Exclusivo: Ex-prefeita interina de Iporá, Maysa Cunha, fala sobre seu período na Prefeitura e encabeça forte oposição a Naçoitan Leite
18 fevereiro 2024 às 09h46
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O prefeito de Iporá, Naçoitan Leite (sem partido) tomou posse e neste sábado, 17, retornou ao cargo após decisão do presidente da Câmara Municipal, Adriano Coutinho, o Didi. Com isso a então prefeita interina, Maysa Cunha (PP) volta ao cargo de vice, mas com posicionamento de oposição em relação ao parceiro de administração.
Cunha ficou pouco mais de dois meses no cargo e deixa o comando do Executivo de Iporá com projeto bem encaminha para disputar a Prefeitura. A entrevista ao Jornal Opção aconteceu antes da decisão apressada e de última hora de reempossar Naçoitan no início da noite de sábado, 17. Até então Maysa não via a possibilidade do prefeito ser empossado de imediato. Ela cita que os advogados de Naçoitan e os dela estava articulando uma transição tranquila para que não houve prejuizo aos processos em andamentos na cidade.
Na entrevista, a vice-prefeita revela a complexidade da situação política em Iporá e enfatiza os esforços da administração interina para avançar apesar das adversidades e a incerteza sobre o futuro político do município, dentre as quais a falta de base de apoio no Poder Legislativo. Dos 13 vereadores, cerca de nove se mantiveram fiéis a Naçoitan Leite.
Confira a entrevista com Maysa Cunha, na íntegra
Nielton Soares – Com o prefeito Naçoitan Leite em liberdade e agora reemposado como a senhora fica politicamente na Prefeitura de Iporá?
A Câmara (Municipal) tem a legitimidade, a legalidade e o poder para empossá-lo ou não. Vejo aí uma grande possibilidade de não acontecer o empossamento, olhando pela vertente do princípio da moralidade. Pois é um prefeito que está com tornozeleira eletrônica e cometeu um ato repugnante de violência contra a mulher, e existem também muitos outros processos tramitando. Então, do ponto de vista moral, entende-se que não deve haver o empossamento ao retorno das atividades de prefeito. Mas, do ponto de vista legal, a Câmara de Vereadores tem o poder para decidir.
Nielton Soares – O advogado do Naçoitan Leite, Thales José, mencionou que já houve certas conversas com a senhora para que essa posse aconteça de forma tranquila e respeitosa. Essas conversas estão ocorrendo; como estão essas negociações e as tratativas?
Sim, pedi ao meu advogado para entrar em contato porque nossa intenção é resguardar o princípio da legalidade, o atendimento da ação continuada dos interesses coletivos, o que eu gostaria muito que fosse respeitado. Temos processos em aberto, contas a pagar e gostaríamos que isso fosse atendido, até pela continuidade séria do desenvolvimento das ações que já implantamos.
Nielton Soares – E qual foi o posicionamento da outra parte?
A notícia que tive aqui indica que teremos esse tempo, que será respeitado o momento em que poderemos fazer todos os empenhos, quitar todos os restos a pagar, e que isso acontecerá de uma forma tranquila. Mas o desfecho de tudo depende da Câmara.
Nielton Soares – Qual é o balanço que a senhora faz dos mais de dois meses à frente da Prefeitura de Iporá?
Graças a Deus, conseguimos desenvolver uma proposta nossa, como uma equipe de governo, nestes aproximadamente 68 dias de gestão. Não tivemos muitos avanços e, em cada política pública, tivemos um carro-chefe na área da infraestrutura. Existia uma determinação judicial para o governo antecessor construir um aterro sanitário desde 2022, e isso não tinha sido iniciado. Agora, em dezembro, já conseguimos alinhar; iniciamos todos os preparativos no lixão para a construção do aterro sanitário, demos início aos consórcios intermunicipais e, além disso, revitalizamos as cidades e iniciamos o projeto de revitalização da cidade da área verde, para troca de lâmpadas e da limpeza urbana.
Nielton Soares – Nesta área, como a senhora recebeu o município?
Tínhamos bairros totalmente abandonados, sem nenhum tipo de zelo ou cuidado com a limpeza, além disso, iniciamos todo o trabalho em toda a cidade de planejamento estratégico da coleta de lixo seletiva. Então, revitalizamos o lago e o Córrego Tamanduá; a zona rural também foi atendida de forma muito precisa. Claro que as questões climáticas da chuva acabam interrompendo um pouco os trabalhos de maquinário. A pavimentação foi iniciada, embora não tenhamos conseguido avançar também pelas condições climáticas, e tapa-buracos, nós também iniciamos, porém dependendo das condições climáticas. Ou seja, a infraestrutura de Iporá, no geral, teve muitos avanços, principalmente relacionados à área do lixão e às revitalizações e limpeza da área urbana.
Nielton Soares – Qual outra área que precisou também de atenção?
Na saúde, tivemos a ampliação do atendimento tanto na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] quanto no hospital municipal e nos postos de saúde. Na UPA, colocamos um médico 8h por dia de segunda a sexta-feira, fixo, além dos demais plantonistas, e abastecemos esses três pontos de atendimento com insumos e medicamentos de todas as naturezas. Também colocamos os euipamentos de exames que estavam estragados para funcionar e buscamos a licença de funcionamento da UPA, porque ela não tinha licença e o hospital municipal também não. Organizamos tudo, desde a parte burocrática até a oferta dos serviços ao cidadão.
Nielton Soares – Com isso, foi possível melhorar os atendimentos mais complexos de saúde?
No hospital municipal o diferencial foi o retorno das cirurgias eletivas que já não aconteciam há muito tempo. Além disso, contratamos reforços na área de ortopedia, porque nunca tivemos ortopedista na cidade pelo SUS [Sistema Único de Saúde] para realização de consultas e cirurgias e contratamos mais um cardiologista para dar um suporte maior, porque era um só para atender o município inteiro era insuficiente mesmo com regime de plantão. Hoje, contamos também com cardiologista o tempo todo conosco no hospital municipal. E em cada posto de saúde, cada um tem um médico oito horas por dia, o que é uma inovação muito grande para Iporá, porque as pessoas tinham que levantar de madrugada para pegar uma senha para uma consulta.
Nielton Soares – Outra questão para a população mais carente é a ação social, houve investimentos nesta área?
Do ponto de vista da assistência social, ampliamos todos os benefícios eventuais, um enorme número de cadeiras de rodas entregues, um enorme número de cestas básicas e de enxovais, e fizemos o recadastramento das famílias que necessitam de unidades habitacionais e desenvolvemos um programa para geração de trabalho, emprego e renda ao jovem. Só que não tivemos tempo de fazer toda a busca ativa nos bairros para levantamento do quantitativo de jovens, mas o programa já está pronto.
Nielton Soares – Qual sua análise sobre a Educação básica municipal?
Na educação, fizemos um chamamento para o concurso público que estava esquecido. Então, agora, os concursados convidados terão direito de tomar posse. Pois, já estava prescrevendo a legalidade do edital. Também conseguimos analisar um financeiro e conceder o piso salarial para professores. Uma conquista significativa que se alinha às diretrizes nacionais, especialmente aqui na região do oeste goiano. Além disso, regularizamos o piso salarial dos enfermeiros, uma luta reconhecida em todo o país. Na quinta-feira, divulgamos vídeos no Instagram e no site da prefeitura, anunciando a concessão do piso salarial aos odontólogos, uma medida inicialmente comunicada verbalmente, com planos de elaborar um projeto de lei na próxima semana para informar a Câmara de Vereadores. A relevância deste assunto pode variar, especialmente se considerarmos a possível recondução do prefeito anterior ao cargo.
Na área da educação, não posso deixar de mencionar uma situação preocupante. A falta de lanches para os alunos da zona rural, que chegavam famintos às aulas. Agora, todos os alunos dessa região têm a oportunidade de almoçar antes de ir para a sala de aula, uma mudança significativa em nossa abordagem educacional. Além disso, fundamos mais uma escola municipal, a Escola Municipal Valduce Coutinho, um feito notável em apenas sessenta dias de gestão, demonstrando nosso compromisso com o avanço educacional no município.
Nielton Soares – A senhora conseguiu implantar alguma política pública para as mulheres?
No âmbito da política pública voltada para as mulheres, conseguimos valorizar significativamente esse segmento em Iporá. No Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, sancionamos uma lei que garante às servidoras públicas do município o direito de não trabalhar neste dia, permitindo-lhes refletir sobre seus papéis na sociedade. Reconhecemos que as políticas públicas serão mantidas nesse dia, destacando a importância e a necessidade de valorizar as contribuições femininas. É justo que, no mínimo, no dia 8 de março, possamos pausar, refletir e recarregar nossas energias, enquanto aqueles ao nosso redor percebem nossa ausência e reconhecem nossas demandas.
Nielton Soares – Sobre as eleições deste ano, a senhora pretende concorrer ao cargo de prefeita?
Pretendo sim concorrer ao cargo de prefeita. Estou com um plano de ação já montado para um trabalho de governo a curto, médio e longo prazo. Temos um grupo político e uma base política bem satisfatória para este movimento, e isso me dá alegria. Nós mulheres enfrentamos muita violência política, algo que muitos não conseguem imaginar e essa violência traz uma reflexão sobre a necessidade de avançar ou realmente exercer essa missão coletiva.
Desde que nasci, vivo com a personalidade de querer fazer o melhor pelo próximo. Sou graduada em uma área e escolhi, por opção, a área de serviço social paramilitar. Digo a você que somente por uma força divina não desisto da política, mesmo enfrentando tantas violências, como a discriminação – a mulher é muito discriminada na política.
Nielton Soares – Na reforma do secretariado, a senhora conseguiu aumentar a participação feminina, isso foi difícil?
Consegui fazer algumas mudanças no secretariado, colocando mais mulheres no comando das pastas. Foi uma mudança desafiadora, já que 80% do meu secretariado é composto por mulheres. Trouxe uma inovação impactante na história de Iporá ao nomear uma mulher para a Secretaria Municipal de Obras, uma posição historicamente ocupada por homens. Foi difícil no início devido à mentalidade machista e preconceituosa de muitos que acreditavam que nós mulheres não seríamos capazes de administrar.
Nielton Soares – Qual avaliação a senhora faz deste período no Poder?
Superamos muitas barreiras e Iporá pode ter certeza de que a atitude de valorizar o papel da mulher, especialmente porque assumi como prefeita interina devido a uma violência cometida contra uma mulher, foi uma decisão sábia. Isso não só demonstrou a inteligência, a força e a capacidade da mulher, mas também reafirmou que não devemos ser subestimadas, ao demonstrarmos respeito e capacidade de ação.
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