Na década de 70, grupo já ignorava regras da “boa comédia” e satirizava instituições de poder da sociedade

Jonh Cleese, Graham Chapman, Terry Jones, Eric Idle e Michael Palin. Foto Reprodução.

O manual da construção da boa comédia ensina que o humorista deve seguir fórmulas para alcançar o sucesso com o público. A mais conhecida delas é o setup + punch line, que consiste na introdução do cenário arrematado pelo desfecho cômico. No entanto, foi ignorando essas regras que o grupo Monty Python ganhou a Inglaterra e o mundo na década de 70.

Monty Python estreou na TV  em 1969 com a série de esquetes Monty Python’s Flying Circus, da BBC. O grupo era composto pelos britânicos Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones e o norte-americano Terry Gilliam, responsável pelas animações do programa. Não demorou muito para que conquistassem o cinema, o qual também subverteram com os longa-metragens “E Agora para Algo Completamente Diferente” (1971), Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), A vida de Brian (1979) e Monty Python – O Sentido da Vida (1983).

“A única coisa em que todos concordamos, era que o nosso principal objetivo era ser totalmente imprevisíveis e nunca repetir” disse o python Terry Jones —  que morreu em janeiro de 2020 em decorrência de uma demência frontotemporal rara —  ao The New York Times em 2009.

Da mesma forma como John Cleese fez do funeral do primeiro colega do grupo a morrer, Graham Chapman, de cenário para um stand-up, ele também não deixou de brincar com a morte de Jones “dois já foram, faltam quatro” escreveu no twitter. Essa era a essência dos pythons: brincar com o inimaginável e misturar o inteligente com o bobo em uma mesma história.

Cleese ainda falou que o maior presente que Jones deixou foi a direção de A Vida de Brian, sátira bíblica que chegou a ter a exibição proibida em Glasgow. 

Abençoados sejam os queijeiros

Com piadas ácidas, o Monty Python fazia críticas a diversas instituições da sociedade, em suas esquetes chegaram a introduzir a Inquisição Espanhola para “condenar” os personagens. Com a liberdade criativa do cinema, eles foram além, em A Vida de Brian Jesus é confundido e os fiéis passam a seguir uma pessoa completamente comum, Brian. O filme causou polêmica por “tirar sarro de Deus” e muitas pessoas defendiam a produção fosse derrubada, com a mesma fúria que, recentemente, conservadores defenderam a censura de A Primeira Tentação de Cristo, do grupo humorístico Porta dos Fundos.

No entanto, em A Vida de Brian a figura de Jesus só aparece no início do filme e o foco era apenas criticar as distorções que muitas pessoas fazem dos discursos religiosos em geral. Na cena em que tem o personagem de Jesus, ele está recitando um sermão tal como na bíblia e a piada reside em ouvintes que não conseguiam ouvir o que ele falava e acabavam reproduzindo frases como “abençoados sejam os queijeiros”.

Brian (Graham Chapman) e sua mãe, Mandy Cohen (Terry Jones). Foto: Reprodução.

Outra ofensa aos bons costumes católicos, foi o fato da mãe de Brian-Jesus ser, na verdade, um homem (Terry Jones) travestido de mulher.

Apesar dos gritos enraivecidos contra o filme, ele se tornou o maior sucesso financeiro do grupo. Monty Python inspirou diversas comédias posteriores e Terry Jones deixou um verdadeiro legado para os comediantes.