Nega Lilu Editora na busca por autores inéditos
29 outubro 2016 às 10h20

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Até janeiro seguem abertas as inscrições para edital que publica novos escritores literários goianos. O desafio da vez é mobilizar nomes do interior do Estado
Yago Rodrigues Alvim
As celebrações foram muitas e ternas. Pais e filhos, amigos e namoradas e namorados comemoravam o feito dos jovens que ali se estampavam em páginas, fossem elas de poemas, de contos ou crônicas. Lembro-me bem de dançar no quarto, ao ver pouco mais de um ano antes o meu nome listado entre os selecionados no edital, que publicaria as antologias “Os olhos do bilheteiro” e “As dores de Josefa”.
Os títulos vieram, então, um ano depois, ao público, em agosto de 2016, pelo selo Naduk, da goiana Nega Lilu Editora. Marcava ali uma nova etapa da jornada empreitada por Larissa Mundim, ela que prenunciava “fazemos livros lindos” em 2013, quando deu início à editora, com o romance “Sem Palavras”. Sucederam-se títulos. E, no ínterim, a cadeia da produção literária rangeu suas necessidades nos dentes.
Projetos de ações formativas e de fomento de novos autores ao escoamento da obra e de estímulo à leitura foram laborados e colocados em pauta e prática, em diversos cantos da cidade. O edital, que deu à luz as duas antologias e, ainda, ao selo, vestiu feito luva a essa vontade de fazer de Nega Lilu uma editora que entende o mercado livreiro tupiniquim.
Na epígrafe, “fazer sem saber que era impossível” diz a respeito dos 22 novos autores, que concorreram ao edital de 2014 e 2015. “Os olhos do bilheteiro” reúne poesias, já “As dores de Josefa”, contos e crônicas. Alguns autores foram convidados por Larissa, que lança agora uma nova chamada. A busca é por novos textos literários para comporem o volume 2 da Coleção e/ou, da qual fazem parte ambas as obras.
As inscrições seguem até 17 de janeiro de 2017. O desafio da vez é mobilizar, além dos goianos da capital, os escritores inéditos, ou ainda os éditos com até três anos de atuação no campo literário, do interior de Goiás e os escritores que nele residem. Sem custo, as inscrições são realizadas por meio eletrônico. No site da editora, encontra-se o novo edital.
O que a Nega Lilu alcançou com as duas antologias?
Com a publicação dos editais de 2014 e 2015 e com o lançamento das antologias, avaliamos que o número de inscritos confirmou a efervescência na produção literária, em Goiás, sobretudo na poesia. Ou seja, há potencial de renovação. As obras inauguram a Coleção e/ou, que tem por objetivo reunir novos talentos da literatura goiana e escritores convidados, em antologias de poesia e prosa, e ainda o catálogo do Selo Naduk, que é dedicado a novos autores e a projetos editoriais com caráter experimental.
O processo também colaborou para a criação do Coletivo e/ou, um grupo que trabalha intervenção urbana por meio da literatura e das artes visuais. O grupo está em atividade e, durante o período eleitoral, por exemplo, realizou intervenção em bairros periféricos de Goiânia, provocando reflexão sobre o prazer de votar bem.
Dentre os impactos mais positivos do processo, destaco a criação de um programa permanente de atividades de formação e qualificação de novos autores. Desde 2014, a editora promoveu mais de 50 ações, juntamente com parceiros diversos: bate-papos com escritores, cursos, oficinas, palestras, feiras de publicações independentes.
E o que a editora busca, agora, com a nova chamada?
Para o edital de 2016, um de nossos desafios é alcançar de forma mais ampliada a produção literária de qualidade que está ativa fora da capital e da região metropolitana de Goiânia. As duas primeiras antologias publicadas fazem registro do trabalho de jovens escritores residentes em municípios como Bela Vista de Goiás, Anápolis, Trindade, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, bem como de goianos residentes em outros Estados e no Distrito Federal. Agora temos a ambição de ir mais longe.
Isso, de ir mais longe, significa não somente mobilizar aspirantes a escritores nas outras regiões do Estado, mas avançar no mapeamento de autores e autoras ativos, em Goiás, promovendo a conexão desta rede. Como editora, a Nega Lilu se interessa, naturalmente, pela produção literária, mas apoia iniciativas que impactam na cadeia produtiva integralmente, ou seja, iniciativas que visam a qualificação de leitores, articulação entre autores e entre autores e leitores, além da circulação da obra literária em todo o Brasil.
E qual a expectativa, quanto a uma nova obra, e o que se propõe desvendar desses novos autores?
Nossa expectativa é de realizar um trabalho ainda mais qualificado: processo democratizado de seleção, com critérios bem definidos, conselho editorial legítimo, divulgação ampliada pela imprensa. A realização de um trabalho qualificado, de ponta a ponta, nos oferece boas condições de aprovação deste projeto junto aos mecanismos de incentivo à Cultura, como ocorreu no volume 1 de prosa e poesia.
Também esperamos acessar trabalhos inéditos que sejam capazes de melhor posicionar Goiás no mapa da literatura contemporânea brasileira. A editora tem interesse em investir no voo solo de autores que possam ser “revelados” na publicação de antologias, como já também ocorreu no volume 1.
E qual a expectativa do edital, que ficará um tempo maior aberto e que já conta com a divulgação, por meio do caminho andado com as obras do volume 1?
Desta vez estendemos o prazo de inscrição para fazer um trabalho ampliado de divulgação no interior do Estado. Esperamos também que três meses seja um tempo generoso para que os autores e autoras revisitem seus textos, se encorajem a participar do concurso, com condição de nos enviar poemas, crônicas e contos de alta qualidade.
O conselho editorial promete uma seleção ainda mais criteriosa do que nos editais anteriores. Isso porque o potencial da produção está confirmado e queremos fazer da Coleção e/ou um registro de quem tem reais condições de renovar a cena literária goiana.
E quanto aos autores do interior do Estado, o que isso significa?
Queremos ter notícias da literatura que está sendo feita em todas as regiões do estado. A Coleção e/ou é instrumento estratégico que colabora para amenizar a invisibilidade de quem escreve também fora da capital. Acredito nisso e pretendo fazer um trabalho de divulgação ampliada, que deverá impactar em outros projetos que temos, como a e-cêntrica, que busca formas alternativas de circulação da literária independente e tem como ideia o mapeamento de autores independentes e de nano editoras em atividade em Goiás.