“A esquerda tem facilidade pra tropeçar”, diz Delegado Waldir

06 junho 2023 às 18h58

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Passados pouco mais de 150 dias da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a oposição no Congresso já mostra suas garras e promete dificultar o mandato do petista. Em entrevista ao Jornal Opção, o ex-deputado federal Delegado Waldir (UB) que já foi líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal não poupou críticas ao governo do PT. Ele ainda aposta no governador Ronaldo Caiado (UB) como o principal nome da direita para a disputa presidencial em 2026.
Delegado Waldir hoje é o vice-presidente do União Brasil em Goiás – Caiado é o presidente – e avaliou na entrevista que um dos erros do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi ter rompido com o governador de Goiás. Além disso, na visão dele, a postura antivacina e a gestão do meio ambiente também foram decisivos para a derrota nas urnas. Abaixo, confira a entrevista.
Que avaliação o senhor faz dos primeiros meses do governo Lula?
Na verdade, o Lula está levando uma taca da oposição, né? Primeiro porque é cúmplice daquilo que eu falei em vários momentos. Em Brasília, nós temos um primeiro ministro. Em Brasília, quem manda? Quem manda no governo federal? Mandava no governo Bolsonaro na segunda parte do mandato dele e manda agora no governo Lula. É Lira, dono do centrão. É ele que comanda. Se o Bolsonaro não tivesse ajoelhado e agora o Lula não se ajoelhar, ele não governa o Brasil. Ele é semelhante ao Cunha, mas o Lira tem uma força muito maior hoje. Basta ver os números. A quantidade de votos que o Lira foi eleito agora e a quantidade de votos que o Cunha foi eleito. Fui um dos poucos deputados que enfrentaram o Lira e perdi emendas por causa disso. Perdi espaço na Câmara por causa disso, mas não me arrependo.
E como avalia a articulação da oposição ao governo federal no Congresso?
O atual governo vai ser muito fiscalizado. Eu passei algumas orientações pra outros colegas deputados com perfil de direita e disse que o principal trabalho deles é apenas fiscalizar, porque a esquerda tem facilidade pra tropeçar. Basta ver agora essa declaração do Lula em defesa do Maduro. Uma ação atrapalhada atrás da outra. Agora essa questão do carro popular. Em 2026, a direita pode preparar o terno, que vai voltar à presidência com o governador Ronaldo Caiado.
Então aposta em Ronaldo Caiado pra presidente em 2026?
O governador Ronaldo Caiado é direita raiz e foi levado pelo deputado federal Gustavo Gayer ao Congresso para falar na CPI do MST. Ele é o principal nome com a inelegibilidade que vem daqui a pouco para o Bolsonaro. Caiado é o nome mais forte, mesmo Goiás não sendo um dos Estados que tem a maior quantidade de votos, mas ele já disputou uma eleição presidencial. Então, ele vem muito forte. Eu considero o governador Ronaldo Caiado como o melhor orador, é bom de debate.
Mas tem o Romeu Zema, governador de Minas Gerais como um possível nome.
Se você fizer uma comparação do Caiado com o Zema, o Zema não tem o perfil. Nunca foi parlamentar. Não tem força pra ganhar. Tem um estado populoso, mas não tem a força de debate, de articulação que o Caiado tem.
E tem o governador de São Paulo também, o Tarcísio, né?
O Tarcísio não vai largar São Paulo, 50% do PIB, pra uma aventura se tem uma reeleição garantida em São Paulo. E se você pegar também o Tarcísio, ele nunca foi parlamentar. Caiado já foi deputado federal, já foi senador, governador, tem experiência no executivo, foi candidato a presidente. Então quem preenche na direita brasileira hoje é ele. A participação na CPI do MST lançou o Caiado nacionalmente a presidente da República. E a gente fica muito feliz com isso. Eu sabia que iria dar um show. Quando surgiu o convite, eu sabia que ele iria se destacar e arrebentar. Se sentiu muito à vontade, em casa. Ele deu aula. A esquerda ficou constrangida. Alguns questionaram que Caiado teria que decidir o lado que ele está. Caiado não vai mudar nunca, ele é direita, todo mundo sabe disso. Agora, governo não faz oposição a governo. Ele precisa trazer benefício pra Goiás. E não é pra ele. É pro povo de Goiás.

E como avalia a participação do União Brasil (UB), seu partido e do governador Ronaldo Caiado, nesses primeiros meses do governo Lula?
E eu participei da articulação inicial. Os ministros atuais não são indicação do União Brasil, são escolhas do Alcolumbre (Davi Alcolumbre, senador do UB pelo Amapá).
Os principais nomes da direita goiana no Congresso, deputados Silvye Alves (UB) e Gustavo Gayer (PL) estão trocando farpas publicamente. Como o senhor avalia essa questão?
São dois excelentes parlamentares, cada um com seu perfil. Eles tão chegando agora ao parlamento e penso que os dois fazem um excelente mandato. A Silvye em defesa da mulher, na ideia que ela tem, e o Gayer no perfil dele de extrema direita, com as pautas da direita também. São líderes com votações expressivas e com o tempo, com certeza, não vão ficar de rusgas, daqui a pouco vão estar juntos em algumas votações, contrários em outras. É muito natural isso no parlamento. Se você briga dentro de casa, imagine no parlamento. Lá atrás muita gente me questionou porque você brigou com o Bolsonaro? Não briguei, discuti. É do parlamento, é da política. Entendeu? A verdade é eu tenho um excelente alinhamento com o Bolsonaro ainda hoje.
E qual a avaliação que o senhor faz do governo Bolsonaro?
O governo Bolsonaro foi excelente. Eu penso que fez muito no social, reduziu a pobreza, entrou em pautas polêmicas. Eu acho que errou quando trabalhou contra a vacinação. Em relação ao meio ambiente, ele também falhou. Nas relações internacionais, ele foi bem, teve um bom relacionamento internacional, buscou a direita, que é o perfil dele, assim como o Lula faz agora ao buscar a esquerda. Não tivemos casos de corrupção de expressão. Cortou o dinheiro da mídia. Deu mais segurança ao proprietário rural. O agronegócio é apaixonado por ele. Defendeu muito as pautas de costume e quem defende pauta de costume é super alinhado às igrejas. Ele conseguiu unir a igreja católica e a evangélica na defesa dos valores familiares. Eu tenho um carinho por ele. Tiveram erros, todos nós temos, mas é alguém que eu respeito muito. Convivi com ele por muito tempo. Eu fico feliz de ter eleito ele presidente da República. O primeiro presidente de direita do Brasil. O ponto negativo talvez tenha sido ter dado a chave do cofre pro Congresso.
O senhor avaliou o governo Bolsonaro como excelente. Então qual foi o erro que custou a eleição?
A vacinação. Aquelas brincadeiras. Você pega 700 mil pessoas vezes três dá 2,1 milhões. O resto é as bobagens que foi se envolvendo em algumas situações que algumas pessoas colocaram ele. Por exemplo, se ele não tivesse rompido com o Caiado, ele teria uma votação maior em Goiás.
O senhor ainda é alinhado com Bolsonaro?
Quem trouxe o Bolsonaro pra campanha do Caiado em 2018, foi o Delegado Waldir. Em 2022, eu tinha o perfil dele, mas o União Brasil tinha um candidato no primeiro turno. Eu não podia apoiá-lo por lealdade partidária. Se quisesse ter feito que nem o Sérgio Moro fez, eu poderia ter ganhado a eleição pro Senado aqui. Bastava eu abraçar o Bolsonaro. Quem apresentou o Bolsonaro pro Wilder fui eu. E o Wilder foi inteligente politicamente. Eu na política não tem respeito. Na política você precisa vencer. Não interessa as armas que você usa.
O Bolsonaro e sua família estão na mira da Polícia Federal em diversas investigações. Acredita que pode ser preso?
Ele vai ficar inelegível, mas ninguém da família dele vai ser preso. Então, ele não será candidato. Por isso que eu disse que o Caiado é o candidato.