Na pior crise sanitária dos últimos cem anos, o Brasil teve de lidar com um presidente irresponsável diante das medidas de contenção da doença

Bolsonaro “oferece” cloroquina a ema do Palácio da Alvorada | Foto: Reprodução
Durante uma crise sanitária nunca vista durante gerações, a tendência das lideranças dos países é pela busca de informações e discurso prudente, principalmente no que diz respeito a medidas de grande alcance e que vão invariavelmente gerar alto impacto.
Estar no comando de uma nação em meio a um fator desconhecido e mortal não é das missões mais agradáveis, mas o governante pode e deve agir para minimizar os estragos diante desse “presente” do imponderável.
E é sempre bom ressaltar: isso não tem nada a ver com ideologia política. Governos de esquerda, como o da China, e de direita, como o de Israel – para ficar em apenas dois exemplos – tomaram medidas duras para evitar mortes. E, então, foram impostos diversos tipos de restrições e recomendações, baseadas no que a ciência sabia, naquele momento, sobre o novo vírus.
Foram decisões difíceis de serem assinadas, que certamente causariam – como causaram – um desgaste imediato com boa parte da população, mas que precisavam ocorrer. No Brasil, porém, não foi assim. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, Jair Bolsonaro (sem partido) teve atitudes totalmente contrárias ao que preconizavam as autoridades sanitárias locais e internacionais.
Neste texto, algumas passagens que ajudam a entender por que o presidente, no relatório final da CPI do Senado Federal, foi acusado de cometer nove crimes.
2020, dia 24 de março
“Gripezinha” em pronunciamento oficial
Ao fazer seu primeiro pronunciamento em rede nacional durante a pandemia, Bolsonaro soltou também uma de suas maiores pérolas negacionistas, ao exaltar seu próprio “histórico de atleta” como defesa contra o coronavírus:
“No meu caso particular, caso fosse contaminado pelo coronavírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão.”
Ele se referia a Drauzio Varella, que, em janeiro daquele ano – quando a Covid-19, praticamente desconhecida, era ainda um surto e se restringia à China – disse que continuaria sua vida normalmente.
O presidente começava também oficialmente, digamos assim, sua saga de opor saúde e economia, defendendo medidas insustentáveis, como o inviável isolamento vertical. O vídeo foi reproduzido meses depois pelos influenciadores da extrema-direita – inclusive o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) –, deslocado do contexto e como se fosse recente.
2020, dia 19 de abril
Aglomeração e discurso golpista
Na primeira grande aglomeração durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro discursou em frente ao quartel do Exército em Brasília, para apoiadores que defendiam intervenção militar.
Do alto de uma caminhonete, sem usar máscara – como grande parte dos manifestantes – e tossindo bastante, Bolsonaro disse que não iria “negociar nada”, atacando indiretamente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).
2020, dia 23 de julho
Perseguição a ema com caixa de cloroquina
Depois de boa parte de sua equipe ministerial e do pessoal do Palácio do Planalto ser contaminada pelo Sars-CoV-2, foi a vez de Jair Bolsonaro testar positivo. Foram dias e dias de propaganda gratuita para os fabricantes de cloroquina e hidroxicloroquina, que, naquele momento da pandemia, já eram drogas não recomendadas para o tratamento da Covid-19.
O Brasil chegava perto de 85 mil mortes e a contaminação não dava sinais de arrefecimento. Enquanto isso, com o vírus persistente no organismo mesmo depois de duas semanas, o presidente dizia que não havia “como evitar as mortes” na pandemia.
Dias depois de ter sido perseguido por uma ema, nos jardins do Palácio da Alvorada, o convalescente Bolsonaro foi à forra, mostrando-lhe uma caixa de cloroquina, diante dos fotógrafos que acompanhavam a rotina do local.
2020, dia 29 de outubro
“Vacina do Doria”, não
Das lives de quinta-feira no YouTube – canal que o suspendeu durante a semana passada – é que saem boa parcela das bobagens e mentiras perigosas que fomentam o noticiário, além dos canais bolsonaristas. Foi assim quando das vezes em Bolsonaro falou da vacina CoronaVac, da empresa chinesa Sinovac e que foi elaborada no Brasil em conjunto com o Instituto Butantan, de São Paulo, Estado governado pelo adversário político João Doria (PSDB).
No dia 29 de julho, acompanhado da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o presidente disse que o governo federal não compraria a vacina – para a qual a extrema-direita distribuía um boato de que continha um chip. Em meio a sua fala problemática, o mandatário ironizou:
“Querido governador de São Paulo, você sabe que sou apaixonado por você… fica difícil, né? E outra coisa: ninguém vai tomar sua vacina na marra, não, tá ok? Eu, que sou governo – o dinheiro não é meu, é do povo –, não vai comprar sua vacina não, tá ok? Procura outro pra pagar tua vacina aí!”
Em janeiro, após sua aprovação emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, foi com a chinesa CoronaVac que se iniciou a imunização no Brasil.
2020, dia 17 de dezembro
Medo de a vacina da Pfizer transformar gente em jacaré
Muito antes de a recém-concluída CPI da Pandemia no Senado Federal descobrir que a Pfizer havia tentado e fracassado na negociação de seu imunizante com o governo brasileiro mesmo após disparar mais de uma centena de e-mails, o presidente Jair Bolsonaro desacreditava o produto.
Escorando-se nas cláusulas do contrato – que, diga-se, costumam ter uma forma padrão nas negociações – ele disse que não tinha como assinar uma compra na qual a empresa não se responsabilizava pelas consequências da aplicação, como efeitos colaterais.
Era um evento em Porto Seguro (BA), quando Bolsonaro fez outro pronunciamento infelizmente inesquecível sobre o tema vacina – mais uma vez dizendo que não tomaria nenhuma, pois já tinha se infectado e estava mais protegido do que qualquer vacinado – isso enquanto o Brasil sofria os primeiros casos de reinfecção.
O presidente Jair Bolsonaro revela um dos seus medos sobre a vacina contra Covid-19: transformar seres humanos em jacarés pic.twitter.com/5LCHfCnlYV
— Samuel Pancher (@SamPancher) December 17, 2020
E prosseguiu: “Se você se transformar em Super-Homem, se crescer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles [Pfizer] não têm nada com isso. E, o que é pior, mexem no sistema imunológico das pessoas.”
2021, dia 19 de dezembro
Pra que pressa com vacina?!
Em entrevista ao canal do filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no YouTube, o presidente disse que “a pressa da vacina não se justificava” e que “a pandemia estava chegando ao fim”.
“Temos uma pequena ascensão agora, que chama de pequeno repique que pode acontecer, mas a pressa da vacina não se justifica porque você mexe com a vida das pessoas, você vai inocular algo em você.”
No mês seguinte, o Amazonas, em meio ao caos da segunda onda, com hospitais lotados e gente morrendo em casa, viveria a crise do oxigênio.
2021, dia 4 de março
Comprar vacina? “Só se for na casa da sua mãe”
No segundo semestre de 2020, quando países começavam a se mobilizar para garantir contratos das vacinas promissoras, Jair Bolsonaro disse que não tinha de ir atrás, mas, sim, que os fabricantes é quem deveriam procurar o Brasil.
Em visita a Uberlândia durante o auge da segunda onda no País, sem saber que estava sendo filmado – embora também sem se preocupar com isso –, o presidente afirmou que não tinha vacina à venda. E desabafou para seus apoiadores:
Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] para vender no mundo”.
Era um momento no qual várias cidades estavam tendo de paralisar a vacinação, por falta de doses. A declaração ocorreu um dia depois de o Ministério da Saúde decidir assinar, enfim, contratos para comprar vacinas da Pfizer e da Janssen.
2021, dia 23 de maio
Motociatas em meio ao morticínio
Enquanto o Brasil atravessava um dos piores momentos da pandemia, com os números de mortos chegando à casa do meio milhão, o chefe de Estado e de governo criava um novo e particular teste de popularidade: as motociatas, em que motociclistas, a maior parte de motoclubes, aderiram a passeios com o presidente pelas avenidas de várias cidades.
A primeira motociata de grande porte ocorreu em 23 de maio, no Rio de Janeiro, domicílio eleitoral de Jair Bolsonaro e sua família. A maior, porém, foi em 12 de junho em São Paulo, a qual, segundo as contas de bolsonaristas, teria ultrapassado a marca de 1,3 milhão de motocicletas participando. Uma outra conta, feita por uma câmera de circuito interno da concessionária da rodovia, em Jundiaí (SP), apontou pouco mais de 6,5 mil motos.
2021, dia 24 de junho
Persuasão para tirar máscaras de crianças
Em visita ao Rio Grande do Norte, Jair Bolsonaro, além de não usar máscara em nenhuma das solenidades de que participou, muito menos no contato com apoiadores, foi mais longe: na cidade de Pau dos Ferros, pegou uma criança no colo por cima da grade de proteção e baixou a máscara do menino para fazer fotos.
Como em todo o País, o uso de máscara para prevenção à Covid-19 era fundamental e obrigatório também no Estado nordestino.
Em outro município, Jucurutu, durante cerimônia para liberação de recursos de uma barragem, o presidente pediu para uma criança, Larissa Dantas, de 10 anos – que recitava um poema – para que tirasse a máscara. Assim que a menina baixou a proteção, Bolsonaro fez sinal de positivo, aprovando a atitude.
2021, dia 21 de outubro
Ligação de vacina a aids usando fake news do ano passado
Na ânsia insana de querer provar que vacina é algo perigoso, Bolsonaro passou de todos os limites em live transmitida por suas redes sociais, ao relatar uma notícia falsa que foi veiculada por um tabloide britânico, dizendo que vacinados teriam o risco aumentado para desenvolver a aids.
“Outra coisa grave aqui, só vou dar a notícia, não vou comentar, já falei sobre isso no passado e apanhei muito. Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados, quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose, 15 dias depois após a primeira dose… estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência muito mais rápido que o previsto.”
Depois de afirmar que a mesma notícia havia sido postada pela revista brasileira Exame, Bolsonaro disse que já bastava de “polêmica”, elogiando a publicação por atualizar a notícia (do ano passado), ainda que mesmo antes não houvesse nenhum parâmetro para que ele insinuasse a correlação entre imunizante e a doença provocada pelo HIV.
🤦♂️ que babaquice manipulatória! Eu participo de vários grupos de saúde e tenho minha própria experiência também e chegamos a conclusão que realmente esse vírus não é diferente de outros se combate com antivirais, o problema dele para algumas pessoas é quando essas não se cuidam e deixa formar começo de sequelas, eu e minha família por exemplo fizemos o teste sem álcool em gel sem frescura e no máximo que se teve foi uma forte dor de cabeça em mim e na minha filha mais nova coisa superada rapidamente com antiviral, sinceramente por causa de manchetes desse tipo se chega a ditadura usada pelo STF para retirar o direito de liberdade de escolha das pessoas 😡, é triste ver como o mundo vai se tornar totalmente controlado por gigantes bilionários graças a um bando de cegos ignorantes
Bolsonaro é uma vergonha, um vexame na galáxia. Ainda não entendo porque esse cara ainda não foi expulso da presidência do Brasil.