Candidatos à presidência não influenciam votação de governador
07 abril 2014 às 16h04
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Pelo menos em Goiás, as candidaturas nacionais não conseguem transferir votos para os candidatos a governador
Afonso Lopes
É voz corrente que bons e competitivos candidatos ao governo do Estado precisam de presidenciáveis consistentes do ponto de vista eleitoral para fechar “dobradinha”. Historicamente, no entanto, esse desempenho casado obtém resultados divorciados. Os candidatos à Presidência não conseguem empurrar a votação dos candidatos ao governo. O contrário é verdadeiro: boas votações para o governo reforçam votações de aliados que disputam a Presidência.
Esse erro de interpretação é mais comum do que se imagina. No final do ano, por exemplo, o ex-prefeito de Senador Canedo e pré-candidato ao governo do Estado, Vanderlan Cardoso, fez várias declarações sobre as perspectivas que ele tem do próprio desempenho em função da confirmação do nome do ex-governador pernambucano, Eduardo Campos, na disputa presidencial pelo PSB, seu partido. Cada eleição tem suas particularidades, mas até hoje, em Goiás, não se associou o desempenho de candidato de lá com performance de candidato daqui.
O exemplo mais sintomático dessa dissociação de candidaturas nacionais com domésticas é a eleição de 2002. No Brasil, resultado de uma incrível onda vermelha, Luiz Inácio Lula da Silva derrotou José Serra (PSDB). Em Goiás, o companheiro de Lula na disputa pelo governo estadual, a petista Marina Santana, recebeu apenas 15% dos votos válidos. A vitória foi de Marconi Perillo, do mesmo PSDB de Serra. E tem mais: se a onda Lula não levou Marina a surfar na eleição doméstica, Marconi foi reeleito naquele ano já no primeiro turno.
Mesmo que se olhe para outras eleições, o resultado sempre escancara a dissociação no desempenho dos candidatos a presidente e a governador. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi reeleito no primeiro turno com avassaladores 66% dos votos dos goianos. O segundo colocado, Lula, teve somente 20%. Na disputa estadual, Marconi Perillo e Iris Rezende fecharam o primeiro turno praticamente empatados, com ligeira vantagem para o tucano.
O inverso é verdadeiro, vez ou outra: o bom desempenho do candidato local empurra votos para o candidato a presidente. Foi o que aconteceu de forma bastante clara nas eleições de 2006. De um lado, e do alto de uma estupenda popularidade, que resultou numa eleição para o Senado com nada menos que 76% dos votos, Marconi Perillo sobrou para “eleger” o candidato ao governo, Alcides Rodrigues, e fez de Geraldo Alckmin vitorioso contra o reeleito Lula.
Pulando o Rio Paranaíba, em Minas Gerais, Estado cuja população tem muitas semelhanças e particularidades sociológicas com os goianos da região central, também se observa o distanciamento do eleitorado em relação às disputas estaduais e nacionais. Em 2010, quando Dilma Roussef foi eleita, acusou-se o PSDB mineiro de cruzar os braços e deixar a candidatura de José Serra naufragar. Se houve corpo mole ou não, é problema interno dos tucanos de lá, mas a verdade é que o ex-governador Aécio Neves foi eleito para o Senado e ainda ajudou a emplacar Antônio Anastasia no governo estadual. Serra apanhou feio de Dilma.
Cenário atual
Isso significa que Vanderlan Cardoso deve esquecer qualquer possibilidade de receber influência eleitoral do presidenciável Eduardo Campos na sua campanha pelo governo do Estado? Sim, e não. Historicamente, não há como se animar com a perspectiva. Não só pelas razões acima, mas também pela situação atual do pernambucano, que se arrasta na terceira posição nas pesquisas eleitorais. A única esperança de Vanderlan é que ocorra este ano algo atípico, com possível transferência de prestígio do candidato nacional para o candidato local. Pode acontecer, mas se acontecer vai entrar para a história.
O mesmo vale para Antônio Gomide, do PT da presidente Dilma, que vai buscar a reeleição. Se Lula que era o Lula, em 2010, no auge de sua popularidade, não conseguiu empurrar Iris Rezende pra cima de Marconi Perillo na disputa goiana, não será Dilma que vai conseguir carregar Gomide. Talvez o contrário seja mais fácil, caso o anapolino consiga deslanchar o suficiente na campanha estadual para sobrar um pouco de prestígio eleitoral dele para a reeleição de Dilma.
Igualmente Marconi não dependerá de Aécio, mas Aécio terá que torcer para que seu colega tucano consiga votação suficiente para que ele próprio receba uma carga hereditária nas urnas de Goiás. Mesma situação de Iris ou Friboi, pelo PMDB, que não vão contar com nada de origem nacional a não ser uma pequena confusão que poderá ser gerada na cabeça do eleitor com a confirmação de candidatura própria do PT ao governo estadual: haverá palanque duplo para Dilma ou palanque dissidente do PMDB? É algo que terá que ser resolvido de agora até a campanha.