Nilson Gomes-Carneiro

Especial para o Jornal Opção

A multidão que compareceu à Avenida Paulista na tarde de domingo 25/2 para prestigiar Jair Bolsonaro começou a se juntar em 2013, quando ele era deputado federal e na Presidência da República estava Dilma Rousseff. Por isso, parecem ter sido escritos ontem os textos do jornalista Rogério Lucas, enfeixados no livro “Dilmômetro” (Contato Comunicação), a ser lançado nesta segunda-feira, 26/2, às 19h30, na Assembleia Legislativa. A gênese da polarização lulismo-bolsonarismo emerge de cada das quase 100 páginas da obra. Quem comparecer pode circular entre personagens de então: o evento será em conjunto com a entrega dos prêmios de “Político do Ano”, tradicional em Goiás, sem a picaretagem que caracteriza essas escolhas.

Os artigos foram publicados no já quase morto Facebook, que à época das publicações, entre dezembro de 2015 e abril de 2016, ainda estava com o pé na cova, assim como o atualmente insepulto X, já que o Twitter está mortinho da silva e enterrado de souza. Rogério Lucas é um romântico, tem esperança de que alguém consuma livros em papel – sim, existe, assim como os unicórnios azuis. Como explica na abertura do livro, está fazendo o caminho inverso. Vamos juntos. No caso de Dilma, já foi, está no comando do banco dos Brics, a aliança de Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e quem mais queira entrar nesse ônibus rumo ao nada. O período abrange da hora em que Dilma alça voo e tenta escapar da Air Fryer pulando no abismo. Para antes de alguém passar a crer em alguma coisa, até ter de decidir entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, ou seja, quando ninguém ficava abismado com mais nada.

Rogério dispõe de múltiplos talentos. Gastou coluna cervical nos bancos de faculdades para cursar Medicina Veterinária, Jornalismo, Direito e Gestão Pública, quase duas décadas de estudos que atualmente podem ser resumidas em cortes de videoaulas grátis no YouTube ou nos fins de semana em EAD, a maravilhosa educação a distância. Trabalhou em rádios e jornais, inclusive aqui no Jornal Opção. Teve cargos nos governos do Estado e de Goiânia. Mas seu destaque mesmo é na aguçada análise da rotina política, exatamente o conteúdo do “Dilmômetro”, com direito a degustação. De gorjeta, o fim do livro traz um QR Code com “outros textos e diversas imagens da época”. Nesse particular a editora Contato caprichou, pois ilustrou as temáticas com manchetes de jornais.

Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff: adversários conectados | Fotos: Reproduções

Ascensão de Bolsonaro resulta da queda de Dilma

A crise que desaguaria no impeachment de Dilma Rousseff começou a ser desenhada em manifestações populares e está em detalhes tecidos por Rogério Lucas. Faltou ao PT o olhar atento de um fotógrafo de conjuntura com semelhante grau de sensibilidade.

Em cada traço, a conclusão é que Dilma é a mãe de Jair Bolsonaro. Sem o fracasso dela, não teria havido a ascensão dele. O período coberto na obra é curto, mas o alcance do que demonstra está desfrutando de permanência tão longa que certamente se estenderá muito além do verde-amarelo da Paulista no recente domingo.

Nilson Gomes-Carneiro é advogado. É colaborador do Jornal Opção.