Previdência, política e o velho engodo
18 março 2017 às 10h18
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Se até mesmo Deus (para os cristãos e budistas) também descansou após o trabalho de criar o mundo, tendo exercido, segundo escrituras e pergaminhos sagrados, o shâbath, também eu, simples e errante humano mortal quero, se estiver vivo, usufruir do meu descanso, da minha aposentadoria
Leonardo Teixeira
Especial para o Jornal Opção
Atualmente quase todos nós estamos conectados e antenados com o cenário político e econômico do mundo. Um estrondo no Japão, uma crise na China, assassinato na Coreia, uma bomba na Síria, avalanche no Himalaia asiático, e finalmente as propostas malignas das reformas políticas brasileiras…
Todos nós, de algum jeito, nos posicionamos (contra ou a favor: quem fica no meio do muro também é alvo de achincalhes na internet). Direita, esquerda, centro, coxinha, mortadela, petralha, corrupto, fanático, cego, burro, homofóbico etc. Os comentários agressivos são publicados com direitos a insultos recíprocos e ações judiciais de indenização. Muitos comentários comparam seres humanos com dejetos (estrumes), detritos, objetos putrefatos, animais, e maldizem atributos maternos e fraternos (falando assim de uma maneira mais leve).
A mídia manipula o costume e formata o homem mediano e padronizado, já citado no direito penal. Vemos as insistentes matérias de produtividade e longevidade de um ou outro (raro) ancião que ainda trabalha e não quer se aposentar. Seja por falta do que fazer (um hobby por exemplo), seja opção solitária de vida, ou mero e heroico pensamento de ajuda governamental.
Se até mesmo Deus (para os cristãos e budistas) também descansou após o trabalho de criar o mundo, tendo exercido, segundo escrituras e pergaminhos sagrados, o shâbath (palavra hebraica para o descanso no sétimo dia; inclusive levado à risca pelos adventistas). Eu também, simples e errante humano mortal quero, se estiver vivo, usufruir do meu descanso, da minha aposentadoria. Não como pretendem os governantes, mas como já conquistaram seus direitos: as últimas (e mais recentes) gerações.
Já vivemos e pagamos mais de cinco meses de cada ano para pagar impostos (o governo e os bancos são nossos maiores sócios). Contribuímos forçadamente para pagar as regalias e luxos dispendiosos de mais de 64 mil políticos brasileiros. Somamos juntos um montante de 20 bilhões por ano com esses políticos. Em 2013 foi divulgado nos maiores jornais do país que o orçamento de 8 bilhões do Congresso representava o gasto de 23 milhões de reais por dia, ou 16 mil reais por minuto. O gasto com o Bolsa Família foi menos do que isso. Foi divulgado também que o valor pago a 1600 políticos era o mesmo que sustentava 14 milhões de famílias (famílias, e não pessoas!). O valor diário do congresso pagaria um ano de estudos de 12 mil alunos (do ensino médio da rede pública) e 1700 alunos universitários. Isso sem falar que o fundo partidário, que era de quase 300 milhões foi para 1 bilhão. Em 2014 só o órgão superior da presidência gastou 7 bilhões com carros oficiais, seguranças, passagens etc. (isso sem contar os 3 milhões anuais pagos aos ex-presidentes.
Apesar de cada deputado receber um salário de quase 34 mil reais, fora as verbas indenizatórias, há deputado (Afonso Motta) que é ressarcido pela compra de dois míseros pães de queijo. Diego Garcial pediu ressarcimento com a média de seis notas fiscais por dia. Luciana Santos fez 604 abastecimentos em 2016. O combustível gasto daria mais voltas na terra do que muitos astros do universo.
Em plena crise financeira, os políticos não aceitam cortar suas verbas, luxos, adornos, serviços desnecessários e regalias. Auxílio moradia a salários tão altos podem até ser legais, mas são absolutamente imorais. Pois tais leis são feitas para beneficiar essa mesma turma, que se aposenta bem cedo (todos novos) e trabalhando pouco. Isso sem falar dos recessos e férias. Mas para o povo: esse não… Deve trabalhar e contribuir por 49 anos e 65 anos de idade. Já pensou quantos políticos já se aposentaram antes dos 50?
Assim quer a proposta aviltante da reforma da previdência. Eles dizem que a Previdência Social está em deficit, assim como a cara de pau deles está em deficit de moralidade. As 500 maiores empresas devedoras da previdência somam a quantia de 426 bilhões. Somando também o COFINS, PIS PASEP, Contribuição sobre o lucro líquido, entre outras, ultrapassa a quantia de 1 trilhão de reais, sendo essa dívida injustamente sendo cobrada do povo contribuinte. Querem que os trabalhadores futuramente paguem um suposto deficit de 150 bilhões.
A Previdência Social teve um superavit (de 2005 a 2015) de 658 bilhões de reais. Ou seja, sobrou esse dinheiro em dez anos. Mas o governo usou (e desviou) esse dinheiro para pagar dívidas públicas, fomentar obras em outros países e outros bolsos. A chamada “auditoria cidadã” da dívida jamais será aprovada, pois a Lava Jato seria uma fichinha perto disso tudo. Quem usufrui dessa verba monstruosa? Aqueles em quem votamos nos outubros dos anos.
Da minha parte, pequeno escriba goiano, não quero pagar essa conta alheia, nem acreditar nas mentiras ditas abertamente, aos trampos e montanhas, nos discursos salpicados de uma verborragia retórica (oriunda sei lá: de Mefisto), sendo tragada pela garganta popular desinformada, pelos olhos comovidos com as cenas das telinhas. E aos engravatados da embromação (e do engodo): bananas! Nesta hora sim, existe uma vontade insistente em direcioná-los aos mesmos dejetos e detritos (às favas!) que lemos nas centenas de comentários por aí. Até a próxima página!
Leonardo Teixeira é escritor e escrivão de polícia.