Golpista do Tinder: falso major da FAB faz ao menos dez vítimas em GO, MG e DF
26 outubro 2023 às 13h22
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Marcelo Betchel, o falso major da Força Aérea Brasileira, que foi preso no Distrito Federal pela Polícia Civil (PC) goiana na última segunda-feira, 23, fez ao menos dez vítimas em Goiás, Minas Gerais e DF. Bom de lábia, para conseguir enganar homens e mulheres, ele usava táticas como simular que a conta do banco ou o cartão estavam bloqueados na hora de pagar a conta e até, em alguns casos, chegava a vender benefícios aéreos falsos.
Marcelo, que também se apresentava como chefe de segurança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aproveitava a relação amorosa e de amizade para conseguir empréstimos e financiamentos de carros. Com o golpe aplicado, ele sumia do radar das vítimas deixando apenas um rastro de prejuízo, multas e desilusões.
“São vítimas que ele conheceu em sites de relacionamento, mas também há vítimas aleatórias. Ele ganhava a confiança deles e, depois de um tempo, começava a aplicar os golpes. Ele pedia para locar um carro, financiar um veículo e depois sumia com ele”, explicou a delegada Bruna Coelho, responsável pela prisão de Marcelo.
O estelionatário, dizendo ser piloto de aviões, também vendia benefícios falsos que chegavam a R$ 10 mil. Os golpes mais comuns, no entanto, estão ligados aos empréstimos e financiamentos bancários em nome de terceiros, assim como o aproveitamento financeiro. Apenas um homem de Minas Gerais e uma mulher de Brasília, por exemplo, sofreram prejuízos de R$ 750 mil e R$ 200 mil, respectivamente.
Em Goiás, foram registradas vítimas em Aparecida de Goiânia, Goiânia e Anápolis. A prisão, inclusive, foi realizada após ele aplicar um golpe em uma mulher aparecidente que levou um prejuízo estimado em R$ 20 mil. Marcelo, inclusive, já foi indiciado e denunciado pelo Ministério Público (MP) pelo crime. Ele foi encaminhado ao presídio da cidade na terça-feira, 24, após ter a prisão mantida pela Justiça durante audiência de custódia.
“Ele agia com cada vítima de uma forma. No caso de Aparecida, eles se conheceram pela internet e depois passaram a se encontrar pessoalmente em algumas ocasiões. Quando eles se viam, ela começou a perceber que tinha alguma coisa errada porque ele nunca arcava com nada. Eles viajavam, iam em restaurantes e ele falava que estava com a conta e o cartão bloqueado, mas que depois iria pagá-la”, explicou.
Vítimas relatam prejuízos
O Jornal Opção ouviu três vítimas do golpista, sendo uma mulher do Distrito Federal e dois homens de Minas Gerais. A mulher, que não quis se identificar, informou que conheceu Marcelo por meio de um amigo em comum, mas que nunca teve qualquer tipo de relacionamento amoroso com ele. Porém, sempre atencioso e com boa lábia, o estelionatário acabou firmando uma amizade com a vítima.
A mulher fala que Marcelo se apresentava como piloto da aeronáutica e que usou o cargo falso para conseguir convencê-la a financiar um carro de luxo, após chantageá-la com uma conversa que poderia prejudicar uma amiga próxima dos dois. O financiamento ocorreu em 2021, mas só em julho deste ano a vítima conseguiu recuperar o veículo que estava com multas e com os documentos atrasados. O prejuízo chegou a R$ 200 mil.
“Ele falava que o presidente tinha prometido que iria alugar o carro para a frota presidencial após as eleições e que isso seria muito benéfico para ele. Disse para não me preocupar que ele iria pagar, mas depois ele sumiu. Precisei gastar para limpar meu nome e sempre que cobrava ele por conta da procuração do veículo, ele me mandava comprovantes de pagamento falsos. Meu celular não parava de tocar por conta de cobranças. Não sei o que ele fez, mas conseguiu refinanciar o carro por três vezes mesmo estando no meu nome”, contou a vítima.
Os dois homens, de Minas Gerais, informaram que conheceram o estelionatário por meio do trabalho. Um deles, que também não quis se identificar é representante comercial, já Rodrigo Salomão Carvalho é coordenador de segurança em um aeroporto do estado. Rodrigo, em comparação com as demais vítimas, teve um prejuízo pequeno: de R$ 6 mil. Ele alugou o carro para Marcelo em 2015, mas não recebeu o valor combinado. O coordenador afirma que conseguiu recuperar o carro em Goiânia de forma rápida após atuação da PC mineira.
Já o representante comercial, no entanto, não teve a mesma sorte e amargou um prejuízo de R$ 750 mil em 2019. A vítima contou que realizou dois empréstimos em seu nome no valor de R$ 60 mil para que Marcelo adquirisse um veículo de luxo, com a promessa de que o golpista iria arcar com as prestações.
Porém, dias depois, durante uma viagem com a família para um aniversário que Marcelo teria insistido para que ele estivesse presente, acabou descobrindo que o estelionatário era responsável por uma série de golpes. A partir deste momento, não demorou muito para que o golpista sumisse com o veículo. Desde então, até 2021, o homem precisou vender a própria casa para arcar com multas e quitar a dívida com o banco.
“Estou com o carro até hoje parado esperando a Justiça liberar a documentação. Ele sofreu 104 multas em meu nome em três estados. Ainda há a dívida ativa por ele ter utilizado o veículo e não ter pago nenhum imposto”, concluiu.