O futebol goiano vive um paradoxo histórico: enquanto clubes como Goiás e Atlético Goianiense conquistaram momentos de destaque nacional, o cenário atual mostra que manter-se na elite do Campeonato Brasileiro é um desafio constante.

Para especialistas e torcedores, as razões vão além do desempenho em campo e passam por gestão administrativa, limitações financeiras, falta de ousadia nos bastidores e sucessão insuficiente de torcedores.

O Goiânia Esporte Clube, outrora protagonista no cenário estadual, enfrenta uma decadência marcada pela ausência de dirigentes fortes e renovação de torcida. Já o Vila Nova, embora estruturado e apoiado por uma das maiores torcidas do Estado, ainda tropeça na Série B por falta de experiência nos bastidores e hesitação estratégica.

Goiás e Atlético, por sua vez, oscilam na Série A devido à disparidade de receitas em relação aos grandes clubes do país e à dificuldade de manter elencos consistentes. Em comum, todos os clubes esbarram na complexidade do futebol moderno, onde paixão, tradição e planejamento precisam caminhar juntos para assegurar um lugar de destaque na elite nacional.

O Jornal Opção conversou com comentaristas esportivos experientes sobre o cenário do futebol goiano e ouviu torcedores dos quatro principais clubes da capital: Goiás Esporte Clube, Atlético Goianiense, Vila Nova Futebol Clube e Goiânia Esporte Clube. A intenção foi entender por que o Goiânia, por exemplo, não consegue mais se reerguer e recuperar sua antiga força; por que o Vila Nova ainda não conseguiu o tão sonhado acesso à elite do futebol brasileiro; e porque Goiás e Atlético não conseguem se firmar na Série A, vivendo uma constante gangorra de subidas e descidas.

José Carlos Lopes analisa desafios dos clubes goianos no cenário nacional

Comentarista esportivo da TV Capital, José Carlos Machado Lopes acumula 46 anos de experiência na crônica esportiva goiana. Desde 1979, quando iniciou sua trajetória no rádio em Mineiros, ele acompanhou de perto a ascensão e as dificuldades dos principais clubes do Estado.

,Lopes avaliou porque times tradicionais como Goiânia, Vila Nova, Atlético e Goiás enfrentam obstáculos para se consolidar em competições nacionais até estaduais, como é o caso do Goiânia Esporte Clube.

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José Carlos Lopes | Foto: Acervo pessoal

O declínio do Goiânia

Segundo ele, o Goiânia perdeu força por falta de renovação.
“O Goiânia era um time muito ligado ao poder público e foi perdendo espaço. Perdeu torcida, perdeu dirigentes e não renovou. Acho que isso foi um ponto fundamental para a decadência do clube”, afirmou.

Ele destacou ainda que a ausência de sucessão entre gerações de torcedores agravou a situação: “O pai não passou a paixão para o filho, nem o filho para o neto. O Goiânia não conseguiu renovar sua torcida. Hoje, muitos que simpatizavam com o clube acabaram migrando para Goiás, Vila ou Atlético.”

Para Lopes, a tentativa recente de recuperação com a SAF ainda não mostrou resultados.
“Minha expectativa era muito positiva, porque uma SAF pressupõe organização, planejamento e dinheiro. Mas até agora não saiu do lugar. Se não afundou mais, também não andou para frente.”

Vila Nova e o peso da torcida

Sobre o Vila Nova, o comentarista ressaltou que a força popular é o maior patrimônio colorado:
“O Vila é um time de massa. Se chegar à Série A, a mobilização da torcida seria gigantesca.”

Apesar da estrutura administrativa sólida nos últimos anos, Lopes entende que ainda falta ousadia.
“A diretoria do Vila, com Hugo Jorge Bravo, está fazendo um grande trabalho. Viabilizou o clube administrativamente e financeiramente, montou times razoáveis e quebrou um jejum de 20 anos sem título no estadual. Mas peca pela falta de ousadia. Às vezes é preciso jogar conforme as regras dos bastidores, mesmo que sejam esdrúxulas.”

Ele relembra momentos em que o clube esteve perto do acesso, mas acabou esbarrando em fatores extracampo:
“Faltou competência e sorte, como naquela decisão contra o ABC em Natal. Bastava ganhar e pronto. Acho que o Atlético fez o trabalho de bastidores direitinho e o Vila não fez.”

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Torcida do Goiás | Foto: Reprodução

Atlético: criatividade contra as limitações

No caso do Atlético, Lopes atribui a oscilação entre Série A e Série B às dificuldades financeiras.
“O principal problema é a receita. Enquanto Flamengo e Palmeiras faturam mais de R$ 1 bilhão por ano, clubes como o Atlético não chegam a R$ 100 milhões. É muito difícil competir.”

Ele reconhece o mérito do presidente Adson Batista na descoberta de talentos.
“O Atlético se vira com criatividade, buscando jogadores desconhecidos como Tito, Ronaldo ou Wellington Rato. Mas só criatividade não basta, porque muitos clubes estão na mesma situação.”

Goiás: tradição ameaçada

Considerado o “gigante do Centro-Oeste”, o Goiás, segundo Lopes, perdeu protagonismo com a queda nas receitas e a falta de renovação na gestão.
“Quando as receitas eram próximas às dos grandes, o Goiás fez grandes campanhas: terceiro no Brasileirão, vice da Copa do Brasil, finalista da Sul-Americana e até Libertadores. Mas perdeu espaço porque a sucessão após Hailé Pinheiro não foi à altura.”

Ele também apontou as mudanças legais no futebol como fator decisivo:
“O Goiás sempre foi grande vendedor de jogadores da base. Com o fim da lei do passe e a atuação cada vez maior de empresários, o clube perdeu essa fonte de receita. Hoje negocia jogadores ainda na base, antes mesmo de usufruir tecnicamente deles.”

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Acervo do Goiânia | Foto: Reprodução

Expectativa para o futuro

Mesmo diante de tantas dificuldades, José Carlos Lopes acredita que ainda é possível ver os três principais clubes goianos juntos na elite.
“Este ano a gente ainda tem chance com os três. O Goiás está bem encaminhado, o Atlético em recuperação e o Vila, apesar das oscilações, ainda luta. Só um desastre muito grande pode tirar o Goiás do acesso.”

Cléber Ferreira analisa o momento dos quatro principais clubes de Goiânia

O jornalista e cronista esportivo Cléber Ferreira, com mais de 30 anos de atuação no futebol goiano, fez uma análise sobre a situação atual de Goiânia, Vila Nova, Atlético Goianiense e Goiás.

Goiânia Esporte Clube

Para Cléber, o Goiânia, que já foi protagonista no cenário esportivo, perdeu espaço ao longo das décadas com a ausência de lideranças.
“O desmanche do Goiânia começou com a morte das suas lideranças”, afirmou. “Pouca gente sabe, mas o clube foi fundado por influência de Pedro Ludovico Teixeira, com o nome da cidade. Alário Teixeira, cartorário, tomava conta do Goiânia. Ele construiu a Vila Olímpica, mas depois o patrimônio foi arruinado.”

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Cléber Ferreira | Foto: Acervo pessoal

Segundo o cronista, a transformação do clube em SAF não representou solução:
“A SAF que assumiu o Goiânia não tem interesse em recuperar o time. O objetivo é apenas formar e vender jogadores. O Goiânia não tem futuro esportivo, a tendência é piorar.”

Vila Nova

Ao falar do Vila Nova, Cléber destacou a força da torcida e a boa gestão financeira, mas apontou falta de experiência nos bastidores nacionais.
“O Vila tem estrutura hoje, melhorou muito, mas não conhece os caminhos para subir da Série B para a Série A. A diretoria é competente, mas ainda noviça nesse processo. Eles estão pagando para aprender.”

Apesar da organização administrativa, o acesso em 2025 não deve acontecer:
“O Vila errou nas escolhas de treinadores e não trouxe técnicos com histórico de acesso. Este ano o time não sobe.”

Atlético Goianiense

O Atlético, na avaliação de Cléber, vive um processo distinto.
“O clube investe na estrutura. Tem um dos melhores centros de treinamentos da América do Sul e um estádio considerado o mais funcional do Brasil entre os particulares. O Atlético prefere crescer como clube, mesmo que não se firme na Série A.”

Ele explica a estratégia:
“O time sobe, pega a receita da Série A e investe no patrimônio. Quando não permanece, já deixou uma estrutura consolidada. É um projeto inteligente.”

Sobre as chances de acesso em 2025, Cléber é cauteloso:
“Matematicamente o Atlético ainda tem chances. O time cresceu no momento certo, mas a situação é difícil.”

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Torcida atleticana | Foto: Reprodução

Goiás

Com maior orçamento entre os quatro, o Goiás, segundo Cléber, já assegurou a vaga na elite.
“O Goiás precisa de três vitórias e um empate para confirmar matematicamente o acesso, mas, para mim, já está na Série A.”

Ele, porém, lembra que erros administrativos recentes fragilizaram o clube:
“A doença e depois a morte de Hailé Pinheiro impactaram demais. Houve um vácuo de liderança. O Goiás gastou mal e precisou se reinventar. Hoje tem um conselho administrativo que não entende de futebol e isso atrapalha.”

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Torcida Vilanovense | Foto: Reprodução

Rivalidades internas atrapalham

Para o comentarista, a falta de união entre os clubes goianos também limita o crescimento no cenário nacional.
“É preciso que as rivalidades regionais não se tornem rivalidades nacionais. Muitas vezes um prejudica o outro em competições de fora. Se não houver um trabalho federativo, fica muito difícil.”

Apesar das dificuldades, Cléber confessa um desejo pessoal:
“Minha grande esperança é ver os três – Vila Nova, Atlético e Goiás – juntos na Série A. É um sonho que tenho antes de parar minha carreira. Mas, hoje, é mais esperança do que dado concreto.”

Torcedores dos times da capital opinam sobre passado, presente e futuro dos clubes

Vila Nova Futebol Clube

Aos 43 anos, Ricardo Ribeiro da Silva, diretor de Patrimônio e torcedor declarado do Vila Nova, fala com emoção sobre a paixão pelo clube que acompanha desde a infância. Ele conta que vai ao estádio desde criança e se define como um torcedor fanático.

Ricardo acredita que, apesar das dificuldades, o Vila está próximo de conquistar o tão sonhado acesso à Série A do Campeonato Brasileiro.

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Ricardo Ribeiro e o filho | Foto: Acervo pessoal

“Eu gosto do Vila só um pouquinho”, brinca, antes de destacar a evolução recente do clube. “Há uns cinco anos a gente só disputava rebaixamento, não chegava às finais do Campeonato Goiano, não chegava em finais nenhuma. Depois que o presidente Hugo entrou, realmente mudou bastante. Ele veio estruturando o time, fez o centro de treinamento em Santa Genoveva, perto do aeroporto, que ficou excelente, um dos maiores do Brasil. Também vem contratando certo.”

Apesar dos avanços, Ricardo critica a postura de alguns atletas. “Essa raça chamada jogador, eles são muito covardes. Só jogam quando o salário está em dia. Antigamente atrasava, agora está em dia, mas se não tiver bicho, nas finais da Série B, eles não rendem. Quando chega a hora decisiva, eles querem bicho maior”, disse.

Mesmo com esses entraves, o torcedor se mantém otimista. “O Vila já bateu na trave umas duas, três vezes. O ano retrasado foi por causa de um jogo. Eu creio que o Vila está bem perto de subir para a Série A. E sei que, se subir, não vai ser igual Atlético e Goiás. Vai subir e vai se manter. Se ficar um, dois anos, não cai mais, porque é o time da maior torcida, a torcida do povo.”

Para ele, o segredo está na união da diretoria e no cuidado com os investimentos. “Contratando direitinho, com mais carinho, olhando com mais amor, a diretoria se unindo em prol de um só propósito, vai dar certo. Tenho certeza disso. Daqui para 2026 ou 2027 nós vamos ter o Vila na Série A, se Deus quiser.”

Para o torcedor Celio Galdino, de 46 anos, que acompanha o Vila Nova desde os 6, o clube já demonstrou força para disputar o acesso, mas ainda precisa se estruturar melhor fora de campo.

“O Vila já mostrou que tem condições de brigar pela Série A, mas falta se tornar um clube mais estável e profissional no dia a dia. A torcida faz sua parte — é apaixonada e presente —, mas o time ainda enfrenta limitações importantes”, afirma.

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Celio Galdino e amigos | Foto: Arquivo pessoal

Segundo ele, um dos principais entraves está na dificuldade financeira. “Falta ao Vila uma fonte sólida de receitas, como cotas de TV mais expressivas e patrocínios fortes. Isso dificulta contratações de impacto e praticamente impede a manutenção de bons jogadores por mais de uma temporada. Por isso, o clube acaba ficando atrás de times como Coritiba, Athletico Paranaense, Remo, Criciúma e até mesmo dos rivais locais em Goiânia”, explica.

Na avaliação de Celio, mesmo quando consegue montar elencos competitivos, a equipe sente a ausência de atletas decisivos. “Principalmente no ataque, faltam jogadores que realmente façam a diferença. Isso pesa muito numa Série B, em que os jogos são equilibrados e decididos nos detalhes”, observa.

Paulo Rolim, jornalista e escritor de 59 anos, torce para o Vila Nova desde 1975. Ele recorda que sua paixão pelo clube começou aos 9 anos, quando ganhou uma camisa de presente da irmã, a freira Josefa América Rolim. “Desde então passei a acompanhar o Vila Nova com maior intensidade pelo rádio, especialmente pelo programa Escrete de Ouro, da Rádio B Central. Vivi grandes momentos, como o tetracampeonato de 1977 a 1980.”

Para Rolim, o Vila Nova é “um time de massa, com uma das maiores torcidas do Centro-Oeste e do Brasil, fiel e apaixonada.” No entanto, ele aponta que fatores históricos e estruturais impediram o clube de se firmar na Série A. “Em 1973, o Vila conquistou o acesso por direito, mas, em movimentos de bastidores junto à federação, o Goiás ocupou o lugar do Vila. Depois vieram dívidas trabalhistas e gestões nem sempre eficientes”, explica.

Segundo ele, a atual diretoria, liderada por Hugo Jorge Bravo, tem se dedicado a organizar o clube. “Nos últimos anos, o Vila passou por mudanças significativas na estrutura e na autoestima. Prova disso foi a vitória difícil no último Campeonato Goiano”, ressalta.

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Para Rolim e os netos Gabriel e Daniel | Foto: Acervo pessoal

Rolim também destaca questões de desempenho: “Nos últimos momentos do Campeonato Brasileiro, como em 2023 contra o ABC, faltou controle emocional. O time está estruturado fisicamente, mas a ansiedade pesou em jogos importantes.”

Apesar das dificuldades, ele acredita no futuro do clube: “Aguardem o Vila. Livre das dívidas trabalhistas e estruturado, quando entrar na Série A, não será apenas mais um time de Goiás; vai entrar para permanecer, mesmo diante das dificuldades características do futebol goiano em relação ao brasileiro.”

Goiás Esporte Clube

Itahir Pereira Costa Neto, de 19 anos, torcedor do Goiás desde 2013, faz uma análise crítica do momento vivido pelo clube dentro e fora de campo. Para ele, a gestão da equipe tem sido marcada por instabilidade e erros de planejamento.

“Falar do Goiás é falar de algo caótico. O clube fez maus negócios, principalmente em 2020 e 2021, quando trouxe atletas sul-americanos recebendo em dólar, em plena pandemia. A administração é muito confusa”, afirma.

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Itahir Pereira | Foto: Acervo pessoal

Sobre o desempenho em campo, Itahir avalia que o time tem oscilado no momento errado da temporada. “O Goiás está oscilando demais agora no fim do campeonato. O Mancini é muito arrogante, escala jogadores fora de posição e não assume os erros. O elenco foi mal montado, faltam atacantes de beirada e finalizadores”, critica.

Apesar das falhas, ele reconhece algumas contratações positivas, como Wellington Rato e Brian. Porém, acredita que o time precisa se estruturar para garantir acesso e estabilidade. “Subir este ano é fundamental, porque aumenta as receitas e dá condições de se manter na Série A. O Goiás precisa virar SAF, mas com cuidado, para não repetir o erro do Vasco”, alerta.

Itahir conclui com uma projeção para o campeonato: “Antes eu acreditava que o Goiás subiria como campeão. Agora acho que ainda sobe, mas sem o título. Só que o time precisa parar de oscilar, porque o campeonato está afunilando.”

Alessandro de Sá, 45 anos, consultor de vendas, acompanha o Goiás desde o nascimento e se define como um torcedor apaixonado pelo clube. Sócio torcedor, ele afirma não perder jogos e revela ter mais de 30 camisas do time.

“Sou um torcedor do Goiás apaixonado, apaixonado mesmo. Vou a todos os jogos, participo ativamente, e tanto que até o Lopes mesmo sabe da minha dedicação”, afirma.

Na visão dele, os problemas do clube têm origem na gestão. “O trabalho malfeito começa dentro da diretoria. Não sei se é briga, se é disputa de poder, mas acredito que as contratações de jogadores de nível baixo têm prejudicado muito o Goiás. O clube poderia trazer atletas melhores, com mais dedicação e empenho”, critica.

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Alessandro de Sá e a filha Alice | Foto: Acervo pessoal

Alessandro ressalta que, apesar de não haver problemas extracampo, como jogadores envolvidos em festas ou polêmicas, falta comprometimento dentro de campo. “O que falta é dedicação. É o famoso amor à camisa. Muitos jogadores que já passaram pelo Goiás nos últimos anos não tiveram essa entrega. Diferente de nomes como Rafael Moura, Vítor e o próprio Arley. Hoje, tirando o Tadeu, não vejo jogadores com a mesma postura.”

Ele também se mostrou inconformado com o desempenho recente do time. “Contra o Paysandu, por exemplo, um time que está na última colocação, o Goiás levou sufoco, chutou pouco ao gol. Para mim, é um time mal treinado, com jogadores de péssima qualidade, gastando muito dinheiro sem retorno.”

Para Alessandro, falta ao elenco reconhecer o esforço da torcida. “Vejo colegas da Força Jovem que viajam de ônibus para apoiar o clube em qualquer lugar. Muitas vezes, pelo menos na TV, não percebo nenhum jogador ir lá aplaudir ou agradecer esses torcedores. Isso é falta de respeito com quem veste a camisa, vai para o sol e para a chuva apoiar.”

Ele também critica a comissão técnica. “Não sei o que o Wagner tem na cabeça. As contratações pedidas, os esquemas de jogo, a forma como ele não consegue tirar dedicação dos atletas… tudo isso preocupa. Tenho muito medo de o Goiás não subir este ano. Apesar de ainda faltar muita coisa, vejo o time estacionado enquanto os outros estão chegando.”

Segundo o torcedor, o recado é claro: “O Goiás precisa de mais determinação, mais dedicação e honrar a camisa. São jogadores que ganham muito e entregam pouco.”

O advogado Anderson Guedes, de 47 anos, torcedor do Goiás desde os 11, acredita que a diferença de estrutura entre clubes explica parte das dificuldades do time esmeraldino em se firmar na Série A.

“A estrutura e os recursos dos clubes grandes permitem a eles atraírem os melhores jogadores e construir elencos mais competitivos”, afirmou. Para ele, a falta de ousadia da gestão também pesa: “Há falta de ambição dos nossos gestores, que nunca ousam em busca de algo maior na Série A. Isso faz com que nossos times não se firmem na elite.”

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Anderson Guedes | Foto: Acervo pessoal

Sobre a atual campanha, Guedes avalia que a equipe deixou escapar oportunidades cruciais: “O Goiás perdeu jogos importantes em casa e isso fez com que deixasse de abrir pontos em relação ao segundo colocado. Agora, por seu próprio erro, está pressionado e deixou os outros adversários encostar.”

Apesar das críticas, o torcedor se mantém otimista. “Creio que o acesso virá, mesmo com essas dificuldades momentâneas.”

Atlético Clube Goianiense

Luis Fellipe Pires Mota de Morais, 27 anos, nutricionista e torcedor do Atlético Goianiense desde criança, critica a gestão do clube e a constante mudança de elenco.

“Sobre o Atlético, esse sobe e desce na Série A é preocupante. Quando o time está na elite, joga boas competições, como a Copa do Brasil e a Sul-Americana, mas não tem sucesso em nada”, afirma Luis Fellipe.

Ele aponta que a diretoria adota uma postura que considera financeiramente irresponsável: “Eles vendem jogadores para pagar dívidas, mas acabam destruindo a base que conquistou o acesso à Série A. Ao invés de manter a equipe e buscar reforços, mesmo que da Série B, C, D ou estrangeiros, como o Adson costuma trazer, eles vendem todo o time. O Atlético ganha o Campeonato Goiano, e no ano seguinte vende o elenco inteiro. Quando sobe para a Série A, acontece a mesma coisa. Tudo isso apenas para pagar dívidas.”

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Luis Fellipe Pires | Foto: Acervo pessoal

O nutricionista ainda critica a falta de consistência no elenco: “Esse ano, se não me engano, o Atlético já teve mais de 40 contratações. E onde estão esses jogadores? Não há um time fixo, você não consegue falar de número 1 ao 11. O elenco muda constantemente, e mesmo com novos reforços, os resultados não aparecem.”

Para Luis Fellipe, a solução está em maior responsabilidade financeira: “O time que conquistou títulos e acesso precisa manter sua base. A diretoria precisa de outra forma de quitar dívidas, como a SAF, que permite a entrada de investidores. Vender jogadores em massa não é sustentável.”

Apesar das críticas, ele reconhece méritos do dirigente Adson: “Sou muito grato ao Adson pelo que fez pelo clube, mas hoje essa troca constante de jogadores e a falta de um elenco fixo estão prejudicando o Atlético, que não consegue se firmar na Série A nem manter a base das suas épocas de glória, como quando chegamos à semifinal da Sul-Americana e vencemos o Nacional do Uruguai no Serra Dourada.”

Denilson Teodoro de Lima, 59 anos, torce para o Atlético Goianiense desde 1971.  Ele comenta sobre a dificuldade do time em se firmar na Série A e analisou o desempenho da equipe nesta temporada.

“Times do nível do Atlético, como Goiás, Curitiba, Vitória, Sport, Criciúma e América Mineiro — são grandes para a Série B, mas pequenos para a Série A. É o time que vai subir e descer, não vai fugir disso. De vez em quando cai um grande, como aconteceu com Santos, Grêmio, Atlético Mineiro e Inter, mas isso é raro”, disse.

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Denilson Teodoro e o neto | Foto: Acervo pessoal

Para ele, o problema não está na administração do clube, mas na desigualdade financeira e na má distribuição de receitas de televisão. “Parece que a que manda mais é a Globo, e eles investem mais só em Flamengo, Corinthians e Palmeiras. Enquanto tiver essa política, times emergentes como Goiás não conseguem se firmar na Série A”, afirmou.

Denilson ressaltou que clubes como Goiás, Atlético e Vila Nova têm se profissionalizado: “O Goiás foi o primeiro time de Goiás com diretoria profissional, que mudou o clube. O Atlético veio atrás, o Vila Nova também está se profissionalizando. Se a Série B fosse a Série A, nossos times teriam condições de ser campeões, mas a diferença é muito grande”.

Sobre a oscilação do Atlético, ele comentou: “Hoje, para a Série B, eles são grandes, sempre vão lutar para subir. Sobe, fica dois, três anos na Série A, cai de novo e volta à Série B. Vai ser essa gangorra enquanto não houver um investidor para ajudar financeiramente”.

Ao ser questionado sobre a possibilidade do clube se tornar uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), Denilson foi cauteloso: “Esse negócio de SAF é muito perigoso. Você pode melhorar financeiramente, mas o time que tiver poder de investimento maior vai continuar ganhando. O melhor exemplo no Brasil é a SAF do Bahia, que deu certo”.

Sobre a campanha atual do Atlético, ele afirmou: “Chance de subir ainda tem, porque o campeonato está equilibrado. Por exemplo, o Criciúma estava na zona de rebaixamento na 9ª ou 10ª rodada e hoje é líder. Mas é muito difícil, não depende só de o Atlético ganhar, os da frente também precisam perder”.

Ele comentou ainda sobre os próximos jogos decisivos: “A sequência do Atlético é difícil: Goiás, Atlético Paranaense, Curitiba, Volta Redonda e o clássico contra o Vila Nova. Se conseguir três vitórias e um empate nesses confrontos, vai brigar para subir. Caso contrário, pode ficar em uma posição intermediária, sem ser Série A nem Série B”.

Goiânia Esporte Clube

Donizeti Araújo, 60 anos, mais conhecido como Donni Araújo, jornalista e comentarista esportivo da PUC TV, relata sua paixão pelo Goiânia Esporte Clube, o “Galo da Comarca”.

“A primeira vez que vi uma partida de futebol foi Goiânia contra Atlético, quando eu tinha 3 anos, em 1968. Assisti à vitória de 2 a 1 na arquibancada ao lado do meu irmão Luís JC de Araújo, que também era jornalista e me influenciou a torcer pelo clube”, conta.

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Donni Araújo | Foto: Acervo pessoal

Para Donni, o Goiânia já teve um papel de destaque no futebol estadual. “O estado de Goiás já teve duas hegemonias: a do Goiânia, dos anos 40 até início dos anos 60, e depois a do Goiás, especialmente entre os anos 80 e 2000. O Goiânia, na primeira fase, tinha força política e influência, mas sempre foi muito amador, elitizado e com torcida pequena.”

Ele destaca que a decadência do clube se intensificou com a chegada da ditadura militar e a mudança de poder político no estado. “O maior problema do Goiânia foi não ter gente. Como não tinha torcida, não havia recursos e não se conquistavam campeonatos. A administração sempre foi defasada, com poucos jovens entrando para inovar.”

Donni critica a gestão das últimas décadas: “O Goiânia chegou a ficar 11 anos consecutivos na segunda divisão do goiano. O clube não tem sede, arquivo ou transparência. Até hoje se fala em SAF e na venda do patrimônio da Vila Olímpica, mas nada foi explicado. As promessas de renascimento, como a de Alexandre Godói ou da SAF, não se concretizaram.”

Ele avalia de forma dura o futuro do clube: “Sinceramente, acho muito difícil o Goiânia voltar a disputar regularmente o Campeonato Goiano. Meu irmão dizia que o Goiânia morreu em 1992, e cada vez mais acredito nisso. O clube não tem torcida, não tem gestão e carrega décadas de fracasso.”

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