muito mais velado do que com os meus irmãos pretos, mas existe. Uma olhada, uma fala mais agressiva, mas ninguém nunca chegou a me confrontar”, contou. E ele indica o caminho para combater atos preconceituosos: “A educação é libertadora para quebrar o preconceito”, apontou.

“As pessoas já me apontaram com o dedo, como se eu fosse um ET. Tive uma colega de trabalho subordinada que um dia pegou um óleo pria passar em mim e ‘tirar o demônio’ do meu corpo. Eu não acredito nisso. Isso é coisa de vocês”, respondeu Raimunda Montelo. Mas para ela o mais triste é ver crianças passarem por constrangimento por causa da intolerância religiosa. “Têm crianças que são proibidas de usarem conta na escola. Mas não proíbem crucifixo”, alertou.

A analista financeira Mayara Torres está na religião há 14 anos. Seu tio é pai de santo. “Em meu primeiro contato com o candomblé, eu tinha 10 anos.” Atualmente, ela já é uma ialorixá – quem já tem filhos de santo, muitas vezes responsável por gerenciar um terreiro e a liturgia do candomblé, exercendo uma autoridade sobre os membros de seu grupo. “Minha vida hoje se resume, basicamente, a trabalho, família e candomblé. É acordar, escovar os dentes, cuidar de meus filhos e me dedicar à minha religião”, resumiu.

Mayara também relata o preconceito por ser candomblecista. “Tá mexendo com coisa do demônio”, “acabou com sua vida” e “não pode utilizar contas no local de trabalho” foram apenas algumas das falas preconceituosas que já ouviu no banco em que trabalhava. “Uma chefe evangélica não me promoveu por causa da religião”, afirmou. Para fugir dos ataques preconceituosos, muitas vezes, Mayara omite sua fé e diz apenas que é de uma religião de matriz africana. “É melhor do que falar candomblé, tem menos peso”, explicou.

“O preconceito é mais escancarado hoje, mas sempre existiu”, afirma a analista financeira. Com a maturidade que chegou com a idade (hoje tem 34 anos), ela garante que lida melhor com o preconceito e as situações de constrangimento. “No Cmei que meu filho frequenta, tive de explicar a religião dele, para que ele não fosse repreendido por cantar para exu ou pomba gira”, relatou.

Depois de mais de duas décadas no candomblé, Raimunda já enfrentou muita ignorância e preconceito. “As pessoas não tentam entender. Demonizam a religião. O preconceito sempre foi muito grande. Onde eu trabalho tem gente que nem me cumprimenta, mas eu não me escondo. Uso minhas insígnias de proteção e o preconceito se percebe no olhar das pessoas”, relata.

Raimunda Montelo: psicóloga, professora e candomblecista | Foto: Arquivo pessoal

“Minha missão não é ser mãe de santo. Meu caminho é divulgar a religião e enfrentar o preconceito”, comentou a psicóloga e professora, ao explicar que o candomblé é uma religião com muitos detalhes e fundamentos, de tradição oral. E isso ela faz, apesar do preconceito. Com orgulho, exibe suas contas e insígnias de proteção. “A ideia de que o que é negro é primitivo é um atraso e precisa ser combatida. No caso do candomblé, ainda ligam a algo do mal ou demoníaco. E essa figura mítica não existe na nossa religião”, explicou o professor Marcos Torres.

E mesmo em meio a tanto preconceito, a ialorixá Mayara acredita no crescimento do candomblé no Brasil. “A próxima geração vem lidando com mudanças. A informação chega mais fácil e o candomblé vai conquistar mais pessoas”, analisou. Mas ela acredita que a religião deve se adaptar aos novos tempos de acordo com as novas demandas da sociedade. “O candomblé é uma religião de resistência, mas também de adaptação”, concluiu.

“O preconceito está recuando”, acredita o ogã Pablo, apesar de reconhecer que o vandalismo contra as casas de candomblé é um reflexo da intolerância. “Hoje estão deixando as pessoas e invadindo e quebrando as casas”, afirmou. E Pablo vê um crescimento da religião. “O candomblé tem crescido bastante em Goiânia. A geração nova está dando continuidade à tradição, estudando e trabalhando”, comentou.

Apedrejamento de orixás: um exemplo de intolerância em Goiânia

Em 2003, Goiânia foi palco de uma “guerra” religiosa no Parque Vaca Brava, um dos principais cartões postais da cidade, que abrigava uma exposição de oito estátuas de orixás, de sete metros de altura cada, expostas no meio do lago representando as divindades Oxalá, Ogum, Xangô, Oxum, Iansã, Iemanjá, Nanã e Logunedé.

Exposição de obras assinadas pelo artista Tatti Moreno gerou revolta entre conservadores religiosos | Foto: Laurence Lalloué

Mas, no dia 19 de novembro daquele ano, véspera do Dia da Consciência Negra, cerca de 500 pessoas presenciaram uma cena de intolerância e preconceito. Evangélicos, católicos e representantes da cultura negra discutiram depois que fiéis de igrejas se reuniram no local para se manifestar contra a exposição. Há relatos, inclusive, de apedrejamento das obras de arte.

Um carro de som lançava mensagens de ódio contra os orixás. A manifestação, que estava prevista para durar uma hora e meia, durou um terço disso por causa da resistência dos representantes da cultura negra (cerca de 30 pessoas, de acordo com os jornais da época), contra os quase 500 cristãos. O movimento intolerante foi liderado pelo então pastor da Igreja Ministério Comunidade Cristã, atual Fonte da Vida, o ex-deputado Fábio Sousa.

Por conta da “pregação sistemática contra religiões”, que o professor Marcos denuncia na sociedade atual, se a exposição se fosse hoje, ele acredita “que as manifestações contrárias seriam ainda mais violentas”. “O ódio constrói uma sociedade arrogante em relação ao outro. Espero a superação desse discurso, mas não temos no horizonte nenhum indicativo de que isso vai acontecer. Esse discurso se encontrou com o racismo e a herança escravista da sociedade brasileira”, destacou.

Ao se lembrar da exposição, a psicóloga e professora Raimunda Montelo, revive o preconceito. “Hoje a gente tem delegacia que combate esse tipo de crime, tem leis mais rígidas e um ativismo mais forte”, diz, um tanto aliviada. Mas em 2004 ela foi uma das responsáveis por organizar o Encontro Afro-goiano, que foi fruto de desagravo aos atos intolerantes da época. “Era para mostrar que o goiano não é esse bando de gente preconceituosa”, rebateu.

E não foi nada fácil organizar um encontro desse porte há mais duas décadas. Mas, no fim, teve cinco edições e rendeu até prêmio e convite para visitar feiras nos Estados Unidos. “Foi uma vitrine muito importante para as comunidades tradicionais pretas de Goiás. O pessoal da religião não gosta de se expor por causa do preconceito e por isso foi difícil mobilizar no início. Mas foi muito bom”, relembra.

Em um exercício de suposição, imaginando uma nova exposição daquele porte, em um parque público, nos dias de hoje, a coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU), Iêda Leal, aposta que teria ainda mais problemas que naquela época. “Hoje vejo muita infantilidade das pessoas ao ver o mundo sem a diversidade”, avaliou. No entanto, Iêda avisa: “A resistência seria maior. Teríamos muitos defensores da arte, da vivência, da cultura e da cosmovisão”, garantiu.

Ao analisar, em hipótese, como seria a reação do público goiano a uma nova exposição de orixás em praça pública, o professor da UFG Flávio Sofiati foi otimista. “Os movimentos sociais em defesa da liberdade religiosa cresceram muito. Mas também cresceu o número de cristãos intolerantes. Só que hoje seria uma briga mais igualitária. Teria mais proteção da exposição por parte dos grupos que defendem a liberdade religiosa”, avaliou.

Para Iêda, naquela época, a Prefeitura deu uma aula de cidadania ao abrigar uma exposição para valorizar a cultura e a religião africana. No entanto, as reações negativas tentaram diminuir esse feito. “A exposição foi importante para revelar o quanto de racismo, o quanto de ignorância, de fanatismo religioso e conservadorismo temos em Goiás”, declara.

Racismo religioso ainda é preocupante

Segundo a coordenadora do Movimento Negro Unificado, o preconceito contra as religiões de matriz africana passa pelo racismo. “Alguém vendeu por um preço muito baixo que temos uma única religião”, afirma, ao se referir à tradição judaico-cristã. “Tudo o que foge dessa visão é visto como negativo”, completou.

Para Iêda Leal, as religiões de matriz africana sobreviveram no País graças à resistência negra depois de um processo doloroso de escravização. “Fomos sequestrados da África e trazidos para o Brasil como escravizados. Isso nos tirou a possibilidade de pensarmos e vivermos como nossos povos africanos”, explicou.

Coordenadora do Movimento Negro Unificado, Iêda Leal | Foto Arquivo pessoal

Na cosmovisão do candomblé, como a coordenadora pontua, o respeito à ancestralidade é primordial. “Não se pode negar o rito e a originalidade de uma herança de matriz africana. É a tradição da África sendo vivida com respeito ao canto e às diferentes formas de chamar as divindades. Lamento quando as pessoas diminuem isso”, diz Iêda.

No entanto, a coordenadora do MNU reconhece que existem atualmente políticas públicas para garantir a liberdade religiosa. “As delegacias são importantes para o regramento da sociedade e os violadores devem ser punidos”, afirma. Mas, para ela, essas medidas ainda são insuficientes. Isso porque o preconceito que as religiões de matriz africana sofrem, na visão de Iêda, é um “resquício da colonização em um País que não respeita sua diversidade”. “O Estado é laico e todas as religiões devem ser respeitadas”, lembrou.

Polícia recebe denúncias e investiga crimes de intolerância religiosa

Enquanto o babalorixá Marcos Torres denuncia “crimes sistemáticos” contra o candomblé em Goiás, com a depredação de casas e perseguição de líderes religiosos, o delegado titular do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), Joaquim Adorno, avalia que a intolerância religiosa – um crime cuja pena varia entre dois a cinco anos de prisão – contra religiões de matriz africana é racismo. “Não vai acabar apenas prendendo pessoas”, lamentou.

Joaquim lembra que os crimes de intolerância podem se dar de “n” maneiras. Isso porque atos desse tipo envolvem desde a agressão verbal até a violência física ou o dano ao patrimônio, o mais comum em Goiás. “Todas as vezes que recebemos denúncias imediatamente despachamos para que policiais se desloquem até o local. Um inquérito policial é instaurado para buscar identificar os autores”, explicou.

De acordo com o delegado, em média, são registrados por mês de dois a três casos de depredação de terreiros de candomblé na região metropolitana de Goiânia. Mas ele reconhece que existe subnotificação de casos. “O Geacri é um grupo novo, muita gente ainda não sabe da sua existência e tem medo de se revitimizar no espaço público ao fazer uma denúncia desse tipo”, afirmou.

Delegado Joaquim Adorno trabalha para combater crimes de intolerância e identificar os autores | Foto: PC

Na tentativa de divulgar o Geacri, a Polícia Civil, por meio do grupo, mantém contato direto com líderes religiosos e realiza cursos e palestras para informar essas comunidades sobre seus direitos e alertar sobre a forma que o Estado age diante desses crimes graves com base na lei.