Visão Noturna propõe a arte como tática de combate para celebrar a vida com música, literatura e cinema

24 maio 2020 às 00h00

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Álbum completo chega às plataformas com canções em conexão profunda com o momento presente

a vida elástica faz a dor do peito se acomodar
acomoda também os juros no banco
a conta vai sempre corrente
a massa vai sempre corrida
(Trecho da canção “Ao Pó”)
Visão Noturna (Natura Musical) é um projeto interdisciplinar a partir de um disco, que surge do encontro entre Felipe Antunes (Brasil) e Nástio Mosquito (Angola); os artistas conheceram-se em Lisboa (Portugal) no início de 2018 e seguem em diálogo criativo, desde então.
A pesquisa sugere a volta à natureza como forma de distanciamento de aspectos destrutivos do progresso e propõe a arte como tática de combate, transfigurando o princípio da visão noturna – tecnologia oriunda dos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, também utilizada em práticas de caça animal. As canções discutem violência, necropolítica, finitude sob a perspectiva cíclica da vida, do tempo, do cosmos, com produção musical e composições de Felipe e Nástio, arranjos criados pelos dois em colaboração com Guilherme Kastrup, Kika, Fábio Sá, Leonardo Mendes e Ricardo Prado, beats de Chilala Moco (Angola) e trombones de Allan Abbadia.
O lançamento do álbum foi dividido em quatro atos e o último deles chega às plataformas digitais com todas as faixas do disco e a inédita, “Ao pó”, criada a partir do poema homônimo, lançado apenas em texto no álbum-livro CRU (2018), de Felipe. A canção é uma forte reflexão sobre o ciclo da vida e a poeira que somos nós e, também, ao que estamos submetidos, em vida, nesse ínterim de pó a pó.
O disco completo conta ainda com uma trilha sonora que costura todas as canções, evocando rotasmarítimas e transatlânticas e recuperando a força da narrativa literária da obra – Visão Noturna é um álbum-livro e além das músicas e suas letras, apresenta um pequeno romance escrito por Felipe e a série de aforismos, “Coisas que ouvi enquanto fazia cocô”, de Nástio.
Visão Noturna foi criado entre 2018 e 2019 e toca em temas como morte, pela perspectiva de uma personagem sensível e complexa que trabalha como coveirx, enquanto medita sobre questões filosóficas, econômicas, políticas e místicas e, para além da evidente relação do álbum com o momento presente, traduzir essa temática em obras que sugerem futuros que celebram a vida é a maior potência do projeto. O processo criativo, o modo de produção colaborativa e a interdisciplinaridade característica à sua equipe tornaram possível, por exemplo, consultar a mesma constelação que orientou o tráfico de escravos por anos para traçar outras rotas entre Angola e Brasil, rotas artísticas com pulsão de vida, abundantes em poesia e beleza.
“Esse álbum é um álbum complexo, as composições são complexas, bonitas, isso é muito legal, não é um complexo chato, é um complexo lindo, com canções lindas”, afirma Ricardo Prado, músico e engenheiro de gravação em trecho do documentário sobre o processo de gravação a ser lançado no segundo semestre de 2020.
Sob a direção de produção de Felipe Antunes e Jackeline Stefanski Bernardes, até o momento aproximadamente 40 profissionais atuaram e atuam em diversas áreas para a criação e realização deste projeto interdisciplinar, que compreende o lançamento de diversas obras que provocam os sentidos e favorecem reflexões para mudanças de perspectiva e ação culturais.
Visão Noturna foi selecionado pelo edital Natura Musical em 2018, ao lado de nomes como O Corre, ATR, Samba de Dandara e Castello Branco, por exemplo. Em São Paulo, a plataforma já ofereceu recursos para 26 projetos até 2019, como Elza Soares, O Terno, Curumim e Rael. “Este projeto, assim como os demais selecionados pelo edital Natura Musical, tem a potência de gerar impacto positivo no ecossistema onde está inserido. Isso se traduz em ações de inclusão, apoio à diversidade e educação. São pilares que impulsionam as mudanças que desejamos vivenciar no mundo”, afirma Fernanda Paiva, gerente de Marketing Institucional da Natura.
Sobre Felipe Antunes
Músico, cantor, compositor e pesquisador. Com sua banda Vitrola Sintética teve três indicações ao Grammy Latino; por sua direção musical em Mãe Coragem, de Daniela Thomas, com Bete Coelho, foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro. É graduado e tem pós-doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade de São Paulo em parcerias com o Ipen, Universidade Aveiro e Universidad Autónoma de Madrid. Tem recentes colaborações artísticas com artistas de Angola, Argentina, Holanda, Moçambique e Guiné-Bissau. Em carreira solo lançou Cru (2018) – participações de Xis, Lenna Bahule e Kika; e Lâmina (2016) – participações de Ná Ozzetti, Hélio Flanders e Bocato.
Sobre Nástio Mosquito
Nástio Mosquito é um artista. Ele também se auto intitula como consultor ou cozinheiro caótico, que mistura vários ingredientes para fazer uma comida gostosa, que às vezes funciona! Trabalha com música, performances ao vivo, palavras cantadas, vídeos e artes visuais e todas as intersecções destas artes. Já participou da Bienal de São Paulo, Bienal de Veneza e esteve em museus como Tate Modern e MoMA. Seus álbuns até então lançados: Gatuno Eimigrante & Pai de Familia (2016); Se Eu fosse Angolano & S.E.F.A. Fast Food (2013); Deixa-me Entrar (2012) e Saindo do Armário (2011).
Sobre Natura Musical
Natura Musical é a principal plataforma de patrocínio da marca Natura. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu cerca de R$ 143 milhões no patrocínio de 460 projetos – entre CDs, DVDs, shows, livros, acervos digitais, documentários e projetos de fomento à cena. Os trabalhos artísticos renovam o repertório musical do País e são reconhecidos em listas e premiações nacionais e internacionais. Em 2020, o edital do programa selecionou 41 projetos em todo o Brasil. A plataforma digital do programa leva conteúdo inédito sobre música e comportamento para mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais. Em São Paulo, a Casa Natura Musical se tornou uma vitrine permanente da música brasileira, com cerca de 120 shows ao longo de 2019.