Ainda sem companhias confirmadas, internacionalização do Aeroporto de Goiânia entra na reta final
09 fevereiro 2020 às 00h01
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De acordo com o presidente da Goiás Turismo, processo deve ser concluído até o dia 28 deste mês, mas processo ainda tem pendências
Desde o final do ano passado, excursionistas e empresários de Goiás observam com otimismo uma notícia dada pelo governo do Estado. Em setembro, o secretário de Indústria e Comércio (SIC), Wilder Morais, anunciou o início do processo de internacionalização do Aeroporto de Goiânia – Santa Genoveva – após uma reunião com o superintendente da Infraero, Antônio Sales.
A novidade animou tanto quem trabalha com turismo quanto quem usufrui dele, uma vez que, atualmente, para embarcar em um voo internacional, quem mora em Goiás precisa se deslocar para outros aeroportos, como o de Brasília ou São Paulo, uma vez que o de Goiânia opera apenas com voos nacionais.
A internacionalização deve propiciar a partida direta de Goiânia para outros países. Isso pode mudar completamente o cenário turístico goiano. Entretanto, os procedimentos para o “upgrade” do aeroporto ainda estão em andamento. Mas o destino dessa ideia segue incerto.
Para ser internacionalizado, ou seja, dispor de voos internacionais que decolem diretamente do Aeroporto de Goiânia, o terminal precisa passar pelo crivo de uma série de órgãos federais que emitem exigências a serem cumpridas para a conclusão do processo. São eles: Agência Nacional de Aviação Civil (Anac); Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB); Departamento de Polícia Federal (DPF); Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DAS/Mapa).
Conforme o órgão nacional de aviação civil, a análise é feita mediante requerimento do operador local. A solicitação precisa estar instruída por decisões administrativas que atestem a capacidade do aeroporto de atendimento às operações de tráfego aéreo internacional pelas entidades federais já mencionadas.
Entretanto, até quarta-feira, 5, a Anac, que realiza a designação de aeroporto como internacional na última etapa, informou que ainda não havia recebido qualquer documentação do governo de Goiás.
O presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral, explicou a ausência de documentação na Anac para análise. O titular da pasta responsável pelo processo de internacionalização do Aeroporto de Goiânia juntamente com a SIC informou que adaptações e implementações da estrutura física do aeroporto precisaram ser realizadas em cumprimento às exigências dos órgãos competentes. Conforme Amaral, tais implementações só foram finalizadas na quarta-feira. E a documentação que comprova as alterações seria remetida à Anac no dia seguinte.
As mudanças no Aeroporto de Goiânia foram autorizadas e realizadas pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, a Infraero. Ao Jornal Opção, a empresa pública vinculada ao Ministério da Infraestrutura falou sobre as adaptações no âmbito do processo de internacionalização.
A estatal confirmou que as adequações do Aeroporto de Goiânia foram concluídas e o processo encontra-se em “fase de validação por parte dos órgãos públicos envolvidos para consolidação e envio à Anac para fins análise e emissão de Portaria, tornando-o aeroporto apto a receber voos internacionais”.
Segundo a Infraero, entre as adequações realizadas estão a instalação de balcões para a Polícia Federal, esquadrias de vidros, aparelho de raio-X, adaptações nas áreas de embarque, desembarque e triagem de bagagens.
Fabrício Amaral explicou que o processo de internacionalização conta com várias etapas. Uma delas, agora concluída, é a alteração da estrutura física do aeroporto. O presidente da Goiás Turismo também destacou que o governo de Goiás tem preparado o terreno há algum tempo para que o terminal passe a operar com voos internacionais. Uma das iniciativas enfatizadas por Amaral é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do combustível de aviação.
Em novembro de 2019, o governador Ronaldo Caiado (DEM) assinou o termo celebrado pelo governo, por meio da SIC, Secretaria da Economia e Goiás Turismo, que dá efetividade ao Decreto nº 9.560. A decisão reduzir a tributação sobre o querosene de aviação (JET-A1) de 15% para 7%.
Na época, Caiado declarou que “a maior demanda, em qualquer um dos 246 municípios goianos, é a oportunidade de emprego”. Por isso, o governador afirmou que era preciso “identificar e alavancar os setores capazes de fazer com que o emprego chegue mais rápido ao interior”. “O turismo é fator determinante para avançarmos em qualidade de vida das pessoas pelo interior”, concluiu.
Na solenidade de assinatura da redução do ICMS, que foi realizada no Aeroporto de Goiânia, o titular da Goiás Turismo também apontou a medida como importante porque “o turismo mobiliza 50 segmentos econômicos diretos e mais de 500 indiretamente, segundo estudos recentes”. De acordo com Amaral, “os aeroportos e toda sua reverberação são plataformas muito fortes de desenvolvimento, e o Brasil ainda não acordou para isso, sobretudo no aspecto regional”.
Ao Jornal Opção, o titular da agência disse que o projeto de internacionalização é “tocado a várias mãos”. Amaral se refere às articulações de Wilder Morais na SIC e toda a documentação necessária que seria enviada à Anac no dia 6.
O presidente da pasta de turismo afirmou não ter controle sobre o prazo de análise no órgão de aviação civil, mas adiantou que o processo todo deve ser concluído até o final do mês. “Até o dia 28 de fevereiro, no máximo início de março, o Aeroporto de Goiânia deve ser internacional”, declarou.
“Estamos contando os dias” para a internacionalização do Aeroporto de Goiânia, diz diretora de agência de viagens
A diretora comercial Valéria Nogueira, proprietária de uma agência de viagens de Goiânia, vê com ótimos olhos a iminente conclusão do processo de internacionalização do Aeroporto de Goiânia. Para a empresária, a novidade pode alavancar o turismo regional e aumentar ainda mais o fluxo de visitantes estrangeiros em Goiás.
De acordo com Valéria, a expectativa é boa pois a disponibilização de voos internacionais com partida de Goiânia pode aumentar exponencialmente a procura por destinos internacionais. “Isso vai impactar tanto o turismo receptivo quanto o emissivo. A TAP, por exemplo, se passar a operar aqui vai ser muito bom, pois Portugal é um dos lugares mais procurados aqui com a gente, até por ser um local mais barato de se viajar”, disse. A diretora comercial explicou que quanto antes a internacionalização for concretizada melhor. “Estamos contando os dias”, observou.
Nádia Cruvinel é outra proprietária de agência de viagens que está ansiosa para a finalização do processo no Aeroporto de Goiânia. A empresária acredita que a internacionalização vai “melhorar, e muito, a vida do goiano”, uma vez que o tempo gasto para se viajar será significativamente reduzido.
“Com a abertura dos voos internacionais aqui em Goiânia, muita gente vai ser beneficiada. Pessoas que vão para Portugal, por exemplo, saem de Goiânia e têm que ir pra Brasília para pegar o voo de lá, e o aeroporto de Brasília tem estado com pouquíssimos voos para Portugal. Essa internacionalização vai economizar no mínimo umas seis horas de viagem”, afirmou.
A agente de viagens também observou que muitos lugares com potencial atrativo para turismo têm poucos frequentadores justamente pela dificuldade de acesso. “Com essa mudança no aeroporto isso vai melhorar demais”, avaliou.
Estado negocia com companhias aéreas; empresas que atuam em Goiás não manifestaram interesse
Amaral disse que tem dialogado com representantes de empresas aéreas de Portugal, Panamá e Argentina. O objetivo é fechar negócio com grandes companhias para operações fixas de voos internacionais no Aeroporto de Goiânia.
O titular da Goiás Turismo revelou que está com as conversas adiantadas com o CEO da panamenha Copa Airlines, empresa aérea que faz voos para importantes pontos turísticos como Orlando e Nova York, nos Estados Unidos. O presidente da Goiás Turismo também informou que se reuniu recentemente com representantes da portuguesa TAP Air e pautou a possibilidade de a companhia operar no Santa Genoveva.
Entretanto, nada está definido. “Vamos homologar primeiro [a internacionalização] para tratarmos melhor dessa questão”, afirmou.
Apesar das animadas expectativas para a vinda de novas companhias aéreas, algumas das maiores empresas do Brasil, e que atualmente operam em Goiânia, não manifestaram interesse em operar voos internacionais na capital.
A GOL declarou que, como empresa competitiva, “avalia constantemente novas oportunidades para seu negócio e que possam oferecer ainda mais opções de voos aos seus clientes”. Segundo a companhia, no momento, não estão previstas operações internacionais no aeroporto de Goiânia”.
A Azul Linhas Aéreas foi outra que descartou expandir suas operações no Santa Genoveva. Assim como a rival GOL, a Azul afirmou também que, no momento, “a empresa não tem planos para lanços voos internacionais” com partida da capital de Goiás.
Já a Latam informou que “avalia constantemente as oportunidades de mercado conforme a demanda de cada região”. A empresa afirmou que “segue atenta às necessidades dos clientes para iniciar, ampliar ou adequar as suas operações”. A Latam aérea não confirmou se pode oferecer voos internacionais em Goiânia, mas deixou a possibilidade aberta ao declarar que “qualquer novidade é comunicada oportunamente pela companhia”.