Bolsonaristas goianos trabalham para colocar Aliança pelo Brasil nas eleições de 2020
22 dezembro 2019 às 00h01
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Políticos que encabeçam o processo de criação do partido do presidente da República no Estado dizem acreditar na possibilidade de a legenda ser autorizada a disputar corrida pelo voto no ano que vem
Foi liberado na sexta-feira, 20, o início da coleta de assinaturas e reconhecimento de firma em cartório para a criação do partido Aliança pelo Brasil, sigla lançada pelo presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), que deixou o PSL após disputa para comandar a sigla com o presidente nacional, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE).
Em Goiás, a corrida contra o tempo para viabilizar a fundação da nova legenda bolsonarista na Justiça Eleitoral é encabeçada pelo líder do governo na Câmara, o deputado federal Vitor Hugo (PSL), que deixou de usar a patente major no nome político pela constante confusão que faziam com o deputado estadual Major Araújo (PSL).
Em evento lotado, com pessoas em pé no fundo da Sala de Sessões da sede da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), Vitor Hugo prestou contas do primeiro ano de mandato como deputado federal em Goiânia na noite de quinta-feira, 19. Como é praxe no protocolo de eventos políticos, o encontro foi aberto com execução do Hino Nacional Brasileiro. Talvez o que não seja comum em outras agendas públicas foi a empolgação da plateia na hora de acompanhar a letra no coro. E não houve uma versão abreviada, apenas com a primeira parte.
A composição do maestro Francisco Manoel da Silva, com letra do poeta Joaquim Osório Duque-Estrada, foi entoada do primeiro verso ao último, com um apego recente bastante explorado a um dos quatro símbolos da República Federativa do Brasil nas manifestações pró-impeachment da então presidente Dima Rousseff (PT) de 2014 a 2016. Não é uma coincidência o fato de o slogan do governo Bolsonaro ser justamente retirado dos versos finais das duas partes do Hino Nacional: “Pátria amada Brasil”.
Até as críticas mais recentes do chefe do Executivo nacional à imprensa, à obra do educador Paulo Freire, à esquerda marcaram presença no evento. A defesa de projetos como o Escola Sem Partido, a necessidade de se travar uma guerra contra a dita doutrinação cultural e educacional nas universidades, referidas como antro da formação de militantes dos partidos esquerdistas, surgiram vez ou outra quando os microfones foram abertos para perguntas da plateia. Público esse formados por pessoas de diferentes cidades goianas e representantes de entidades empresariais.
Vitor Hugo reforçou a defesa das pautas definidas como conservadoras, aquelas levantadas por Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, mas que o deputado federal disse não ter sobrado tempo ou espaço na agenda do Congresso Nacional para serem discutidas diante da urgência na aprovação de medidas provisórias e reformas que miram a melhoria da economia do País.
A criação do partido Aliança pelo Brasil foi citada apenas uma vez pelo líder do governo na Câmara, no momento em que Vitor Hugo saudou o deputado estadual Paulo Trabalho (PSL). “No Aliança pelo Brasil, o deputado Paulo [Trabalho] vai estar com a gente. Fiz o convite e de pronto ele aceitou”, disse o deputado federal durante a prestação de contas na sede da OAB-GO. Paulo Trabalho reafirmou seu compromisso de caminhar ao lado do grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro quando fez um breve cumprimento aos presentes.
Dia D e Dia A
“Tivemos um Dia D, que foi um dia de desfiliação. Porque para poder apoiar a criação de um partido as pessoas não podem ser filiadas”, disse Vitor Hugo ao Jornal Opção após a prestação de contas. De acordo com o deputado, a coordenação do trabalho é feita pela Executiva Nacional do Aliança pelo Brasil. Na sexta-feira, a sigla em fase de criação realizou o Dia A, de apoiamento. “Vamos divulgar em todas as páginas do Aliança pelo Brasil e também nas páginas aqui em Goiás o procedimento que será adotado para que o cidadão que queira possa apoiar.”
O assessor parlamentar de Vitor Hugo e ex-vereador em Anápolis, Sargento Pereira Júnior, informou que desde sexta, os interessados em apoiar a criação do partido do presidente Bolsonaro podem entrar no site http://www.aliancapelobrasil.com.br e apoiar a fundação do Aliança pelo Brasil. “Nossa expectativa é que ocorra dentro do prazo [4 de abril] para que possamos concorrer às eleições do ano que vem. Até meados de fevereiro e início de março o partido já está pronto”, declarou o deputado federal.
O líder do governo diz que aqueles que ficaram na ala bivarista do PSL, o que inclui o presidente estadual do partido, o deputado federal Delegado Waldir Soares, têm tentado impedir as ações do grupo bolsonarista. “Nos impuseram uma punição de suspensão. Mas já tiveram o primeiro revés na Justiça, porque ficou muito claro que era uma manobra para conseguir uma maioria artificial para mudar a liderança do partido.”
Vitor Hugo relatou que os bivaristas conseguiram manter a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) na liderança do partido na Câmara de quatro a cinco dias, posto que já foi retomado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). “Estão olhando o PSL pelo retrovisor. Eles são passado. Já entramos com uma representação no TSE [Tribunal Superior Eleitoral] para conseguir a justa causa para sair do PSL sem a perda de mandato”, detalha.
Para o parlamentar, o momento ainda é de expectativa sobre o futuro do Aliança pelo Brasil. “Você viu hoje pela presença de diversos segmentos. Procuramos, até em respeito à OAB, não falar sobre o partido. Mas é um assunto que acaba sendo trazido nas conversas particulares. Na hora de tirar foto, muitos vieram com a ideia de presidir as comissões provisórias de suas respectivas cidades.”
Segundo Vitor Hugo, há uma seleção criteriosa “para evitar o que ocorreu com o PSL”, que cresceu demais com a chegada de Jair Bolsonaro, mas parte dos filiados depois de eleitos ou escolhidos para presidir comissões acabaram por não corresponder “àquilo que a população queria”. Sobre o uso da certificação digital no processo de assinaturas para criar o Aliança pelo Brasil, o deputado federal diz que o alto custo financeiro pode afastar alguns dessa possibilidade.
“O processo que está sendo planejado pelo partido será mais barato e mais popular, com uma capilaridade maior. Acreditamos que será mais eficaz do que se usássemos a certificação digital”, descreve o líder do governo.
Arte com cápsulas
“Não vejo nada de mais na arte para que seja objeto de crítica. Todo mundo sabe que o nosso presidente e nós, que vamos migrar para o Aliança pelo Brasil, temos uma visão bem particular sobre a questão do armamento da população, nossa ideia de liberar com responsabilidade o máximo possível para que o cidadão tenha o direito de defesa.”
Para Vitor Hugo, quem criticou a placa feita com projéteis de diferentes calibres é porque pensa diferente do que acredita o grupo bolsonarista. “Uma grande parte daqueles que votaram no presidente apoiam essa política. E quem votou no Bolsonaro e não defende sabia que o presidente defenderia essa bandeira.”
Assim como outros políticos eleitos pelo PSL, o deputado estadual Paulo Trabalho pretende fazer parte do Aliança pelo Brasil quando a sigla do presidente Jair Bolsonaro for criada e houver a possibilidade garantida por uma janela para que deputados e vereadores não corram o risco de perder o mandato. “Quando for possível fazer a migração para o novo partido, desejo acompanhar o presidente Jair Messias Bolsonaro, o deputado federal Vitor Hugo e continuar o trabalho que temos feito. Fomos eleitos junto com o presidente e queremos manter a mesma linha”, explicou Paulo Trabalho.
O deputado estadual disse que a intenção é continuar também em Goiás ao lado do governador Ronaldo Caiado (DEM), “dar o melhor para a nação brasileira e não escolher ficar ao lado de fundo partidário”. Paulo Trabalho afirmou que vive uma situação parecida com a do deputado estadual Delegado Humberto Teófilo (PSL). “Delegado Waldir é um amigo, mas o rompimento com o governador Caiado e com o presidente Bolsonaro não foi o que esperávamos. Propusemos um programa diferente durante a campanha e agora Waldir desvirtuou essas bandeiras.”
De acordo com Paulo Trabalho, o presidente estadual do PSL tem feito “certo terrorismo” com demonstrações de que pretende cassar o mandato dos deputados estaduais e do federal por Goiás pelo partido com uma alegação de que houve infidelidade partidária. “Ora! A nossa fidelidade é com a nação brasileira. Em nenhum momento nós deixamos o PSL. Sairemos quando estivermos com a janela jurídica para que não soframos nenhum tipo de sanção”, explicou.
O deputado estadual disse acredita que se o presidente da República quiser, Bolsonaro consegue 500 mil assinaturas para criar o Aliança pelo Brasil do dia para a noite. “O povo está esperando o momento para poder assinar as fichar e criar o novo partido”, relatou Paulo Trabalho.
Encarregado em Anápolis
Escolhido para cuidar da busca por assinaturas e apoio para fortalecer a ideia da criação do Aliança pelo Brasil em Anápolis, o ex-vereador Sargento Pereira foi escolhido pelo deputado Vitor Hugo para cuidar da coordenação do partido na cidade. Pereira explicou que o primeiro momento não tem nada a ver com filiação.
Até porque o partido ainda não foi registrado no TSE, apenas autorizado a viabilizar sua fundação. “O momento é de apoio para formação do Aliança pelo Brasil. Só vai poder participar das assinaturas de apoio quem estiver desfiliado. Por isso fizemos dois Dias D de desfiliação.”
Pereira lembrou que os ocupantes de cargos majoritários podem deixar seus partidos se quiseram fazer parte do processo de fundação do Aliança pelo Brasil, como senadores, prefeitos e governadores. “Acreditamos que até fevereiro estaremos com 1 milhão de assinaturas pelo Brasil para criar um novo partido que será realmente uma verdadeira aliança no nosso Estado e no País”, afirmou o ex-vereador.
Segundo o representante do Aliança pelo Brasil em Anápolis, o novo partido do presidente Bolsonaro atrairá todas as pessoas definidas como de bem, que anseiam pela fundação de uma nova forma de se fazer política. Os compromissos com a família e a segurança são destacados por Pereira como bandeiras da sigla bolsonarista. “Antes do Aliança pelo Brasil, tínhamos partidos que agiam de acordo com a vontade do presidente da legenda. Esse partido não. O Aliança vai ser criado para defender os interesses da família e das pessoas de bem mesmo.”
Pereira citou que a comissão provisória do PSL em Anápolis foi destituída, o que dificulta a desfiliação daqueles que se filiaram ao partido na cidade e que pretendem ir para o Aliança pelo Brasil e apoiar a fundação da nova sigla. Quem entra nessa situação é a vereadora anapolina Thaís Gomes de Souza (PSL), que vê no momento o de necessidade de cautela na criação da nova legenda. “Na minha opinião, [o trabalho para criação do Aliança pelo Brasil] está devagar. Acredito que seja hora de cautela até tudo se concretizar”, disse a vereadora.
Suplente de deputado estadual pelo PSL, Humberto Evangelista está decidido se coloca como pré-candidato a prefeito de Anápolis para as eleições de 2020. “Entretanto, com a divisão no PSL, muita coisa mudou.” Evangelista disse que ainda não conversou com o presidente estadual do partido sobre sua permanência ou saída da sigla. “Não houve diálogo ou fui convidado pelo deputado Delegado Waldir ou o responsável pelo Aliança para conversar.”
Sem poder se comprometer com ninguém, até para manter as chances de concorrer à Prefeitura de Anápolis, Evangelista afirmou que esperará por novas tratativas co os presidentes dos dois partidos. “Até lá, permaneço no PSL, de onde só saio se não houver interesse da cúpula municipal”, declarou.
O suplente de deputado estadual explicou que vê com bons olhos a criação do Aliança pelo Brasil, mas ainda não sabe se será convidado para participar do grupo do Sargento Pereira. “Também não tenho como afirmar se haverá tempestividade no TSE para o próximo pleito municipal, que se avizinha.”
“É um direito de qualquer pessoa querer formar um novo partido”, diz Delegado Waldir
Depois de romper com o presidente Jair Bolsonaro em seu apoio incondicional, o deputado federal Delegado Waldir se colocou na defesa das pautas que avaliar positivas do governo. Ao Jornal Opção, o presidente estadual do PSL disse que atuará para evitar eventuais falhas e equívocos que vierem a ser cometidos na tentativa de criar o novo partido bolsonarista. “É um direito de qualquer pessoa ter a pretensão de formar um novo partido. É um direito do presidente. Respeitamos essa possibilidade, desde que sejam cumpridas todas as regras partidárias previstas pelo TSE.”
Segundo o Delegado Waldir, o PSL, “legalista que é”, combaterá “equívocos” e impugnará “eventuais falhas que existam”. “Não temos nenhuma pretensão [de impedir a criação do Aliança pelo Brasil em Goiás], só queremos cumprir a lei para que não seja fundado um partido para privilegiar uma pessoa, um momento. A lei foi feita para todos os partidos políticos.” O presidente estadual do PSL lembrou que existem siglas que estão há cinco anos no aguardo para serem autorizados pelo TSE para serem fundados.
“Uma vez que esse novo partido supere a normatização legal, não temos nenhum impedimento para que a sigla exista.” No caso dos deputados Vitor Hugo (federal), Paulo Trabalho e Deputado Humberto Teófilo (estaduais), Waldir explicou que o PSL está à disposição se os três quiserem se desfiliar. “Aceitamos tranquilamente a desfiliação dos deputados. Temos suplentes, com a Sargento Denise Brasil, que é suplente de deputado federal, e temos a escrivã de polícia Keithe Amorim e o Delegado Cristiomário, que são suplentes dos estaduais”, afirmou.
Delegado Waldir disse que aguarda a desfiliação dos três parlamentares que pretendem sair do PSL, “considerando que não temos janela eleitoral”. “Com certeza, os atos premeditados dos deputados que ferem conduta ética, faremos as proposições de punição conforme dispõe o estatuto do PSL.” O presidente estadual pesselista enfatizou que o deputado federal Vitor Hugo já foi punido com suspensão. “Estamos aguardando o [presidente da Câmara] Rodrigo Maia (DEM-RJ) acatar a decisão para afastá-lo da posição que ocupa hoje na Câmara [líder do governo na Casa]”, detalhou o parlamentar.
Com relação aos deputados estaduais Paulo Trabalho e Delegado Humberto Teófilo, o presidente do PSL informou que os processos serão instaurados e o direito de defesa será garantido aos dois parlamentares.
Sobre a pré-candidatura a prefeito de Anápolis do suplente de deputado Humberto Evangelista, o Delegado Waldir afirmou que ainda não há nada previsto com relação à chapa majoritária na cidade. “A chapa será formada. Teremos candidato a prefeito em Anápolis. Mas neste momento, existe muito diálogo e ainda não há uma formalização de chapa”, pontuou.