Rafhael Neris Barboza, delegado que investigou o caso Lázaro Barbosa, perdeu o cargo por determinação judicial. Afastado de suas funções desde 2020, ele foi acusado de desvio, apropriação e doação de itens apreendidos em investigações policiais em curso. As irregularidades aconteceram na Delegacia da Polícia Civil de Uruaçu, a primeira que Rafhael assumiu em novembro de 2018.

Em nota, o delegado afirmou que não se apropriou dos bens e que apenas os doou para pessoas em recuperação, “com único intuito de ajudar” (leia nota na íntegra ao final da reportagem). O delegado foi condenado a 6 anos e 8 meses de reclusão.

De acordo com os depoimentos dos escrivães que trabalhava com Rafhael, ele teria se apropriado de cinco aparelhos celulares, uma geladeira duplex e uma televisão de 32 polegadas. Na época, a televisão foi doada a uma igreja para ser usada na recreação infantil. A Justiça, no entanto, absolveu o acusado pelo desvio da geladeira e da televisão e o condenou pela apropriação dos cinco celulares.

Segundo a Justiça, ele poderá responder em liberdade porque “não consta no processo circunstância hábil o suficiente para se concluir pela necessidade da segregação cautelar ao sentenciado”. Além de perder o cargo, ele deverá pagar 67 dias-multa, sendo 1 dia correspondente a 1/30 do salário-mínimo vigente na época do crime.

A Polícia Civil de Goiás informou, em nota, que aguarda a comunicação do Poder Judiciário “para conhecimento do teor da decisão”.

Afastamento

Na época, o juiz Gabriel Lisboa Silva decidiu, além de afastar totalmente o delegado, proibir que ele se aproximasse da delegacia de Uruaçu e das testemunhas do Ministério Público. Além disso, a decisão também determinou que ele devolvesse as armas de fogo à Corregedoria da Polícia Civil.

Rafhael quando ocupava o cargo de PM no DF. | Foto: Divulgação

Ex-policial militar no Distrito Federal, Rafhael Neris ganhou notoriedade logo que chegou a Uruaçu por decidir reformar o prédio da delegacia local com recursos próprios, gastando uma quantia de aproximadamente R$ 15 mil. A investigação começou quando Rafhael foi transferido para a comarca de São Miguel do Araguaia, em substituição ao delegado Fernando Martins, que ocupou seu lugar em Uruaçu.

Ao chegar no município, Fernando Martins realizou um procedimento interno de praxe, o chamado inventário, para relacionar mobiliário e equipamentos existentes na DP e objetos apreendidos em operações policiais. Foi esta medida que resultou no inquérito que passou a tramitar na delegacia de Uruaçu. Durante a análise, Fernando Martins descobriu que Rafhael Neris havia realizado doações consideradas indevidas de objetos apreendidos em decorrência de cinco inquéritos policiais em andamento e de processos já encaminhados ao Poder Judiciário.

Caso Lázaro Barbosa

O delegado Rafhael Neris Barboza esteve envolvido, em mais de uma ocasião, com um dos casos mais emblemáticos do Centro-Oeste, o do assassino em série Lázaro Barbosa, morto aos 32 anos pela Polícia Civil, em 28 de agosto de 2021, após matar quatro pessoas da mesma família 19 dias antes. O criminoso mobilizou uma força-tarefa policial de grande porte, que envolveu 200 policiais em 20 dias, entre eles Neris.

Ele também esteve à frente de uma investigação para verificar a possível violação da sepultura de Lázaro, em 14 de março deste ano, no cemitério de Cocalzinho de Goiás (GO). Apesar de afastado por conta da investigação, ele seguia no exercício da função, mas em outro município.

Nota do delegado na íntegra

Gostaria de esclarecer que não me apropriei dos bens, bens estes frutos de contrabando e que provavelmente seriam destruidos ou descartados. Os bens foram doados a pessoas em recuperação, com único intuito de ajudar. Não houve prejuizo ao erário, e nenhuma vantagem da minha parte. Tudo foi documentado. Onde eu me responsabilizava por estes objetos confeccionando termo de depósito em meu nome. Os bens foram devolvidos em espécie logo que fui procurado pela Justiça.Sigo no cargo de delegado de cocalzinho de Goiás até o trâmite final do processo.

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