Goiás teve 314 acidentes com aviões em 10 anos
12 julho 2023 às 12h03
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*Matéria originalmente publicada em 24 março 2023
Somente no mês de março, Goiás registrou dois acidentes aéreos que resultaram na morte de três pessoas. As causas ainda são investigadas, mas sempre que há a queda de aeronaves levantam-se questionamentos quanto à segurança, os aviões e do modal aeroviário do país.
Na última quarta-feira, 22, uma aeronave caiu sobre o teto de uma casa, na Vila Mutirão, em Goiânia. Havia seis ocupantes no avião, e dois morreram. Os demais foram hospitalizados. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, vai investigar as razões do acidente.
Ainda na capital goiana, em 2 de março, a instrutora de voo Laura Graziella Trigueiro Botelho morreu na queda de um bimotor. A jovem de 29 anos era passageira da aeronave pilotada pelo irmão, que sobreviveu.
Em todo o país, foram oito quedas de aeronaves neste mesmo período, causando 10 mortes. Quedas envolvem aviões – todos de pequeno porte – e helicópteros.
Segundo dados do Registro Aeronáutico Brasileiro da Agência Brasileira de Aviação (Anac) até 2019, das 11.229 aeronaves registradas no Brasil, 16.025 eram da aviação privada, em outras palavras, 72% da frota é dedicada ao uso particular.
Goiás tem a quinta maior frota de aeronaves privadas do País. Cerca de 1200 aviões tem seus proprietários registrados no Estado. Um dos motivos é o perfil agropecuário da região, onde o uso de pequenos aviões se tornou indispensável, seja para execução de tarefas dentro das propriedades – como aplicação de defensivos agrícolas – ou para agilizar o acesso às áreas de produção distantes dos centros urbanos.
A maioria dos aviões particulares que voam em Goiás possuem perfil especifico para decolar e pousar em pistas de pousos menores e sem asfalto – comum em propriedades rurais. “É natural que o maior número de acidentes aconteça com aeronaves pequenas, porque o maior número de voos, é com aeronaves pequenas”, avalia o professor de Ciências Aeronáuticas da PUC-GO, Salmen Chaquip Dukzem.
O advogado e especialista em aviação Georges Ferreira aponta que em 2021 o risco de uma pessoa sofrer um acidente de avião, não necessariamente fatal, foi de 1 voo a cada 990 mil decolagens realizadas. Chance menor do que no ano anterior, em 2020, quando o risco de acidentes aéreos era de 1 voo para cada 630 mil decolagens. Os dados são da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA).
Segundo o Georges, entre o ano de 2020 para 2021 houve um acrescimento de 150 aeronaves, sendo que os aviões têm uma idade média de 29 anos. “Não é uma frota muito antiga. Precisamos lembrar que as aeronaves dependem muito de manutenção periódicas e preventivas. Esse trabalho é feito por empresas reconhecidas pela Anac, certificada pelo fabricante. Todos nós sempre estamos preocupados com segurança. Não existe padrão mínimo, é sempre o máximo de segurança”, diz o especialista.
Casos de acidentes aéreos
No Brasil, no primeiro trimestre de 2023, houve um aumento no número de acidentes aéreos em comparação aos últimos cinco anos, totalizando 48 casos, incluindo a queda de um monomotor em Goiânia.
Em 2018, o número foi de 55 acidentes no mesmo período, segundo o Sistema de Prevenção e Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) da Força Aérea Brasileira (FAB). Desde então, os números se mantiveram semelhantes, com 46 acidentes em 2019, 40 em 2020, 46 em 2021 e 40 novamente em 2022. Em 2014, houve o maior registro de acidentes no primeiro trimestre da última década, com 59 casos.
Apesar do aumento no número de acidentes, a quantidade de mortes é menor do que a média dos últimos nove anos para um primeiro trimestre, com 11 fatalidades em 2023, passando o acidente mais recente.
Em 2014, houve 14 óbitos no primeiro trimestre, e em 2021, 20. Desde 2012, foram registrados 1.856 acidentes aéreos no país, com 832 mortes confirmadas, sendo 48 casos em 2023.
Os acidentes deste ano envolveram principalmente aeronaves de transporte particular e com finalidade agrícola, com 16 e 14 casos, respectivamente, até o dia 18 de março.
Os demais casos envolveram oito aeronaves experimentais, três de instrução, duas da administração direta, duas especializadas e duas não classificadas.
Acidentes aéreos na aviação comercial
No de 2022, 178 pessoas em todo o mundo morreram em acidentes de avião. Apesar do número ser o dobro das 81 vítimas em 2021, não se pode dizer que a aviação ficou menos segura no ano passado, já que houve grande volatilidade no mercado em meio à pandemia.
Os números foram informados pela agência de pesquisa holandesa To70, em seu relatório anual.
No total, seis acidentes aéreos fatais em 2022 mataram 174 passageiros e tripulantes, além de quatro pessoas no solo. Apesar dessas tragédias, foi um dos anos mais seguros para viagens aéreas comerciais da história.
Adrian Young, da To70, conclui que apesar dos números de voos regressarem aos níveis de 2019, não houve um aumento correspondente de acidentes mortais. Ele escreve no relatório: “A recuperação pós-Covid que todos esperavam veio em 2022.
Embora tenha sido um verão difícil com problemas de capacidade nos aeroportos, levando a longas filas nos terminais, a recuperação não resultou em uma taxa de acidentes mais alta. A taxa atual de um acidente fatal é melhor que a média dos últimos 10 anos”.
Voo 5735
O primeiro acidente aéreo fatal de 2022 foi responsável por três quartos do número de mortos do ano. Em 21 de março, o voo 5735 da China Eastern mergulhou quase na vertical e colidiu com a encosta de uma montanha. Todos os 132 passageiros e tripulantes a bordo do Boeing 737-800 morreram. O caso ainda é investigado.
Outro acidente fatal, no Nepal, em 29 de maio, custou 22 vidas. A tragédia da Tara Air foi o 12º acidente fatal envolvendo uma aeronave comercial no Himalaia em 12 anos.
O único outro acidente com número de mortos em dois dígitos foi na Tanzânia em 6 de novembro. Dezenove pessoas morreram quando um ATR42 pertencente à Precision Air caiu no Lago Vitória.
Duas pessoas também morreram em dois acidentes estranhos no solo. A primeira foi no dia 2 de setembro, quando um Airbus A320 da TAP Portugal pousou em Conacri, na Guiné, e acertou uma moto na pista com dois homens sobre ela, tendo ambos morrido.
Além disso, dois bombeiros perderam a vida na pista de Lima, no Peru, em 18 de novembro, em um acidente bizarro que viu um Latam Airbus A320 pegar fogo após uma colisão com um caminhão de bombeiros.
No geral, houve um acidente fatal para cada 4,17 milhões de voos. A taxa está na faixa de um por 4 milhões a um por 5 milhões todos os anos desde 2015, exceto em 2017, quando foi menor e 2018, quando foi maior.
Avião é o segundo meio de transporte mais seguro do mundo
Uma pesquisa realizada pela revista norte-americana Condé Nast Traveler aponta que o avião é o segundo meio de transporte mais seguro, ficando atrás apenas do elevador, que ocupa a primeira colocação no ranking. Isso acontece devido a regulação existente no controle aéreo, fazendo com que a aviação se desenvolvesse cada vez mais. A cada acidente aéreo ocorrido, a chance de um novo acidente acontecer por motivo semelhante cai consideravelmente.
Segundo a pesquisa, é estimado que acidentes aéreos, nos Estados Unidos, causam 0,006 mortes a cada de 1 bilhão de milhas viajadas.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é que a maioria dos acidentes aéreos acontecem em aviões pequenos, particulares ou de táxi-aéreo, como foi o caso de artistas como Gabriel Diniz e Marília Mendonça, que perderam a vida quando se deslocavam por este meio.
Apesar dos números indicarem a alta segurança dos aviões, os acidentes mais desastrosos ocorridos ao longo dos anos são os que atraem maior atenção da mídia, o que dá, ao espectador, a sensação de perigo quando utiliza o meio de transporte.