O prefeito em exercício de Goiânia tem a missão de conciliar as visões do partido do prefeito eleito, Maguito Vilela, e de seu próprio

Rogério Cruz, prefeito em exercício | Foto: Reprodução

 

Na tarde do dia 1º de janeiro de 2021, o prefeito, vice e vereadores escolhidos em Goiânia nas eleições de 2021 foram oficialmente empossados no Centro de Eventos da Universidade Federal de Goiás (UFG). O evento, que ocorre tradicionalmente no primeiro dia do ano após o pleito, contou com traços atípicos dessa vez. Pela primeira vez, o prefeito eleito não estava presente para receber o cargo. Maguito Vilela, do MDB, teve mais de 277 mil votos, derrotando o senador Vanderlan Cardoso (PSD). Porém, passa seus dias em um leito de UTI desde o dia 27 de outubro, quando foi internado com um quadro grave de covid-19.

Mesmo tendo superado a doença, Maguito segue internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo e, até o fechamento desta matéria, tratava uma nova infecção pulmonar. Todo o processo de diplomação e posse na Prefeitura de Goiânia teve que ser feito à distância, por vias eletrônicas.

No mesmo dia da cerimônia de posse, um pedido de licença de Maguito da prefeitura foi enviado à Câmara Municipal de Goiânia. No dia seguinte, os poderes da gestão municipal já estavam com o vice-prefeito Rogério Cruz, do Republicanos, que passava a ser prefeito de Goiânia em exercício. Ao ser empossado no Centro de Eventos da UFG, Cruz fez um discurso pragmático e deixou claro: era um “fiel soldado” de Maguito Vilela.

Mas mesmo tendo demonstrado forte alinhamento a Maguito antes, durante depois da campanha eleitoral, Cruz tem vertentes próprias na política, vertentes essas puxadas pelos traços fortes do Republicanos. Intimamente ligado à Igreja Universal (Rogério Cruz é pastor), prefeito interino é responsável por boa parte do voto evangélico que culminaram em sua eleição.

Vale destacar que, na contramão de partidos consolidados em Goiás, como o MDB e o Patriotas, o Republicanos, além de aumentar sua bancada em 33% na Câmara Municipal de Goiânia, pôde celebrar dois de seus vereadores como os mais bem votados da capital: Isaias Ribeiro, com 9.323 votos, e Sargento Novandir, com 7.239 votos.

As dimensões de poder que o prefeito em exercício, assim como seu partido, ganhou tanto no Executivo quanto no Legislativo levantaram dúvidas sobre qual seria o tipo de gestão a ser adotada. Para o vereador Isaías Ribeiro, Rogério Cruz manterá o perfil de Maguito, de continuidade do legado de Iris Rezende, aliado à inovação proposta pela chapa.

Isaias Ribeiro, do Republicanos, foi o vereador mais bem votado de Goiânia | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

“Até porque ele é o prefeito interino, estamos aguardando a volta do nosso prefeito Maguito. Eu acredito que ele vai continuar tendo esse perfil, não só da continuidade da gestão do Iris, mas também inovando muitas coisas, como a implantação do IPTU Social, conclusão as obras [da gestão Iris], a implantação do hospital municipal, como foi promessa de campanha”, avaliou Isaías.

Ao Jornal Opção, o vereador afirmou que Cruz está empenhado em estabelecer uma boa relação com a Câmara Municipal, citando, como exemplo, a reunião convocada pelo prefeito interino com os parlamentares na última semana. “Ele fez essa reunião para que os vereadores tivessem mais acesso ao prefeito. Eu acredito que essa união do Executivo com o Legislativo é muito importante”, declarou.

Para Isaías, o MDB de Maguito e o Republicanos de Rogério Cruz estão alinhados e seguem “numa parceria, sem rico de choque entre projetos de um partido ou outro”. “Estamos juntos, parceiros, para fazer uma gestão boa para Goiânia”, conclui.

Rogério Cruz segue projeto da chapa, diz secretário de governo

Ex-vereador e atual secretário municipal de governo, Andrey Azeredo, do MDB, diz não haver dúvidas de que o projeto do prefeito em exercício Rogério Cruz é o projeto que foi apresentado por ele e por Maguito durante a campanha e que foi concebido com a colaboração de todos os partidos que integraram a coligação Pra Goiânia Seguir em Frente (Republicanos, Patriota, PCd B, PTC e PMB, além do MDB).

“O que estamos colocando em execução neste momento, enquanto o prefeito Maguito se recupera 100%, é o que foi comprometido na campanha com a população. É um projeto de um grupo que hoje, neste momento, está sendo executado por Rogério Cruz. Não é um programa de um partido A ou B”, declarou Azeredo.

O secretário também afirmou que todas as legendas que abraçaram a campanha darão sua contribuição para a gestão Maguito-Cruz, até mesmo aqueles que estiveram do outro lado, como o PSD (partido do candidato derrotado, Vanderlan Cardoso). Conforme Azeredo, o partido terá nomes indicados pelo deputado estadual Lucas Calil (PSD) que, segundo o secretário, esteve ao lado de Maguito desde o começo.

“Se você olhar a composição do 1º escalão, você percebe que vários partidos que integraram a coligação já estão presentes […], por estarem qualificados e estarem imbuídos do mesmo projeto que é fazer uma Goiânia cada vez melhor comporão a equipe para entregar esses resultados”, afirma.

MDB de Maguito não é o de Iris, diz cientista político

Para o cientista político Guilherme Carvalho, há muito pouco do “DNA irista” no MDB de Maguito que compôs a chapa com Rogério Cruz. Para ele, uma vez que Cruz está representando o projeto construído pelo MDB de Maguito e pelo Republicanos, a tendência é que a gestão caminhe mais para a inovação.

Bem, esse é o esse é um ponto. Acho que é, DNA Irista há muito pouco, apesar de haver secretários ligados à gestão do Iris, certo? Mas, eu acho que até, a partir ponto, a gente tem que pensar no que que é o governo, estrito senso falando, pensando no campo da ciência política, o governo é quem? O governo é a composição da chapa vencedora, ou seja, o vice, o Prefeito e seus aliados, somados a sua base no Legislativo, que eles compõem o governo e, é claro, indica o secretariado, que são as pessoas que vão pensar nas marcas de governo.

Guilherme Carvalho, cientista político | Foto: Reprodução

Eh, eu diria que sim, essa é uma gestão que parece indicar, que nós tamos indo prum lado de inovação, eh pensar em novas formas de se fazer política pública e gestão pública Mas, veja bem, Tom, é, essa não é a marca do vice-prefeito, né?

“O [prefeito] Gustavo Mendanha já praticava isso há algum tempo em Aparecida, e ele é do grupo do Maguito. Então, trazer ideias de metas na gestão, parcerias público-privada, atração de investimentos externos, ideia de incentivo à ciência, tecnologia, inovação, enfim, tudo isso já está dentro do DNA do Grupo do Maguito que não tem nada a ver com o grupo que ocupava o Paço no ano passado. É o mesmo MDB, mas são dois MDBs completamento diferentes”, discorre Carvalho.

O cientista afirma que “as forças ainda estão se constituindo” no governo e que a disputa de visão dentro da gestão ainda não está sendo travada. Contudo, adianta que as disposições iniciais apontam para a confirmação da tese de “projeto integrado” do secretário municipal de governo.

“Maguito, que é pessoa que encabeçará o projeto, ainda não está em condições de tomar as decisões que precisam ser tomadas. Mas, eu tendo acreditar que apesar de protocolar, a fala do Andrey vai muito ao encontro do que realmente a chapa propõe, que é sim uma gestão integrada”, finaliza.