Bancada do PT quer “capitalizar” obras federais no Estado
14 novembro 2015 às 12h09
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Deputados petistas têm audiência com ministro Ricardo Berzoini para agradecer à presidente Dilma por liberação de recursos, mas razão principal é o ciúme da boa relação dela com o governador Marconi Perillo
Cezar Santos
A bancada do PT goiano tem audiência nesta semana com o ministro Ricardo Berzoini (Governo). Sem confirmar o dia exato, o deputado estadual Luis Cesar Bueno disse, na sexta-feira, 13, que o encontro, em Brasília, “deve acontecer na semana que vem”, ou seja, de preferência antes da próxima sexta-feira, 20 (explicação mais à frente). Segundo ele, a pauta será “obras do governo federal em Goiás”.
Perguntado se o foco mais objetivo dessa pauta seria reclamação sobre o tratamento do Palácio do Planalto ao governador Marconi Perillo (PSDB), Bueno desconversou: “Vamos agradecer à presidenta e pedir para que capitalize a execução das obras, principalmente o partido dela, que é o PT. Não tem reclamação, tem é agradecimento. Na semana passada mesmo, foram 300 e tantos milhões de reais liberados para obras da Agetop”.
A resposta curta de Luis Cesar Bueno, claramente, indica certo desconforto com a abordagem do possível descontentamento dos petistas com a boa relação que a presidente da República mantém com o governador goiano. Mas na semana passada, o jornal “O Popular” trouxe uma declaração textual do deputado: “O nosso governo tem dado tudo para o governador tucano. Coisa de aliado e nós já não temos mais o que dizer para o PMDB em Goiás”.
Ao Opção, o deputado estadual Renato de Castro, colega de bancada de Luis Cesar, foi claro: “Dilma está dando munição para o nosso adversário atirar na gente”. Segundo ele, a presidente deveria tratar o governador como adversário.
O desejo de Luis Cesar Bueno de conversar com o ministro Berzoini foi acelerado depois que Marconi, mal chegando da Europa, já teve audiência com a presidente Dilma e ato contínuo anunciou duas faculdades federais para Goiás — Jataí e Catalão, um processo que vem de há muitos anos, mas que só agora foi desatado. E ter marcado para a próxima quinta-feira, dia 19 (taí a explicação da pressa para a reunião com o ministro), uma agenda com a petista em Goiás. Pode-se supor que nesta agenda Dilma e Marconi anunciem mais coisas boas… para Goiás.
O fato é que nos bastidores circula há tempos que muitos petistas, principalmente os que detêm mandato, e peemedebistas não “engolem” a cordialidade entre Dilma e Marconi, que se traduz em liberação de recursos para o Estado na medida do possível, uma vez que na atual crise, o governo federal também não tem esse caixa tão recheado assim.
O ex-prefeito Iris Rezende, por exemplo, externou mais de uma vez seu descontentamento com essa situação, que, segundo ele, não ajudaria em nada a oposição ao governo tucano em Goiás. Na campanha do ano passado, por exemplo, Iris criticou a presidente Dilma Rousseff dizendo que a petista liberava verba apenas para o governador Marconi Perillo. Depois, tentando se retratar, Iris afirmou que o “desabafo” deveria ser interpretado como um alerta. “O que nós fizemos foi despertá-la (a presidente) para uma atenção maior ao nosso prefeito (Paulo Garcia, do PT) que tem enfrentado dificuldades, enquanto ela tem se lembrado do governo estadual, que não está politicamente integrado no próprio projeto da presidente.”
E antes, em 2013, a revista “Veja” publicou uma nota revelando que em uma reunião de bancada do PMDB, a então deputada federal Iris Araújo criticara Dilma por liberar verbas para obras em Goiás. Segundo a deputada ao liberar verbas para nosso Estado, Dilma estava fortalecendo o governador Marconi Perillo, ou seja, tudo que o PMDB não queria.
No governo passado, uma comitiva integrada por deputados da base aliada do governo federal em Goiás, entre os quais Luis Cesar Bueno e Francisco Gedda, teria ido à presidente para pedir que ela parasse de mandar recursos para o governo estadual. A presidente teria sido categórica ao dizer que não ia discriminar nenhum Estado só pelo fato de ser governado por um partido de oposição. Depois, em entrevista ao Jornal Opção, Bueno negou que o encontro tenha sido com esse objetivo, mas outras pessoas que participaram da reunião confirmaram.
O fato é que não há dúvida de que existe, por parte principalmente dos petistas com mandato e de Iris Rezende, um “ciúme” do entrosamento administrativo entre Dilma Rousseff e Marconi Perillo. Eles desenvolvem uma relação cordial, no nível em que se convencionou chamar de “republicana”, ou seja, com o objetivo maior de beneficiar a população.
Dilma pode ter um monte de defeitos como gestora —- e os tem, prova a péssima situação da economia brasileira que seu primeiro governo aprofundou ao agravar as consequências dos dois governos equivocados de Lula da Silva —, mas não é tonta de discriminar um Estado apenas por questiúnculas políticas. Dilma já mostrou que não sofre desse tipo de mesquinharia. Além disso, ela manifestou admiração pela habilidade política e administrativa de Marconi Perillo. Talvez seja isso que deixe muita gente com “dor de cotovelo”.
A seguir, petistas e peemedebistas se manifestam sobre um hipotético pedido para que Dilma boicote o governo goiano.
Maguito Vilela, prefeito de Aparecida de Goiânia (PMDB)
A presidente nunca sonegou nem está sonegando benefícios a Goiás e nem ninguém nunca ajudou o Estado como ela ajuda. Toda cidade de Goiás tem obra do governo federal, aqui em Aparecida tem mais de R$ 1 bilhão em obras. O Estado de Goiás, se não fosse a presidente Dilma, estaria numa situação muito crítica. Ela que mandou emprestar dinheiro, colocou muito dinheiro aqui.
Tem a duplicação para Jataí, a duplicação para Brasília, criação de universidades, a Universidade Federal está em Aparecida porque ela criou, o ITF [Instituto Tecnológico Federal] está aqui porque ela criou. Viadutos. Todos os goianos deveriam saber o que que essa mulher ajudou Goiás. Digo isso porque sou correto, grato às pessoas.
Ela tem de ajudar o governo do Estado mesmo, porque isso é ajudar o povo com obras boas. Isso é ajuda não para o governador, mas para o povo goiano. Ela tem feito isso e tem de continuar ajudando mesmo. Governo não pode fazer benefícios apenas para aliados.
Não existe isso de procurar ministro para interceder junto à presidente para não ajudar Goiás, isso seria o fim do mundo! Eu fui muitas vezes a ministros e à própria presidente para ajudar Goiás. Não existe isso. Todos temos de somar forçar para beneficiar o Estado. Fulano ou sicrano trabalhar contra Goiás é uma irresponsabilidade muito grande, todos devem trabalhar pelo Estado. Alguém trabalhar contra o Estado seria uma política muito mesquinha. O que vejo são todos os deputados e senadores colocando emendas para Goiás, para as cidades goianas.
Acho que o que provocou isso foi a criação da Universidade Federal de Jataí. A memória do povo não pode ser curta. A universidade de Jataí e de Catalão foi trabalho de toda a bancada, dos senadores, inclusive de Iris Rezende, Mauro Miranda [ex-senadores por Goiás]. É fruto de meu trabalho, dos senadores mais recentes, do governador Marconi Perillo. Quando era senador, fui o autor do projeto de independência das duas universidades, todos lutamos por isso, que está definido há algum tempo. No meu governo [1995-1998] eu doei toda a área para a universidade de Jataí.
Renato de Castro, deputado estadual (PT)
A presidenta tem de olhar para os goianos como ela olha para todos o Brasil. Tem de mandar os recursos para Goiás, sim, é claro! Mas ela tem que tratar o governador como oposição, que é a forma como o governador nos trata aqui. Ela (deve) mandar o recurso, manda direto para as prefeituras, ou já condiciona alguma coisa. O que não dá é o governo ficar ajudando o Marconi, e o Marconi não atende uma reivindicação nossa, não tem nenhuma emenda de um deputado petista que já saiu.
Por que Dilma manda dinheiro para o governador e o governador não dá o dinheiro das emendas, que são para benefício da população?
Ela tem de ajudar o povo goiano sim, mandar recursos, mas ela tem de chamar Marconi e dizer: “Olha, Marconi, eu vou te ajudar aí, mas você de fazer uma oposição republicana, não uma oposição xiita como você faz aqui”.
Acho que a presidenta deveria tratar o governador como oposição, porque os deputados do Marconi em Brasília estão lá votando tudo contra Dilma. Ela fica dando munição para nosso adversário atirar na gente. Ele se diz grato à presidenta, então deveria colocar os deputados dele para defendê-la também. Ele sozinho, verbalmente, ficar elogiando na presença dela não adianta.
Ceser Doniseti, presidente regional do PT
É um equívoco de quem pensa que a presidente deveria negar benefícios a Goiás por causa de questão política. É um erro cobrar isso dela, que é presidente de todo o País, de todos os brasileiros, assim como o governador é governador de todos os goianos e cada prefeito é prefeito de todos os seus munícipes. O período de disputa eleitoral e de campanha tem prazo estabelecido pela lei, a partir daí tudo tem de ser feito em conjunto para resolver os problemas e reivindicações da comunidade, os entes federativos devem trabalhar juntos para isso.
Já vi gente reclamar desse entrosamento institucional (entre Dilma e Marconi), mas acho que quem quer reclamar, não deve reclamar de Dilma, mas do governo de Goiás não ser assim onde isso não ocorrer. Aqueles municípios que não são tratados de forma federalista devem reclamar. Da mesma forma que Dilma trata Marconi Perillo, ela trata Geraldo Alckmin (PSDB-SP), trata Fernando Pimentel (PT-MG), trata o governador de Mato Grosso do Sul (Reinaldo Azambuja- PSDB), e deve ser dessa forma mesmo. Reclamar disso é um equívoco.
Somos oposição em Goiás, queremos ganhar o governo do Estado, uma hora vamos ganhar, estamos aí há 20 anos perdendo para o povo do Marconi, mas uma hora vamos ganhar, aí vamos tratar os municípios de acordo com a amizade? Não, será de forma transparente, as políticas públicas têm de ser levadas aos municípios independentemente de quem esteja à frente do governo. É dessa forma que se cria um Estado verdadeiramente democrático.
Daniel Vilela, deputado federal (PMDB)
Não há porque o governo federal discriminar Goiás. O governo federal tem de investir sim. Recursos para Goiás nunca são demais. Até porque nos últimos anos foram os repasses e empréstimos do governo federal que impediram o Estado de parar. Mas acredito que os órgãos de controle devem fazer um acompanhamento minucioso de como os recursos são usados aqui.
Humberto Aidar, deputado estadual (PT)
Não, nada de cobrar da presidente Dilma a sonegação de recursos e benefícios para Goiás por causa de uma questão política. Não tem de se apequenar e agir dessa forma, pelo contrário. Numa crise dessa, seria irresponsabilidade atuar para que a presidente mudasse seu comportamento com o Estado de Goiás.
Eu não teria essa pequeneza de fazer política dessa forma. Sempre trabalhei para que o governador Marconi tivesse bom relacionamento com o prefeito Paulo Garcia (PT) como teve com o Antônio Roberto Gomide em Anápolis. Penso que todo recurso federal colocado em Goiás não é dinheiro para o Marconi, é dinheiro para ser investido em obras e benefícios para o povo.
Por mim, quanto mais dinheiro vier para cá, melhor. E é interessante também para o PT de Goiás, porque Dilma é também do PT. Mas eu sei que o PMDB reclama, mas o PT não tem que dar satisfação nenhuma a PMDB, nada disso. Nós devemos satisfação é à sociedade. Então, quem sou eu para questionar o bom relacionamento entre Dilma e Marconi. Aliás eu questionaria se o relacionamento fosse ruim. Uma coisa é a disputa eleitoral, outra é o mandato. Um presidente, um governador, um prefeito não exerce mandato apenas para quem votou nele.
Pedro Chaves, deputado federal (PMDB)
Não comungo com esse negócio de pedir para a presidente Dilma sonegar benefícios para Goiás, por sermos oposição no Estado. Eu não participo desse tipo de movimento. Isso não faz sentido. Se temos condições, e fomos eleitos para isso, de ajudar, porque vamos atrapalhar? Já ouvi que tem gente da base falando em ir a ministro, mas não participo disso.
Pelo contrário, eu trabalho sempre para trazer mais benefícios para Goiás. Nossas emendas de bancada são sempre nesse sentido, para ajudar os municípios goianos. Por isso temos obras federais em andamento em Goiás, como o aeroporto de Goiânia, recursos para a BR-060 e tantas outras.