Na reunião da Comissão Especial de Inquérito que investiga possíveis irregularidades da Companhia de Urbanização de Goiânia (CEI da Comurg) desta quinta-feira, seria ouvido o gerente de engenharia do órgão, Nilton José Pinto, mas, apesar de comparecer desta vez, ele decidiu exercer o direito de ficar em silêncio.

O advogado do investigado, Danilo Vasconcelos, explicou que a informação que eles tinham, inicialmente, é que Nilton seria ouvido apenas como testemunha e que foram surpreendidos com a informação, repassada pelo vice-presidente da CEI, Welton Lemos (Podemos), no início da reunião, de que o gerente estaria lá na condição de investigado. “Nem foi falado aqui qual seria a investigação que pesava contra ele. Nos autos que eu tive acesso não tinha nenhuma investigação em desfavor dele”, explicou o advogado.

A defesa de Nilton reclamou ainda da postura de alguns membros da comissão. “Fizeram perguntas contrariando a Lei de Abuso de Autoridade, mesmo com a pessoa ficando em silencia”, argumentou. Diante deste cenário, na visão do advogado, o silêncio foi a melhor estratégia. Apesar da reclamação de transgressão da lei, Danilo afirmou que não pretende tomar nenhuma medida sobre a questão.

A legislação citada por Danilo Vasconcelos é Lei Federal nº 13.869/2019. Em seu texto, no parágrafo único, inciso I, do artigo 15, pune o agente ou autoridade de prosseguir com interrogatório de quem tenha exercido o direito de ficar em silêncio. O artigo declara que é crime quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar terceiros ou beneficiar a si mesmo por mero capricho ou satisfação pessoal.

“A defesa não tem nenhum interesse em representar criminalmente. O ato foi público, vai ter uma ata e foi gravado. Se o Ministério Público ou alguma autoridade quiser tomar providência, que assim o faça”, revelou o advogado de Nilton que, a partir de agora, pretende tomar conhecimento sobre a acusação supostamente em desfavor de seu cliente. O Jornal Opção pediu o posicionamento do Ministério Público do Estado de Goiás, mas ainda não teve uma resposta.

Vereadores ficam sem explicações

O vice-presidente da CEI afirmou que foi garantido o direito de Nilton de ficar calado, mas, para ele, o gerente da Comurg perdeu a chance de explicar o porquê de ter atestado uma nota por um serviço que não foi prestado ainda. “Seria uma oportunidade muito grande pra ele esclarecer isso. É a assinatura dele que está lá”, disse. O vereador Paulo Henrique da Farmácia (Agir) não fez questionamentos, mas citou o ditado: “Quem cala, consente”.

O relator da CEI, Thialu Guitti (Avante), ao certificar de que não seria respondido, preferiu não fazer perguntas. “Não vou gastar saliva nem fosfato”, afirmou. Antes disso, reagiu à reclamação da defesa de Nilton: “É um direito do cliente do senhor ficar calado, mas o senhor não pode impedir os vereadores da Comissão Especial de Inquérito, munidos do poder que lhes foram conferidos, de fazer perguntas. O senhor não vai calar esta CEI”, rebateu.

Welton lembrou que, caso confirmadas as denúncias, a consequência pode ser “a reclusão de quatro a oito anos, pagamento de multa e bloqueio de bens”. O vice afirmou que até acredito que o erro não tenha partido do servidor, mas que esse seria o momento dele explicar o que de fato ocorreu. “O histórico é de um servidor isento, que trabalha de uma forma digna já há muito tempo”, afirmou, sugerindo que um terceiro poderia ter pedido para que Nilton atestasse a finalização de serviço não concluído para expedição de nota fiscal.

O vereador da base, Pedro Azulão Jr. (PSB) lembrou aos membros da comissão que prosseguir com o interrogatória feria a Lei de Abuso de Autoridade e que a fala de Welton sobre a possibilidade de exoneração do servidor poderia soar como ameaçado. “Não vou jogar nada pra debaixo do tapete. Não quero cometer erros. Existe regra, e tem que ser conduzido como manda o regimento e a lei. Tentei orientar a mesa”, alegou.

Os vereadores republicanos Isaías Ribeiro e Leo José fizeram coro a Azulão Jr, mas reforçaram do papel de fiscalização que os vereadores possuem. “Essa CEI é pra gente averiguar as informações que vem chegando, algumas denúncias”, afirmou Leo. “Servidor público deve servir ao público. Temos que ter respeito com as pessoas lá fora, a população. Não coaduno com erro algum. E não é só na questão da Comurg”, completou Isaías.

Confirmadas as suspeitas de que as reformas dos Cras e do Cemitério Parque – que custaram mais de R$ 11 milhões à Prefeitura – foram pagas sem que o trabalho fosse feito, “ele cometeu, no mínimo uma fraude”, declarou o vereador. “Amanhã ou depois ele pode até ser exonerado do serviço público. É o que diz a lei de improbidade”, completou Welton.

Mais ausência

Quem também não compareceu à CEI nesta quinta-feira foi o presidente da comissão, Ronilson Reis (PMB). A assessoria informou que a ausência foi “devido a uma indisposição com sintomas de gripe forte e dor de cabeça”. O vereador teria comunicado aos demais membros da comissão pela manhã que não poderia comparecer à sessão para buscar atendimento médico e tratamento adequado. Ele solicitou ainda que o vice-presidente, Welton Lemos, conduzisse os trabalhos.

Próximos depoimentos

Na próxima segunda-feira, 3, está previsto o depoimento do gerente de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, Eduardo Gonçalves de Carvalho, que não compareceu na reunião da última quarta-feira, 29. Para a próxima semana ainda está prevista a ida do presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Goiás (Acieg), Rubens Fileti – cuja empresa da qual é proprietário possui contratos milionários com o órgão -, e da ex-secretária de Relações Institucionais, Valéria Petersen, que assinou os contratos com a pasta que tiveram os repasses adiantados.