Vai ser um mico essa Copa? Ou entrará em cena o jeitinho brasileiro para maquiar os problemas e vender ao mundo uma imagem de normalidade?

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Geraldo Lima
Especial para o Jornal Opção

Eu não sei se você, caro leitor, vive já em estado de apreensão com o que possa acontecer durante a tal Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Talvez você até responda, curto e grosso, que esse assunto não lhe interessa nem um pouco, que tem coisas mais importantes e urgentes para fazer.

Louvo, nesse caso, sua capacidade de se manter desligado de todo esse imbróglio em que nos metemos. Eu, da minha parte, sinto a pressão psicológica a cada notícia ruim a respeito desse mundial de futebol. Pior para mim, que não aprendi a me manter distante e alienado dos problemas que assolam nosso país. Problemas que só se avolumam. E o atestado de incapacidade para resolvê-los, por parte dos que se dizem gestores públicos, vem de longa data. Os versos do poeta baiano Gregório de Matos Guerra, já no século 17, não me deixam mentir: “A cada canto um grande conselheiro./ que nos quer governar cabana, e vinha,/ não sabem governar sua cozinha,/ e podem governar o mundo inteiro”.

Embora pareça, não sou dos que acham que construir estádios modernos, “padrão FIFA”, seja algo ruim. Futebol, por estas plagas, é paixão nacional e não tem conserto — melhor, então, oferecer boas acomodações aos torcedores. Que isso faz parte também do panis et circensis todos nós sabemos. É o ópio do povo? Sim, e vivemos entorpecidos aos milhões.

Então, o que está pegando? Ah, é o que já falaram: a falta de contrapartida, por exemplo, em termos de verdadeira melhoria na vida dos que sofrem em filas de hospitais públicos. Víssemos, a cada inauguração de um belo e moderno estádio, a inauguração de um moderno e equipado hospital público, nada teríamos a reclamar. E nem é preciso falar da situação sempre crítica da nossa Educação, necessitando de aparato tecnológico e pedagógico de país com vocação para o desenvolvimento.

Vai ser um mico essa Copa? Ou entrará em cena o jeitinho brasileiro para maquiar os problemas e vender ao mundo uma imagem de normalidade? Em se tratando de Brasil, tudo é possível. Vivo, caro leitor, momentos de extremo pessimismo. Vergonha alheia é o que me assalta sempre. Será que vamos perder a chance de dar um salto de qualidade e mudar a cara desse país? Ou será que a cara dele é re­almente essa em que todos se acham no direito de bater? Indignação é o que me tira o sono nessas horas. Pior para mim, não é?

Geraldo Lima é escritor, dramaturgo e roteirista.