A Polícia Civil de Goiás (PC-GO) concluiu o Relatório Final de Investigação sobre um esquema de compra de votos durante as eleições municipais no início desta semana, segunda-feira, 24. A investigação se estendeu de 30 de setembro do ano passado até este mês. O documento revelou uma estrutura organizada e milionária de captação ilícita de sufrágio, envolvendo dinheiro em espécie, combustível e benefícios oferecidos a eleitores.

A Operação Voto Livre revelou o caráter exorbitante do esquema, com a apreensão de R$ 1.625.417,00 em espécie. Na Fazenda Novo Horizonte, de propriedade do ex-prefeito, Renis Eustáquio Gonçalves (União Brasil), foi encontrada uma mala preta com R$ 1,1 milhão, além de armas de fogo e munições. Também foi apreendido um caderno de anotações com o título “Dinheiro compra de votos (controle)”, contendo listas de nomes e valores, evidenciando a contabilidade paralela do esquema.

Ao Jornal Opção, o atual prefeito, Max Pereira (Pode), disse que o ex-gestor provavelmente terá um processo eleitoral e criminal. “O processo dele é eleitoral e criminal. Foi apreendido dinheiro, armas, caderno com anotações, títulos de eleitor, notas de posto de gasolina. O caderno constava os valores repassados para todos os componentes. Inclusive havia envolvimento de pessoas ligadas a facções criminosas”, contou.

Sobre o indiciamento, Max afirmou que reagiu de forma tranquila ao indiciamento do seu rival. “Eu estou tranquilo. Isso não vai passar por nós, nem pelos advogados. O delegado fez a investigação, ofereceu a denúncia para a juíza e para o procurador. Agora é com a Justiça Eleitoral e Criminal”, apontou.

Ao ser questionado sobre a vitória, mesmo o seu rival utilizando subterfúgios, o atual gestor disse que foi “graças ao povo”. “Ele gastou cerca de R$ 12 milhões para pouco mais de 5 mil eleitores, comprou candidatos a vereador, apoiou gente na última semana, mas mesmo assim perdeu. Eu comecei a campanha com três votos para um, depois foi caindo, mas a maioria do povo de bem não se vendeu”, continuou.

Sobre a prisão em flagrante e valores que foram apreendidos com o seu adversário, ele explicou o que foi achado pela Polícia Civil. “Ele foi preso com R$ 1,6 milhão. Tinha R$ 300 mil na casa e R$ 1,3 milhão na fazenda. O delegado chegou a ameaçar arrombar a porta, e só então ele deu a senha. Encontraram a mala com o dinheiro. O caderno mostrava pagamentos de R$ 300 para distribuir aos eleitores”, disse.

Acerca da forma de atuação do esquema, o gestor apontou que não tinha limite para o dinheiro gasto por parte do seu adversário. “Era ilimitado o dinheiro. Pagava R$ 300 para quem fosse em reunião, R$ 3 mil a R$ 5 mil para quem tirasse adesivo de carro, R$ 10 mil a R$ 20 mil para famílias inteiras apoiarem. O coordenador da campanha dele, Darlan Bessa Amorim, chegava a oferecer R$ 1.000 no bolso de quem não queria votar nele. Foi um esquema grande”, destacou.

Sobre a postura da população e testemunhas, o prefeito disse que muita “gente de bem” não aceitou dinheiro para mentir. “Ele ofereceu dinheiro para testemunhas, mas em Joviânia tem muita gente de bem. Um gerente de posto recusou R$ 20 mil dizendo que sua religião não permitia mentir. Todos falaram a verdade. As provas são robustas”, afirmou.

A respeito do futuro político do ex-prefeito, Max comentou que deseja nenhum mal para ele. “Eu não desejo mal para ele, mas desejo que fique afastado da vida pública. Um político tem que fazer o bem para o povo. Ele foi agressivo, tem filmagens e expulsões. A Justiça deve torná-lo inelegível por pelo menos oito anos”, finalizou.

Esquema

O caso teve início com a prisão em flagrante de Flávio Antônio Oliveira Júnior, surpreendido com R$ 14.600,00 em espécie dentro de um veículo, após denúncia de que estaria oferecendo dinheiro e combustível para participação em uma carreata política. A partir desse episódio, a investigação avançou e trouxe à tona provas contundentes de um esquema em favor do então candidato, que culminou no indiciamento do ex-prefeito Renis Eustáquio Gonçalves.

Depoimentos confirmaram que eleitores recebiam valores para adesivar veículos e abastecer em postos de combustível. Um áudio de Darlan Bessa Amorim, coordenador da campanha, reforçou a natureza contratual dos pagamentos, exigindo a devolução de R$ 300,00 de uma eleitora que retirou os adesivos do carro. O gerente de um posto de combustíveis também confirmou que listas de veículos eram autorizadas a abastecer em nome do comitê político.

O relatório concluiu que o grupo atuava como uma verdadeira organização criminosa, com funções bem definidas entre os envolvidos. O ex-prefeito Renis Eustáquio Gonçalves foi apontado como responsável por autorizar pagamentos e comandar a estrutura de financiamento ilícito.

Indiciados pela Polícia Civil

NomeFunção na Organização
Renis Eustáquio GonçalvesCandidato e Líder Político. Responsável por determinar e autorizar a entrega de vantagens, comandando a estrutura de financiamento ilícito e compra de votos.
Romeu José GonçalvesCoordenador-Geral da Campanha e Financiador. Executava coordenação e co-financiava o esquema ilícito.
Darlan Bessa AmorimNúcleo Operacional e Territorial. Responsável pela execução prática, incluindo oferta de valores, pagamento de abastecimentos e adesivagens remuneradas.
Flávio Antônio Oliveira JúniorNúcleo Operacional e Territorial. Entregava dinheiro e combustível a eleitores em troca de adesão e voto.
Renis Eustáquio Gonçalves JúniorArmazenava e ocultava valores em espécie, destinados ao financiamento ilícito.

Encerrada neste mês, a investigação recomendou o indiciamento dos envolvidos pelos crimes de captação ilícita de sufrágio e organização criminosa. O relatório foi encaminhado ao Judiciário para as providências cabíveis.

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