8 mecânicos dizem que problemas de carros chineses não são graves, mas faltam peças para reposição

29 julho 2023 às 18h31

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Andando por Goiânia, não é difícil perceber que algumas marcas de carros chineses já ganham as ruas da capital. O processo se iniciou com a chegada da JAC Motors ao Brasil, em 2010. A pandemia de Covid-19 fez com que diversas concessionárias da marca se fechassem, inclusive a de Goiânia. Hoje, outras chinesas ocupam o mercado, como a Chery, com seus modelos Tiggo.
Os carros da Chery são montados em Anápolis, pela fábrica CAOA, que comprou parte da montadora chinesa e promete revolucionar o mercado automobilístico. Porém, mesmo com a grande quantidade de veículos em circulação, ainda se percebe muita desconfiança por parte dos consumidores em relação a durabilidade e mecânica desses autos.
O Jornal Opção foi às ruas e ouvir os profissionais que colocam a mão na massa: os mecânicos. Também foram ouvidos os proprietários dos veículos chineses.
Praticamente todos os mecânicos ouvidos afirmaram que qualquer carro novo é bom, seja nacional ou importado. Todavia, fizeram a ressalva de que os primeiros carros chineses comercializados no Brasil, a partir de 2010, tinham muito mais problemas do que os atuais. Os profissionais da mecânica enfatizam que o fator principal que deve ser levado em consideração na hora de escolher um carro chinês é a reposição de peças, que, segundo eles, às vezes pode demorar de 30 a 45 dias.
O que dizem os mecânicos
Lucas Wilson, de 24 anos, é formado em engenharia mecânica e chefe de oficina na GPCar Autocenter. Ele considera que as marcas chinesas estão entrando forte no mercado por causa do custo. Para ele, se comparado com outras marcas de luxo, os chineses saem mais em conta. “Os carros são excelentes, mas, se o cliente precisar de algumas peças especificas, vai passar muita raiva. Eu não compraria e não indico, pelo menos por enquanto”, avalia.

Alessandro Moura, 40 anos, trabalha na Borborema autocenter. O profissional possui mais de 25 anos de experiência em oficinas e garante que o maior problema dos carros chineses é o suporte ao cliente. “Não é um carro que dá muitos problemas mecânicos, mas, se você precisar de peças, a demora para conseguir é grande”, pontua.

O mecânico Felipe Nunes concorda: “Acho esses modelos muito bonitos, são realmente atraentes, mas tenho certeza que terei problemas se precisar de repor algum item necessário”, disse.
Marcos Antônio atua há 20 anos como mecânico e é especializado em marcas francesas, mas atende todas as marcas de importados na oficina Villaça Center Automotivo. “O carro chinês é muito bom, mas a manutenção é muito complicada porque não há peças no mercado”, diz. O mecânico diz que muitas oficinas passam ao proprietário o encargo de pedir as peças às marcas, pois não querem essa responsabilidade.

Marcos Antônio diz que existe ainda uma grande chance de o pedido vir errado. Ele relata que não conserta carros chineses antigos em sua oficina. “Esses mais antigos só dão dores de cabeça – para o dono e para os mecânicos. Estão cheios de ‘gatos’, com adaptações de peças de carros nacionais para corrigir problemas de forma imediata e provisória. No entanto, essas gambiarras fazem com que os transtornos continuem”. Apesar disso, Marcos Antônio afirma que novos modelos não dão defeitos tão cedo, precisando apenas das revisões periódicas. “Eu compraria e recomendo qualquer um desses novos”, afirma.

José Carlos, tem 57 anos de idade e 25 como profissional. Ele é responsável por consertos mecânicos na Baterias 85. José Carlos afirma que, entre os modelos chineses que recebe em sua oficina, a linha JAC é a mais problemática. “Por ser o mais antigo, não se encontra peças e às vezes é preciso fazer adaptação no mercado paralelo. Os modelos mais novos possuem as peças disponíveis, mas demoram a chegar. Na minha opinião, eu esperaria mais um pouco para adquirir um”, defende.
Maurício Teixeira de Almeida tem 39 anos e trabalha como mecânico há 22 . O profissional diz que os modelos mais recentes praticamente não pedem manutenção. “Infelizmente, por existirem poucas concessionárias, há uma grande dificuldade para achar peças, mas creio que esse problema logo será resolvido, pois são modelos que vendem muito. Eu mesmo já tive um JAC J5 e, para mim, é melhor do que o Corolla. Eu recomendo, para quem esteja querendo comprar um”, diz. Ele esclarece que quem monta a linha JAC é a Toyota. “Quase ninguém sabe disso, mas existe uma parceria entre as duas marcas.”

Na avaliação do mecânico e proprietário da BR Autocenter James Ferreira, conhecido como Branquinho, de 47 anos e 32 deles passados em oficinas, os carros da China são para se usar por no máximo dois anos. “Com a minha experiência na área, não é carro para ficar muito tempo. Os dois primeiros anos, enquanto está novo, está tudo bem, mas, a partir daí, é só dor de cabeça”, garante.
Branquinho lembra que recentemente precisou de um pivô para um Tiggo e a peça demorou mais de 15 dias para chegar. “Como é que se coloca uma quantidade enorme de carros no mercado, mas não dão o suporte para os clientes? Detalhe: são carros com menos de 30 mil quilômetros rodados, que já estão indo para a oficina, principalmente com problemas de suspensão. Eu não compro e nem recomendo”, explica.

Guilherme Alves, 23 anos é mecânico e dono da OK Autocenter, no Jardim Pompéia. Para Guilherme, em relação à mecânica dos modelos chineses, não há segredos, qualquer profissional que entende o básico consegue identificar um problema. Ele compartilha da mesma opinião de praticamente todos os mecânicos ouvidos pela reportagem.
“Muitas vezes, eu deixo de pegar modelos da marca JAC porque sei que não irei encontrar peças para ele nem na concessionária. Mas sei que isso é um problema dos carros que já passaram dos dez anos, até mesmo os nacionais. Nesses casos, precisamos fazer os ‘gatos’. Penso que esses modelos mais novos não devem ter esses entraves.”
O mecânico Gabriel Castilho, 24 anos e oito de experiência em oficinas, relata que aparecem no Centro Automotivo Aotoescape, no Criméia Oeste, alguns carros como Chery QQ e modelos da JAC. Ele conta que esses dois modelos em especial dão muitos problemas. “A suspensão dos carros da JAC não presta. Com poucos dias eles já abrem as rodas porque a suspensão sai do lugar. Tem um que vem aqui que já fez a suspensão três vezes. Eu não incentivo as pessoas a comprar um modelo chinês”, disse. Gabriel Castilho diz que frequentemente tem que “dar uma de MacGyver” com o jeitinho brasileiro por causa da falta de peças.
Test drive
Este repórter foi convidado para fazer um test drive no modelo Haval H6 Premium HEV 2024, da GWM. Com a minha experiência de 30 anos de categoria D, confesso que achei surpreendente toda a tecnologia. Tanto o lado interno quanto lado externo são pura beleza. O modelo é muito gostoso de dirigir, tem muito conforto e segurança. É difícil não se apaixonar pelo modelo.
O que pensam os proprietários
Ana Lúcia, 48 anos, autônoma, narra que comprou um JAC J5 há mais de dez anos e já nos primeiros meses começou a dar problemas na suspensão. “Comprei porque estava todo mundo falando que era ótimo, que dava 5 anos de garantia do motor e isso me atraiu. Já fiquei com ele parado em oficina por 40 dias. Não compro mais e, não recomendo a ninguém”, disse, revoltada.
A médica Nicole Ollivieri, 27 anos, possui um Celer Hatch da Chery. Nicole informa que gostou do carro, embora saiba que existe a dificuldade de encontrar peças. “Gostei muito do carro, tive uma pequena contrariedade quando precisei de um calço para o motor, mesmo tendo a concessionária aqui. Eu e meu marido estamos pensando em comprar um Tiggo”, revela.
Ramon Simão Soares, 31 anos, empresário e Engenheiro civil, diz que já possuiu três veículos, todos da CAOA: Tiggo 5, Arrizo 6 e, por último, o Tiggo 8. O empresário afirma que em relação à tecnologia e ao custo benefício, são os melhores. Porém, pesa contra eles a falta de suporte por parte da concessionária. “Os contras são a reposição de peças. Inclusive estou com o Tiggo 8 na oficina para trocar pastilhas e tive que fazer isso fora da concessionária, colocando uma paralela, justamente pela falta do item. Creio que esse será o meu último carro chinês”, declara.
Reginaldo, servidor público federal garante que está muito satisfeito com o modelo da GWM HAVAL H6 PHEV GT adquirido há pouco mais de um mês. O modelo é hibrido plug-in, e Reginaldo assegura que até o momento não colocou uma gota de combustível no tanque. “Estou totalmente satisfeito, superou minha expectativa. Ainda não gastei um centavo com gasolina, rodo somente no modelo elétrico, pois o carro possui uma autonomia de até 170 quilômetros. Já recomendei para alguns amigos e praticamente todos já compraram. O custo benefício é imbatível”, disse, entusiasmado.
GWM
José Tarcísio Júnior, diretor da Navesa veículos é responsável pela revenda da marca chinesa GWM que está em Goiás há pouco mais de quatro meses. Ele conta que a marca está ganhando a confiança dos goianos. “Admito que as vendas estão nos surpreendendo. O volume está muito acima daquilo que planejamos para o início. “
Para José Tarcísio, o brasileiro está mais confiante em relação ao carro chinês. De acordo com ele, a tecnologia tem melhorado muito. “Os chineses detêm a tecnologia de ponta, especialmente no que se refere a veículos híbridos e elétricos. Falando principalmente dos produtos GWM, não tenho medo de dizer que são de primeira linha”, destaca. Tarcísio informa que a loja vende cerca de 40 automóveis por mês. Tarcísio ratifica que os clientes terão todo o suporte da concessionária. “Temos nosso estoque de peças e nossa oficina que dará todo o suporte necessário. Podem ficar tranquilos”, ressalta.
CAOA Chery
O gerente comercial da CAOA Chery em Goiânia, Willian Queiroz, afirma que o cliente da marca não passará mais por dificuldades na reposição de peças. Willian assegura que, se o problema for complexo, a espera não passa de 15 dias e, na maioria das vezes, as peças estão no estoque.
O gerente confirma que a média de venda mensal é de 70 carros faturados, e que não existe mais o medo do cliente em adquirir um modelo chinês. ”A nossa loja tem apenas cinco anos e, nesse período, temos observado a fidelização dos cientes, que são aqueles que voltam para substituir o modelo. Isto significa que – o cliente está satisfeito com o produto”, argumenta, Willian.