Tenente-coronel afirma que plano de prisão e possível ‘neutralização’ de ministros do STF era simulação interna do Exército

28 julho 2025 às 20h45

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Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (28), o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, réu na ação penal que investiga uma tentativa de golpe de Estado, declarou que o plano encontrado pela Polícia Federal em sua residência — que sugeria a prisão de ministros do STF — era parte de um exercício hipotético de inteligência militar, e não uma proposta operacional.
Segundo Ferreira Lima, o documento denominado Desenho Operacional Luneta foi elaborado dentro da 6ª Divisão do Exército, em Porto Alegre (RS), como uma simulação de cenários em caso de suspeita de fraude nas eleições presidenciais de 2022. O militar, que possui formação em Forças Especiais e é apontado como integrante do grupo conhecido como “kids pretos”, afirmou que sua função envolvia a antecipação de cenários estratégicos para evitar que o comando fosse pego de surpresa.
O plano previa ações como a prisão preventiva de ministros considerados “geradores de instabilidade”, a neutralização da atuação do ministro Alexandre de Moraes, a criação de gabinetes de crise e a convocação de novas eleições. Ferreira Lima alegou que o documento nunca foi validado por seus superiores e que foi abandonado após orientação do chefe da inteligência da divisão.
“É um cenário totalmente hipotético. Não fala em eliminar ninguém. É amparado por normas legais”, disse o militar, negando qualquer intenção golpista.
PGR vê indícios de articulação golpista
A Procuradoria-Geral da República (PGR), no entanto, interpreta o documento como evidência de planejamento prévio para uma ruptura institucional. A denúncia sustenta que o plano fazia parte de uma articulação que envolvia desde a contestação do resultado eleitoral até ações concretas para impedir a posse do presidente eleito.
Ferreira Lima também negou que a reunião realizada em novembro de 2022 no apartamento do general Walter Braga Netto tenha tido conteúdo golpista. Ele afirmou que o plano não foi despachado com nenhum general e que qualquer aplicação dependeria de autorização superior — o que, segundo ele, nunca ocorreu.
Coronel Corrêa Netto
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Netto negou que uma reunião realizada em 22 de novembro de 2022 entre militares das Forças Especiais — conhecidos como “kids pretos” — tenha tido caráter conspiratório. Segundo ele, o encontro foi apenas uma reunião informal entre colegas de guarnição que atuam em Brasília.
A Polícia Federal, no entanto, aponta que o encontro teve como objetivo pressionar os comandantes do Exército a aderirem a uma tentativa de golpe de Estado para manter o então presidente Jair Bolsonaro no poder. A investigação também indica que os participantes discutiram ações contra o ministro Alexandre de Moraes, considerado o “centro de gravidade” da resistência institucional.
Corrêa Netto afirmou que o encontro foi espontâneo, sem organização formal. A reunião ocorreu em um salão de festas com paredes de vidro, onde foram servidos pizza e refrigerante. Segundo ele, não houve qualquer planejamento operacional: “É impossível que um plano de Forças Especiais seja feito dessa forma. Seria necessário ao menos uma semana de preparação em ambiente confinado.”
Mensagens contraditórias
Apesar da alegação de informalidade, a PF identificou mensagens enviadas por Corrêa Netto dois dias antes do encontro, nas quais ele propunha reunir militares em “funções chaves” para discutir como influenciar os comandantes. Também foi compartilhada a minuta da “Carta ao Comandante do Exército e Oficiais Superiores da Ativa”, que teria sido pauta da reunião.
Plano em prática
A Polícia Federal concluiu que os envolvidos já estavam colocando em prática ações para desestabilizar o Estado de Direito, mesmo antes da reunião. O coronel alegou que apenas repassou a carta a pedido de um colega, sem saber sua origem exata. Essa controvérsia se insere no contexto das investigações sobre os atos golpistas que culminaram em 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
Além de Ferreira Lima e Corrêa Neto, outros militares e um agente da Polícia Federal foram ouvidos pelo STF nesta segunda-feira.
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