Violeta, novo romance de Isabel Allende, apresenta uma forte personagem feminina

13 novembro 2022 às 00h00

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Mariza Santana
Especial para o Jornal Opção
Violeta Dell Valle, centenária, escreve cartas para Camilo, narrando os principais acontecimentos de sua vida no Chile. Nascida em uma família rica e tradicional da capital Santiago durante a pandemia da gripe espanhola, ela testemunha a derrocada financeira do seu pai durante os acontecimentos provocados pela Queda da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e se refugia com sua mãe e tias em uma região remota do Sul do país, no que apelidou de “Desterro”. Em seguida, se casa, se envolve em uma aventura amorosa, tem filhos, convive com os horrores da ditadura de Pinochet e testemunha o retorno da democracia ao seu país.
Em linhas gerais, esse é o enredo de “Violeta” (Bertrand, 322 páginas, tradução de Ivone Benedetti), mas como foi escrito por uma excelente contadora de histórias, a escritora nascida no Peru e criada no Chile, Isabel Allende, o romance é envolvente ao narrar a longa vida dessa mulher forte, que aprende com as adversidades, ama, sofre e luta; por isso as leitoras conseguem se identificar com ela e se inspirar nos seus ideais feministas. O romance é o último lançamento da escritora, que completou 80 anos de idade no dia 2 de agosto último, e atualmente mora na Califórnia, nos Estados Unidos.

Autora do aclamado livro “Casa dos Espíritos”, que inspirou o filme homônimo protagonizado pela atriz Melry Streep, Isabel Allende tem uma obra extensa e muitos prêmios literários. Seus livros já venderam mais de 75 milhões de exemplares, o que a torna a escritora mais lida de língua espanhola. Entre seus melhores romances, podem ser citados “De amor e de sombra”, que também virou filme estrelado por Antônio Banderas; “Filha da Fortuna”, “Retrato em Sépia”, “Inês da minha alma” e “Longa Pétala do Mar”.
Mas, voltemos à “Violeta”, lançamento de Isabel Allende, obra que demonstra a vitalidade criativa da escritora. Quando é revelada a identidade de Camilo, o destinatário das cartas da senhora centenária que narra suas memórias, entendemos o motivo de tanto carinho ao contar os detalhes de sua vida. Vale destacar as reflexões da personagem, que se torna uma ativista dos direitos das mulheres, especialmente da luta contra a violência doméstica. Elas mostram um pouco do pensamento da escritora, que hoje se encontra na terceira idade.
“Segundo o poema de Antonio Machado, não há caminho, o caminho se faz ao andar, mas no meu caso não fiz caminho, transitei por veredas estreitas e tortuosas que com frequência se apagavam e desapareciam no matagal”, diz a missivista Violeta, já nas páginas finais do romance. Em outro trecho, a personagem, relembrando os últimos momentos felizes de sua velhice, cita uma frase do companheiro que já tinha morridoi: “Não acredites que és especial ou melhor que os outros; lembra-te que é sobre o prego mais saliente que cai a martelada.” Uma pequena lição de humildade que, com certeza, serve para todos nós.
“Violeta” é um daqueles romances que se lê com prazer, transitando entre os familiares, amigos e amantes da protagonista centenária, enquanto os acontecimentos pessoais, e também os eventos históricos do mundo e do Chile, são o cenário para o grande espetáculo que é a vida humana, narrada com sensibilidade e paixão.
Mariza Santana é jornalista e crítica literária. E-mail: marizassantana.gmail.com