A possibilidade de uma aliança entre o PL e a chapa majoritária formada por MDB e União Brasil continua movimentando os bastidores da política goiana e gera avaliações divergentes entre analistas e lideranças. Em entrevista ao Jornal Opção, o cientista político Marcos Marinho e o ex-deputado federal Vilmar Rocha (PSD), além de conversas informais com o governador Ronaldo Caiado (UB) e o vice-governador Daniel Vilela (MDB), analisaram cenários, impactos e entraves de uma eventual composição.

Enquanto Marinho considera a união improvável e logisticamente complexa, Vilmar Rocha avalia que a articulação tem “grande possibilidade” de ocorrer e que poderia fortalecer de forma decisiva a candidatura de Daniel ao governo. O governador Ronaldo Caiado também reforçou sua confiança em manter diálogo com o PL.

Marcos Marinho: união é improvável e enfrenta barreiras práticas

Para o cientista político Marcos Marinho, uma aliança entre PL e União Brasil em Goiás é, hoje, “pouquíssimo provável”. Ele argumenta que a engenharia eleitoral necessária para viabilizar a composição é complexa e esbarra em interesses já consolidados.

Segundo Marinho, tanto o PL quanto o União Brasil já possuem chapas praticamente definidas para deputado federal e estadual. “Como é que eles vão fazer para manter todas as chapas no status em que estão? Como o Gustavo Gayer pediria voto no palanque do Daniel? Quem o MDB apoiaria para presidente? O PL lançará alguém? Vai apoiar Tarcísio? São muitas variáveis”, afirma.

O analista também questiona a viabilidade jurídica e prática da união:
“Não existe mais coligação proporcional. Iriam federar PL e União Brasil? Como seria essa junção?”

Cenário nacional dificulta aproximação

Marinho descarta que uma articulação entre Ronaldo Caiado e Jair Bolsonaro influencie diretamente o cenário em Goiás. Para ele, os projetos nacionais dos dois seguem caminhos distintos.

“O Bolsonaro não vai apoiar o Caiado. Ele tem sua linha de interesses. O Caiado diz que será candidato à Presidência. Onde ele caberia no projeto do Bolsonaro?”, questiona.

Segundo Marinho, Bolsonaro está focado em sua sobrevivência política e jurídica, enquanto o centrão deve trabalhar por Tarcísio de Freitas.
“Não há espaço para o Caiado nesse grupo”, afirma.

Senado: voto duplo torna cálculos imprevisíveis

Na disputa ao Senado, Marinho lembra que o voto duplo torna qualquer engenharia política arriscada:
“O primeiro voto tende a ser identitário; o segundo é mais disperso.”

Ele cita pesquisas em que Zacarias Calil aparece como o mais lembrado no segundo voto.
“O Vanderlan pode crescer com apoio municipal. O voto do Gustavo é identitário; o da Gracinha vem pela mão do Caiado. Não é simples juntar isso.”

Para ele, a união entre PL e MDB “não fecha” nem politicamente nem matematicamente.

Vilmar Rocha: “Há grande possibilidade de união; fortaleceria Daniel”

Em direção oposta, o ex-deputado Vilmar Rocha avalia que a união entre PL, MDB e União Brasil é possível e interessa a ambos os lados.
“Acho que há grande possibilidade dessa união. Interessa ao PL, que poderia eleger um candidato ao Senado, e interessa à chapa do MDB e do União Brasil”, afirma.

Rocha destaca que setores do PL mantêm diálogo direto com Bolsonaro, o que poderia facilitar a aproximação.

Impacto direto na disputa pelo governo

Para o ex-deputado, o maior beneficiado com a aliança seria Daniel Vilela. “Fortaleceria muito a candidatura do Daniel. Reduziria a disputa entre Marconi e Daniel, porque o PT não é competitivo para o governo estadual.”

Ele acrescenta que a união retiraria um projeto concorrente da majoritária, simplificando o cenário. Mesmo assim, pondera que o quadro ainda pode mudar: “Eleição depende de muitos fatores. Ainda mais faltando tanto tempo. Pode haver mudanças importantes.”

Caiado: “Sempre é bom andar comigo”

O governador Ronaldo Caiado também comentou sobre a possível aproximação com o PL. Em conversa informal, afirmou:

“Eu sou um cara insistente, persistente. Pelo menos todas as duas eu ganhei. Acho que eles é que devem aprender que é sempre bom andar comigo, porque quando não estão ao meu lado, não foram vitoriosos.”

A fala reforça a estratégia de Caiado de se posicionar como liderança agregadora e influente no cenário estadual.

Daniel Vilela: “O cenário nacional nunca foi tão imprevisível”

O vice-governador Daniel Vilela afirmou que o contexto nacional é determinante — e altamente instável — para as articulações em Goiás.

“O cenário nacional nunca teve uma pré-eleição tão imprevisível. Quando as candidaturas estiverem definidas, teremos condições de leitura mais claras.”

Daniel lembra que a oscilação de nomes nacionais, como Flávio Bolsonaro, afeta diretamente as negociações estaduais: “Um dia o Flávio era candidato, no outro já falou que pode sair, depois voltou atrás. Isso impacta as alianças regionais.”

Apesar da incerteza, confirma que mantém diálogo com o PL: “Temos conversado com todos os atores políticos. O PL também está no radar. Mas decisões serão tomadas perto das convenções.”

Humor do eleitorado e chapas federais podem reconfigurar o tabuleiro

Marinho acrescenta que o comportamento do eleitorado após decisões do STF e recentes mobilizações pode influenciar diretamente a disputa federal — e reorganizar alianças locais.

“Tem muita gente querendo renovar mandato. Vamos ver como isso mexe no humor do povo.”

Ele reforça que a definição das chapas federais será determinante:
“Enquanto não houver clareza sobre a disputa para deputado federal, tudo aqui embaixo pode mudar.”

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