Ex-sogro e mãe envenenados: bombeiros registram mais de 200 casos “com produtos perigosos” só neste ano em Goiás
22 dezembro 2023 às 12h26
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A Polícia Civil (PC) acredita que o alimento usado pela advogada Amanda Partata, de 31 anos, para envenenar o ex-sogro Leonardo Pereira Alves, de 58, e a mãe dele, Luzia Tereza Alves, de 86 anos, tenha sido um suco. A hipótese do suco, conforme o delegado Carlos Alfama, seria devido a melhor diluição. Ou seja, poderia camuflar melhor o veneno do que em um bolo ou biscoito.
A Polícia Técnico Científica trabalhava com o cruzamento de mais de 300 substâncias para comprovar qual produto exato foi usado no crime. Acredita-se que tenha sido um tipo de pesticida devido aos efeitos provocados nas vítimas, como vômitos e perda de líquido.
Conforme especialistas, o “chumbinho” não tem cheiro, nem sabor e, por isso, é frequentemente usado como veneno. Embora ele possa ser comprado de forma ilegal, seu uso é proibido no Brasil e em outros países, porque não é seguro e tem grande possibilidade de envenenar pessoas.
Apenas em 2023, conforme o Corpo de Bombeiros, foram realizados 231 atendimentos apenas pela corporação envolvendo “produtos perigosos”. Os dados correspondem ao período de 1º de janeiro a 21 de dezembro. O mês com o maior número de ocorrências foi setembro, com 27 acionamentos deste tipo.
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Chumbinho
O termo “chumbinho” refere-se ao pesticida conhecido como aldicarbe, caracterizado por grãos de cor cinza-escura ou grafite, assemelhando-se ao chumbo, originando o nome.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o aldicarbe é um composto químico extremamente tóxico, pertencente à classe dos carbamatos, sendo conhecido no Brasil como ‘o veneno de ratos’.
Muitas pessoas utilizam o pesticida como isca para controlar animais indesejados, especialmente roedores. No entanto, o aldicarbe apresenta alto nível de toxicidade, representando um sério perigo para crianças, animais de estimação e outras pessoas que possam entrar em contato com o produto.
A comercialização do chumbinho foi proibida no Brasil em 2012 por determinação da Anvisa. Segundo a agência, essa decisão foi motivada pelo uso irregular e indiscriminado do produto, tanto para envenenar roedores e outros animais quanto para causar abortos, homicídios e suicídios.
Na época da proibição, a Anvisa também constatou que o chumbinho não era eficaz no controle de roedores, uma vez que o produto frequentemente causava a morte do primeiro animal, alertando os demais para não consumirem a substância envenenada.
Quais os sintomas da intoxicação?
A intoxicação por chumbinho pode resultar em uma série de sintomas, que podem variar em gravidade. De acordo com especialistas, as reações mais típicas incluem salivação em excesso, visão turva, aumento da pressão arterial ou, em casos graves, diminuição da pressão arterial, e dificuldade respiratória.
Também pode ocorrer:
Distúrbios gastrointestinais:
Náuseas
Vômitos
Dor abdominal intensa
Diarreia
Sintomas neurológicos:
Tonturas
dor de cabeça
Fraqueza
Confusão mental
Convulsões (em casos mais graves)
Segundo o Ministério da Agricultura, a exposição ao chumbinho e sus resíduos deve ser evitada a todo custo, e o produto não deve ser usado de maneira alguma para controle de pragas em lavouras, devido ao seu alto risco à saúde.
O tempo que leva para o chumbinho causar a morte de uma pessoa, de acordo com a Anvisa, pode variar dependendo de fatores, incluindo a quantidade ingerida, a idade e o peso, e a rapidez com que o tratamento médico é procurado.
Caso de envenenamento do ex-sogro e mãe dele
Amanda Partata foi presa na última quarta-feira, 20, suspeita de ser a autora do duplo homicídio. No domingo, 17, ela comprou um suco, lanches e doces para um café da manhã em família com as vítimas. A polícia acredita que ela tenha colocado o veneno na bebida antes de chegar na residência de Leonardo.
As vítimas ingeriram os alimentos envenenados por volta das 10h da manhã e, cerca de três horas depois, começaram a sentir sintomas de vômito, dores abdominais e diarreia. O quadro se manteve até o óbito da idosa e do filho dela, ex-sogro de Amanda. Ambos morreram ainda no domingo.