Durante a reunião virtual do BRICS nesta segunda-feira, 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente o cenário internacional, acusando grandes potências de adotar práticas comerciais ilegais e recorrer à “chantagem tarifária” para interferir em países emergentes. Embora diplomática, a fala foi interpretada como uma denúncia velada contra os Estados Unidos.

Para avaliar os impactos econômicos dessas declarações, o Jornal Opção entrevistou a economista Adriana Pereira de Sousa, doutora em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento e professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). A especialista analisou os pontos levantados por Lula e apresentou uma leitura técnica sobre riscos e alternativas para o Brasil.

Segundo Adriana, sanções secundárias, medidas extraterritoriais e tarifas arbitrárias impõem vulnerabilidade estrutural a economias emergentes. “Essas ações violam normas internacionais e colocam países como o Brasil em posição de fragilidade”, explica. Ela observa que o objetivo das potências, sobretudo os EUA, é distorcer a concorrência e forçar decisões políticas.

A economista detalha ainda os impactos internos. “Setores exportadores, como agronegócio e indústria, são os mais atingidos. A restrição ao crédito internacional e o aumento do custo de insumos podem gerar inflação, queda do poder de compra e desemprego.” No curto prazo, a oferta maior de produtos pode reduzir preços, mas no médio e longo prazo a desvalorização cambial tende a comprometer a estabilidade econômica.

Lula defendeu o fortalecimento do BRICS como alternativa ao unilateralismo, destacando instrumentos como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e o Arranjo Contingente de Reservas (CRA). Adriana reconhece o potencial, mas ressalta os limites: “Eles mitigam choques externos e reduzem a dependência do sistema financeiro americano, mas ainda não substituem o acesso pleno aos mercados globais.”

Para reduzir vulnerabilidades, Lula propôs industrialização verde e ecossistemas tecnológicos nacionais. Adriana complementa com medidas como diversificação de mercados, uso de moedas locais em transações, reforço das reservas cambiais e fortalecimento da rede de proteção social.

Tanto o discurso presidencial quanto a análise técnica convergem na necessidade de articulação internacional. Lula defende reformas no comércio multilateral e no Conselho de Segurança da ONU. Já Adriana aponta que o Brasil não pode agir isoladamente: “A articulação no BRICS e em novas coalizões comerciais será decisiva para garantir soberania e resiliência.”

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